terça-feira, 5 de maio de 2009

Amor, Sublime Amor



Estreia - 25/12/1961 - Até hoje o musical mais premiado da Academia, com dez prêmios em onze indicações (só perdeu na categoria de roteiro adaptado, vencendo em filme, diretor, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, direção de arte, fotografia, figurino, edição, trilha sonora e som) pode não ser o melhor musical de todos os tempos (pelo menos na minha opinião), mas é um clássico indiscutível. Essa adaptação da maior história de amor já contada, a obra-prima de Shakspeare, Romeu e Julieta foi o primeiro musical que saiu da Broadway para Hollywood e foi o primeiro filme co-dirigido a vencer na categoria melhor diretor do Oscar - feito igualado 46 anos depois pelos irmãos Coen em Onde os Fracos Não Têm Vez. Isso aconteceu porque Jerome Robbins foi demitido no meio das filmagens, com orçamento estourado e datas atrasadas, tendo completado 60% do trabalho.

Inicialmente contava a história do amor proibido de um garoto católico e uma garota judia, com o nome de East Side Story. Porém, devido à imigração porto-riquenha nos Estados Unidos na década de 1940, a trama sofreu uma adaptação e conta a história de uma gangue de ilegais daquele país e outra de poloneses. Suas canções se transformaram em sucessos absolutos e suas cenas de dança foram recebidas com muito entusiasmo pelo público tão acostumado a Fred Astaire e Gene Kelly. Volta e meia nos deparamos com regravações das principais músicas, principalmente a "trinca de ouro", apresentada em sequência no ápice de Amor, Sublime Amor: Maria, America e Tonight. A AFI colocou o longa na lista dos 100 melhores de todos os tempos duas vezes (veja a lista de 1997 clicando aqui e a de 2008 clicando aqui), o considerou o 3º maior romance do cinema americano (veja essa lista clicando aqui), e Somewhere (20º), America (35º) e Tonight (59º) três das cem maiores músicas do cinema americano (veja essa lista clicando aqui). Numa lista informal eu considerei esse o 13º melhor filme do século XX (veja minha lista clicando aqui).

Mas não podemos esquecer de Gee, Officer Krupke, a cena mais divertida e inteligente do longa; I Feel Pretty e, principalmente, Somewhere, que é amor em estado bruto. As duas primeiras formavam o epílogo da peça, mas o diretor Robert Wise optou por colocá-las no meio do filme, deixando a conclusão trágica ganhar contornos mais densos. Porém, o filme já conquista até os mais desconfiados na abertura, com aquele resumo instrumental de todas as canções que estão por vir, todas com acordes facilmente reconhecíveis. Além disso, a viagem da Nova York rica para a Nova York pobre, seguido pela mistura de balé e luta onde somos apresentados aos Jets e aos Sharks fazem o filme começar com um ritmo frenético, que só vai cair um pouquinho lá para o fim.

As coreografias são perfeitamente realizadas e se encaixam bem ao ambiente, mesmo nas cenas mais sombrias. Mas Amor, Sublime Amor não deixa de ser uma homenagem ao povo latino, que procura em Nova York uma vida melhor. Digo isso porque o preconceito parte de todos os moradores da cidade, inclusive o Oficial Krupke, responsável por manter a ordem em West Side. Curiosamente, outro grande romance, realizado quase quarenta anos depois, superou esse longa de 1961 ao ganhar onze Oscars e empatar com Ben-Hur como o maior vencedor de todos os tempos. E coincidentemente a dupla de protagonistas foi ignorada nos dois casos. Em Amor, Sublime Amor, Richard Beymer nos traz uma interpretação bem insossa, além de ter sido dublado nas cenas musicais - era Elvis Presley o mais cotado para o papel. Quem assistiu ao tele-filme Elvis sabe que os empresários do Rei do Rock preferiam que ele fizesse aqueles musicais inocentes, que estouravam na bilheteria e vendia muitos discos, do que colocar a marca de Elvis em mais um capítulo da história da cultura americana. Beymer, com 23 anos à época, nunca atingiu sucesso no cinema e até hoje faz ponta na televisão.

Já Natalie Wood (filha de imigrantes russos na vida real e que também foi dublada) tinha a mesma idade mas já era bem mais experiente, pois trabalhava desde criança e tinha sido indicada ao Oscar seis anos antes, por sua atuação ao lado de James Dean em Juventude Transviada. Audrey Hepburn não pode aceitar o papel porque estava grávida à época. O melhor do filme realmente está nas mãos dos coadjuvantes e Wood foi lembrada pela Academia no mesmo ano pelo filme Clamor do Sexo, com Warren Beatty. Quem venceu foi Sophia Loren, provavelmente um prêmio tardio, por sua atuação em Duas Mulheres. Wood ainda seria indicada mais uma vez, mas nunca venceria.

Voltando à produção de Amor, Sublime Amor, hoje fica bem claro que a grande maioria das cenas ocorre num palco com um cenário atrás, provavelmente pelas limitações técnicas da época. Mas por se tratar de uma excelente história e tão bem contada, isso nem é levado em conta, mesmo assistindo ao filme algumas vezes. O cantor que dublou Beymer no papel de Tony tem uma voz muito parecida com a de Johnny Mathis, talvez por isso esse artista volta e meia utilize o repertório do musical. Isso fica muito perceptível em Somethin's Come, outra bela música esquecida no meio de clássicos.

Para quem adora uma cena romântica, o primeiro encontro de Tony e Maria, após uma bela cena de tango, é linda e dá início justamente ao ponto alto do longa. Ao final de Tonight dá vontade de levantar e aplaudir o espetáculo que acabamos de presenciar. A conclusão trágica começa a se desenhar no meio do filme e se mostra inevitável quando Maria, ao mostrar a mania comum a todas as mulheres, complica tudo e pede que Tony acabe com a rixa marcada para aquela noite, um dia depois deles terem se conhecido. Nessa hora, outra cena que quase ia esquecendo de comentar surge: o falso casamento e as brincadeiras com os manequins da loja onde a moça trabalha, seguida da bela canção One Hand, One Heart.

A morte dos líderes dos Jets e dos Sharks contribui para que Amor, Sublime Amor seja disparado o musical mais sombrio da história do cinema. Mas tem um lado ruim, pois a partir desse ponto o ritmo cai um pouco. Além disso, o número de Cool, já com as gangues sem os carismáticos Bernardo (vencedor do Oscar) e Riff não é no mesmo nível do restante do filme, apesar de abrir alas para um final grandioso. Rita Moreno, outra vencedora, trabalha muito bem mas também é dublada em A Boy Like That. Quando Tony pensa que Maria está morta o brilho e a música some e a tragédia tem fim ao som de um Somewhere à capela.

Nas notas de produção descobre-se que os atores das duas gangues permaneciam divididos durante todo o tempo, para que a tensão entre eles fosse mantida. As filmagens demoraram seis meses e a pós-produção sete. Valeu a pena, já que Amor, Sublime Amor foi a segunda maior bilheteria de 1961 (perdendo para a versão animada de 101 Dálmatas, da Disney). Na França, o filme ficou em cartaz 249 semanas, ou seja, quase cinco anos. Por fim, algumas letras e falas do filme foram modificadas, retirando palavrões e expressões chulas para que a censura liberasse a história de Tony e Maria para o cinema. Falando em Maria, quatro anos depois Julie Andrews viveria outra inesquecível Maria, que também levaria o Oscar de melhor filme e tiraria a Fox do buraco. Mas essa é outra história... Nota 10.


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Um comentário:

John Cine disse...

Cara esse filme é um espetáculo.Show de bola.É o que podemos chamar de Cine Teatro.Interpretações maravilhosas.Coreografia e canções que são um Paraíso.Mesmo sendo um pouco longo vale a pena ver e rever.Os destaques do elenco são George Chakiris,Rita Moreno e Russ Tamblyn.Cenários fantásticos.Figurinos maravilhosos.Só perde pra Cantando na Chuva.