sexta-feira, 22 de maio de 2009

Num Lago Dourado



Estreia - 22/1/1982 (nos EUA) - Num Lago Dourado, elogiado por dez entre dez críticos, é o tipo de filme que clama por ser visto por todos. Não importa se você é um pré-adolescente, como Billy Ray, um homem de meia-idade como o carteiro Charlie, uma mulher quarentona que não se encontrou na vida como Chelsea ou uma pessoa no outono da vida, como Ethel e Norman (cada um à sua maneira).

Os currículos dos três atores que lideram o elenco é simplesmente magnífico. Norman é vivido brilhantemente por Henry Fonda, que venceu o Oscar de melhor ator por esse prêmio mesmo tendo recebido um prêmio honorário no ano anterior (o famoso prêmio de consolação). Fonda é ator mais velho a receber o trofeu (76 anos), mas não pode receber em mãos porque já estava muito doente e faleceu pouco depois. Antes disso ele tinha sido indicado duas vezes, em 1941 pela atuação em Vinhas da Ira e 1958 como produtor de Doze Homens e uma Sentença. Em Num Lago Dourado ele faz o clássico velho ranzinza, que vive lamentando sua velhice, falando da morte e dando patada em todo mundo. Norman na verdade está inconformado com o fato de estar velho e tem medo do que pode acontecer. James Stewart queria muito fazer o papel de Norman, mas como Jane Fonda comprou os direitos da peça, ela aproveitou a oportunidade para trabalhar pela única vez com seu pai.

Ethel é interpretada por Katharine Hepburn e isso significa que você está assistindo a um dos últimos trabalhos de uma das cinco melhores atrizes de todos os tempos (e isso é fato, não dá para deixar Hepburn fora da lista). Ela quase foi substituída por Barbara Stanwyck por conta de uma cirurgia que teve que fazer durante as filmagens. Com Num Lago Dourado Hepburn ganharia seu quarto Oscar, depois de vencer em 1934, 1968 e 1969 - no total foram doze indicações, todas como atriz principal. Foram 3 BAFTAs (um por essa produção), um prêmio em Cannes, 1 Emmy, 1 prêmio em Veneza e oito indicações ao Globo de Ouro. Sua personagem parece levar numa boa a velhice e até sente prazer em relembrar o passado glorioso na casa à beira do lago.

O sentimento de nostalgia toma conta do longa nos primeiros vinte minutos. Com diálogos bem humorados do casal de protagonistas, percebe-se logo que Num Lago Dourado tem um ritmo próprio, baseado mais nas discussões dos personagens do que em algum tipo de acontecimento. A presença dessas duas grandes estrelas, inspiradas como pouco se viu nas telas de cinema, é sensacional. Porém, a história mesmo começa com a chegada de Chelsea, filha do casal, para o aniversário de 80 anos de Norman.

Chelsea é vivida por outra excepcional atriz, Jane Fonda. Foram dois Oscars de melhor atriz (em 1972 por Klute - O Passado Condena e em 1979 por Amargo Regresso), além de outras cinco indicações. Coloque aí mais sete Globos de Ouro, dois BAFTAs e um Emmy. Sua personagem é traumatizada por ter sido uma criança gorda e não conviver bem com o pai. Ela levou essa amargura por toda a vida e não consegue demonstrar carinho por Norman (e é dessa forma que ela o chama), tratando o mesmo com agressividade (e recebendo patadas de volta).

De namorado novo, Chelsea decide viajar e deixar o futuro enteado, Billy Ray (Doug McKeon), morando um mês com os pais. Em seus momentos mais contemplativos, Num Lago Dourado utiliza uma bela trilha sonora com imagens lindas da natureza, som dos pássaros em um cenário perfeito para se passar toda a vida. O compositor Dave Grusin foi indicado ao Oscar oito vezes (inclusive por essa produção) entre 1979 e 1994 e venceu em 1989 por Rebelião em Milagro (os outros seis foram: O Céu pode Esperar, O Campeão, Tootsie, Susie e os Bakers Boys - pelo qual ganhou um Grammy, Havana e A Firma). Destaque também para as trilhas de A Primeira Noite de um Homem e Três Dias do Condor.

O diretor Mark Rydell (que antes fez Os Cowboys e A Rosa) encontra um excelente equilíbrio entre esse momentos e o drama familiar que recheia o longa, sendo também lembrado pela Academia. Uma das qualidades do roteiro de Ernest Thompson (que adaptou sua própria peça da Broadway) é não tomar partido de nenhum dos lados. Por serem mais frágeis, os pais geralmente são retratados como injustiçados em filmes desse tipo. Em Num Lago Dourado tanto Chelsea quanto Norman são culpados que enxergam a própria culpa mas adiam a solução desse problema.

Sabe o clichê do "ele se foi e eu nunca disse 'eu te amo'"? Então, é isso de uma maneira muita mais complexa. Uma pena que essa relação pai-filha tenha sido pouco explorada no filme (apesar de ser a alma de Num Lago Dourado). Mesmo assim o roteiro venceu o Oscar em sua categoria (além dos três prêmios foram sete indicações: melhor filme, Jane Fonda como atriz coadjuvante, diretor, edição, trilha, som e fotografia). Os três protagonistas levaram o American Movie Awards, Hepburn ganhou o BAFTA (mais cinco indicações), três Globos de Ouro (filme de drama, ator de drama e roteiro) com outras três indicações, Dave Grusin foi indicado ao Grammy, Rydell venceu o prêmio do Sindicato de Diretores e Thompson o de roteirista (além de um National Board of Review para Henry Fonda). Talvez uma das grandes injustiças da história do Oscar foi Carruagens de Fogo vencer o prêmio de melhor filme em um ano em que, além de Num Lago Dourado, Warren Beatty "jogou nas onze" no maravilhoso Reds.

Julie Andrews e Christopher Plummer reeditariam a dupla de A Noviça Rebelde em uma produção para a TV de Num Lago Dourado, transmitida em 2001. Por falar da morte iminente, o filme é muito tocante e a beleza do lugar (que fica na Nova Inglaterra) impressiona. Aliás, a transformação final de Ethel é a melhor coisa no final das contas, já que entendemos o motivo dela conviver tão bem com sua velhice, um assunto pouco falado em Hollywood naquele início da década de 1980 (muitos filmes bons vieram depois desse, como Tomates Verdes Fritos, Conduzindo Miss Daisy e, mais recentemente, Iris, Longe Dela e Vênus). Em cada momento do longa temos a sensação de estarmos assistindo uma aula de interpretação incomparável. A mensagem que fica de Num Lago Dourado é que nossos pais nunca deixam de ser nossos pais e grandes atores nunca deixam de ser grandes atores. Nos dois casos só podemos lamentar e evitar suas ausências. Nota 9


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Um comentário:

Anônimo disse...

como posso baixar esse filme MARAVILHOSO