Estreia - 17/4 - Nos primeiros minutos de Divã fica nítida a autoria do texto original. A narração da personagem Mercedes (Lília Cabral) entrega a agilidade e facilidade de usar as palavras de Martha Medeiros, que escreve na Revista O Globo todos os domingos. Como acontece em suas colunas, não é tudo que ela fala que eu gosto e concordo, mas admito que é uma leitura fácil, por ser direta e usar o cotidiano mais comum possível para desenvolver suas ideias.
Percebe-se também que Divã utiliza muita coisa da peça de teatro (que é uma adaptação do livro). Geralmente transposições dessa forma de linguagem para o cinema são bem sucedidas, até mesmo no Brasil, com o filme A Partilha - que conta com a mesma Lília Cabral no elenco. Porém, Divã centraliza as ações na protagonista e o roteiro cai na perigosa armadilha do "ame ou odeie" a figura principal. Eu chego perto de odiar e explico o porquê mais à frente.
Primeiro, os elogios. O longa é a segunda produção nacional do ano a atingir a marca de um milhão de espectadores. A arte dos créditos é linda. Digo isso porque está virando rotina no cinema brasileiro esse capricho gráfico, o que é ótimo. Já alguns enquadramentos não são bem feitos. O principal exemplo é quando Mercedes está no meio da consulta e os closes de seu rosto deixam parte da fisionomia dela fora da tela. Parece besteira, mas é um defeito estético que não fica bem.
A história mesmo é daquelas que me revoltam um pouco. Mercedes tem dificuldades como todo ser humano. A mais comum talvez seja não gostar de sua profissão - o amor dela está nas artes plásticas e não em ser professora particular de matemática. Como Martha Medeiros é uma espécie de "Paulo Coelho do mundo material", ela adora dar voz a mulheres que buscam independência e clamam por mais felicidade, mesmo sem saber como, onde nem porque estão infelizes e vão buscar a tal independência.
Será que Mercedes procura problemas onde não tem? Eu creio que sim. Suas divagações no divã permitem a ela uma reflexão que faz mais mal do que bem. O roteiro inteligentemente não dá voz ao Dr. Lopes, deixando o papel de Lília Cabral praticamente sozinha em seus pensamentos. Uma coisa também comum em filmes brasileiros é o chamado "toque trágico" e ele já começa pela trilha sonora, que não condiz com uma produção que é vendida como uma comédia.
Falando nisso, Divã é realmente engraçado. Tudo bem, a maioria das piadas é dependente do palavreado mais sujo que só é permitido no cinema e no teatro (mas programas e canais de televisão vêm mudando isso), só que isso não importa. É engraçado sim. Porém, tudo quase vai por água abaixo pela falta de sentido em alguns atos da protagonista. Uma neurose que corroi seu casamento, o pensamento mais individualista que a leva a um adultério, ao consumo de drogas e a lugares que ela não quer estar (aliás, a cena mais engraçada se passa justamente numa boate gay).
Lília Cabral está fantástica no papel, se expondo na medida certa em um filme que promete marcar sua carreira definitivamente. Quando as coisas não dão certo e Mercedes se torna mais amarga do que antes, a atriz tem a oportunidade de mostrar seu repertório dramático e não decepciona. Se não fosse Cabral e sua maneira adorável de conduzir a história, Divã seria bem pior.
Acredito que de ruim mesmo no filme temos apenas essa bobeira de celebrar imperfeições e puxar sardinha para a doutrina do "carpe diem", que permite grandes aventuras mas que trazem consequências avassaladoras. O que me assusta é que tanto os realizadores do filme (e incluo a autora do livro Martha Medeiros) quanto a grande maioria do público parece não se dar conta do quanta coisa fracassa na vida de Mercedes. Todo mundo ri o tempo todo, mas quem se arrisca a seguir o que é dito naquele divã? Nota 6
Percebe-se também que Divã utiliza muita coisa da peça de teatro (que é uma adaptação do livro). Geralmente transposições dessa forma de linguagem para o cinema são bem sucedidas, até mesmo no Brasil, com o filme A Partilha - que conta com a mesma Lília Cabral no elenco. Porém, Divã centraliza as ações na protagonista e o roteiro cai na perigosa armadilha do "ame ou odeie" a figura principal. Eu chego perto de odiar e explico o porquê mais à frente.
Primeiro, os elogios. O longa é a segunda produção nacional do ano a atingir a marca de um milhão de espectadores. A arte dos créditos é linda. Digo isso porque está virando rotina no cinema brasileiro esse capricho gráfico, o que é ótimo. Já alguns enquadramentos não são bem feitos. O principal exemplo é quando Mercedes está no meio da consulta e os closes de seu rosto deixam parte da fisionomia dela fora da tela. Parece besteira, mas é um defeito estético que não fica bem.
A história mesmo é daquelas que me revoltam um pouco. Mercedes tem dificuldades como todo ser humano. A mais comum talvez seja não gostar de sua profissão - o amor dela está nas artes plásticas e não em ser professora particular de matemática. Como Martha Medeiros é uma espécie de "Paulo Coelho do mundo material", ela adora dar voz a mulheres que buscam independência e clamam por mais felicidade, mesmo sem saber como, onde nem porque estão infelizes e vão buscar a tal independência.
Será que Mercedes procura problemas onde não tem? Eu creio que sim. Suas divagações no divã permitem a ela uma reflexão que faz mais mal do que bem. O roteiro inteligentemente não dá voz ao Dr. Lopes, deixando o papel de Lília Cabral praticamente sozinha em seus pensamentos. Uma coisa também comum em filmes brasileiros é o chamado "toque trágico" e ele já começa pela trilha sonora, que não condiz com uma produção que é vendida como uma comédia.
Falando nisso, Divã é realmente engraçado. Tudo bem, a maioria das piadas é dependente do palavreado mais sujo que só é permitido no cinema e no teatro (mas programas e canais de televisão vêm mudando isso), só que isso não importa. É engraçado sim. Porém, tudo quase vai por água abaixo pela falta de sentido em alguns atos da protagonista. Uma neurose que corroi seu casamento, o pensamento mais individualista que a leva a um adultério, ao consumo de drogas e a lugares que ela não quer estar (aliás, a cena mais engraçada se passa justamente numa boate gay).
Lília Cabral está fantástica no papel, se expondo na medida certa em um filme que promete marcar sua carreira definitivamente. Quando as coisas não dão certo e Mercedes se torna mais amarga do que antes, a atriz tem a oportunidade de mostrar seu repertório dramático e não decepciona. Se não fosse Cabral e sua maneira adorável de conduzir a história, Divã seria bem pior.
Acredito que de ruim mesmo no filme temos apenas essa bobeira de celebrar imperfeições e puxar sardinha para a doutrina do "carpe diem", que permite grandes aventuras mas que trazem consequências avassaladoras. O que me assusta é que tanto os realizadores do filme (e incluo a autora do livro Martha Medeiros) quanto a grande maioria do público parece não se dar conta do quanta coisa fracassa na vida de Mercedes. Todo mundo ri o tempo todo, mas quem se arrisca a seguir o que é dito naquele divã? Nota 6
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