* Hoje não haverá comentários (o Recontando entrou no ar de madrugada e pode ser considerado um post de quarta) porque não tive tempo de escrever muita coisa útil. Porém, tenho cinco filmes quase prontos para entrarem no blog, o que acontecerá a partir de segunda-feira.
* Estou programando algumas mudanças simples para facilitarem a navegação pelo site, mas não adianto mais coisa pois não sei se conseguirei colocar no ar. O segredo é nunca estar satisfeito.
* Apesar do pouco tempo para divulgação, o blog tem atingido uma média de dez a quinze visitas únicas por dia. Não se acanhe e comente. Eu sei que o blog não traz nada de muito diferente em comparação a outros sites de cinema, mas a ideia aqui é concentrar outras opiniões além da minha, discutindo os filmes - o que só pode acontecer se você comentar.
* Eu sei que por esses dias eu falei muito de filmes e só. Aos poucos eu volto a falar de premiações, listas e um pouco sobre atores e diretores (talvez até com marcadores específicos). O "Opinião" deve voltar comentando algumas notícias e falando mais livremente sobre cinema.
* Depois de quase um ano sem respirar novos ares, saio por aí e volto segunda. Não vou abandonar o blog, ele só ficará parado durante esse feriado. Bom final de semana a todos!
Steve Martin, o rei das refilmagens! O ator que foi bem sucedido recontando O Pai da Noiva, quis homenagear um de seus ídolos, o comediante Peter Sellers, estrelando uma nova versão para o clássico da comédia A Pantera Cor-de-Rosa. O longa original, que deu início a uma série de oito produções (seis com Sellers) é de 1963. Já o remake é de 2006 e teve uma continuação lançada aqui no Brasil no início do ano. Sobre essa eu falo amanhã (já a série clássica eu comento em outra oportunidade). Três meses depois o Recontando está de volta.
Pantera Cor-de-Rosa (1963)
Estreia - 24/2/1964 - A menina dos olhos de Blake Edwards sempre foi A Pantera Cor-de-Rosa. O diretor e roteirista apostou muitas fichas para que essa produção fosse um sucesso e até bem perto do fim da carreira insistiu com a trama da pedra preciosa que, devido a uma falha, possuía por dentro um desenho que lembrava uma pantera. Seu último filme nos cinemas seria O Filho da Pantera Cor-de-Rosa em 1993 (hoje ele tem 86 anos e recebeu apenas um Oscar honorário em 2004 - contando uma indicação em 1983 pelo roteiro de Victor ou Victória).
O longa que deu origem a tudo isso começa de maneira bem objetiva, apenas citando a existência da pedra. Logo com um minuto e meio a abertura mais do que clássica com o desenho animado da pantera e do Inspetor Clouseau, na trilha histórica de Henry Mancini, indicada ao Oscar e ao Grammy. Depois disso, conhecemos o Inspetor de carne e osso, correndo atrás do assaltante de nome Fantasma. Peter Sellers dá o indicativo de que o filme utilizaria o recurso de comédia pastelão sempre que possível (a cena do globo que não para de girar e derruba Clouseau é a prova disso).
Como o roteiro não perde tempo são necessários apenas alguns momentos para descobrirmos que a esposa do Inspetor, Simone (Capucine - mas o papel foi oferecido a Ava Gardner e Janet Leigh) é a verdadeira assaltante de joias, atuando ao lado do amante Charles Lytton (David Niven). Esse surge numa estação de esqui bolando uma forma de conhecer a Princesa (Claudia Cardinale, que não falava inglês e teve que ser dublada) que tem a propriedade da Pantera Cor-de-rosa. Quem aparece para atrapalhar é George (Robert Wagner), sobrinho de Charles.
Com o rosto sempre sério, como se não estivesse numa comédia, o papel de Sellers lembra muito as interpretações de Buster Keaton, um dos maiores comediantes de todos os tempos. Apesar de algumas cenas em que se apresenta situações bem engraçadas (sempre se passando no quarto do hotel onde está hospedado o casal Clouseau), não acho que o filme empolgue tanto assim.
Os momentos mais inspirados começam na cena da festa à fantasia em diante, apresentando uma trama que não se enrola no excesso de personagens. O roteiro foi indicado ao prêmio do Sindiato de Roteiristas de Hollywood na categoria comédia. Clouseau, apesar de figura central da trama, aparece pouco na primeira metade.
Assistindo A Pantera Cor-de-Rosa anos depois e sabendo tudo que vai acontecer percebe-se que Peter Sellers foi mal aproveitado nessa primeira história, servindo apenas para que seu personagem mude o foco da busca pela Fantasma para a recuperação da joia. David Niven é claramente o protagonista e mesmo assim foi Sellers que recebeu indicações ao BAFTA e ao Globo de Ouro. Devido aos minutos finais bem divertidos, o longa consegue a simpatia do espectador. Edwards acharia o ritmo ideal para a série na continuação, chamada Um Tiro no Escuro (lançada apenas três meses depois desse). Resta a esse aqui a importância histórica e poucas risadas. Nota 6
Pantera Cor-de-Rosa (2006)
Estreia - 17/2/2006 - Apesar da indicação para o Framboesa de Ouro de pior sequência de 2006 ("perdendo" para O Pequenino), comparando apenas o filme original de 1963 com esse, não acho que A Pantera Cor-de-Rosa de Steve Martin, na época com 60 anos (em papel que quase foi de Kevin Spacey, Robin Williams e Mike Myers) deva qualquer coisa para a de Peter Sellers.
O início documental, centrado no personagem de Kevin Kline (Dreyfus), era a indicação de que pouca coisa seria copiada. Uma delas seria a manutenção do desenho clássico (em vez do CGI) na abertura. Shawn Levy (Recém-Casados, Doze é Demais e Uma Noite no Museu) se mostrou o diretor ideal, apesar de ser substituído pelo holandês Harald Zwart na continuação.
O Clouseau de Martin é mais exagerado e se leva menos a sério (em muitas cenas é nítido que o ator está realmente se divertindo) e nessa nova história ele não está preso à esposa nem a um hotel no meio do nada. Tudo começa quando o técnico da seleção de futebol da França (participação especial de Jason Statham), dono do anel com a joia que dá nome ao filme, é assassinado no meio do campo de futebol. Sua namorada, Xania (Beyoncé Knowles), é apontada como uma das suspeitas.
Dreyfuss precisa indicar um agente para investigar o caso e Clouseau é promovido a Inspetor por sua brilhante incompetência. A ideia do chefe era queimar o filme do responsável pelo caso para que ele fique com os créditos da provável solução. Dois personagens novos são importantes para a dinâmica do filme. O assistente de Clouseau, Ponton (Jean Reno, mas quase foi de Jackie Chan) e a secretária Nicole (Emily Mortimer). Steve Martin, responsável por parte do roteiro, acertou em cheio ao se inspirar nos outros longas da série e colocar o máximo de comédia possível na história. Seu Clouseau é excessivamente paranoico, sendo o típico idiota que sem querer dá certo.
Há uma homenagem a cena do globo girando (citado no comentário acima) e uma participação de Clive Owen como o agente 006, tirando um sarro da história muito comentada anos atrás de que ele seria o novo James Bond. Esse papel seria de Pierce Brosnan, que não aceitou. É outra homenagem a Sellers, que fez uma paródia de Bond em Cassino Royale, de 1967. Quase que uma terceira participação especial acontece, mas o jogador David Beckham não aceitou participar.
Para quem acha que não existem grandes cenas de comédia no remake de A Pantera Cor-de-Rosa fique atento naquela em que o Inspetor é, ao mesmo tempo, o "bon cop" e o "bad cop", além de outra, em que ele quer perder o sotaque francês para investigar Xania em Nova York.
Tudo bem que a conclusão está mais para Corra que a Polícia Vem Aí, mas nada que comprometa. Nos créditos você ainda pode ouvir Check on It, hit de Beyoncé utilizado para promover o filme. Imagino que Blake Edwards tenha ficado satisfeito com a homenagem de Seteve Martin a Peter Sellers numa produção que ganha pontos justamente por não ser pretensiosa. Nota 6
Filmes comentados em 2009: 95 Filmes lançados em 2009: 29 Total de filmes do blog: 95
Estreia - 6/10/1963 (nos EUA) - Confesso que esperava um filme mais satírico e irônico e fiquei um pouco decepcionado com As Aventuras de Tom Jones. Isso porque o currículo dessa produção de 1963 é de dar inveja. Começando com Oscar, ele tem quatro - filme, diretor, roteiro e trilha sonora, com outras seis indicações - ator, direção de arte, ator coadjuvante e três para atriz coadjuvante (sendo o único da História com esse feito - e ainda conseguiu perder). Globo de Ouro foram dois: filme de comédia ou musical e ator revelação, com mais quatro indicações. Três prêmios BAFTA: filme, filme inglês e roteiro, com duas indicações para ator e uma para atriz. Isso sem contar com um Grammy e outras dezenas de prêmios.
Curiosamente o filme só foi lançado no Brasil 27 anos depois de sua exibição nos cinemas americanos e europeus. Como notas da produção é interessante lembrar que era apenas o terceiro filme de Albert Finney, que além de sua atuação em Tom Jones receberia mais quatro indicações ao Oscar (a última em 2001 por Erin Bronkovich). Ele não achou seu papel sério o suficiente e exigiu créditos como produtor para poder fazê-lo. Despois trocou esse crédito por uma participação nos lucros. Também temos a estréia de Lynn Redgrave, na época promisora atriz que seria indicada duas vezes pela Academia. O destaque negativo é o fato do ator Hugh Griffith ter passado quase todo o tempo das filmagens bêbado. E o fato curioso é que a cena mais engraçada do filme, o "banquete sexy" consumiu três horas de filmagens e muito improviso.
Com toda essa ficha era de se esperar um filme melhor, apesar dele não ser um fiasco. O início mudo, contando o nascimento de Tom Jones já não é muito engraçado. O garoto foi criado por um aristocrata e nunca soube quem era sua mãe. A trilha da Orquestra Sinfônica de Londres é boa e o diretor Tony Richardson fez um ótmo trabalho. A diferença do roteiro, aclamado pela crítica, é que o narrador interage com o espectador, como alguns personagens algumas vezes fazendo o mesmo. Isso faz com que uma história clássica seja contada de uma maneira não-convencional, formato copiado por Hollywood nas décadas seguintes. Uma edição fora dos padrões também se destaca, mas há aquela maneira européia de se contar uma história, num ritmo bem lento. Isso faz com que o filme seja meio esquisito, algumas cenas excessivamente demoradas, como aquela em que várias pessoas saem a caça de um veado.
Há técnicas de filmagens que hoje são bem comuns, mas eram a modernidade em pessoa na década de 1960, como o congelamento de tela e a imagem em câmera rápida ou lenta. Quando conseguem expulsar o mulherengo Tom Jones da corte e o filme chega na metade, ele melhora bastante, fica menos enjoado e se torna mais leve, com brigas, confusões, reviravoltas. Finalmente estamos diante de uma comédia. A história, como um todo, é interessante e a forma como Tom Jones descobre suas origens e tem que lutar por um amor entre classes diferentes é ótima. Mas a narrativa é muito arrastada e por vezes penso que estou só esperando chegarmos aos vinte minutos finais. Quando eles chegam não decepcionam, com direito a duelo de espadas e uma condenação à forca.
Nesse ponto a mensagem do roteiro é que cultivar inimigos ao longo da vida é um risco e quando há uma oportunidade de te derrubar, todos fazem uma forcinha. A reviravolta final, com a verdade sobra a mãe do personagem-título e os esforços para salvar Tom da forca combinam muito bem com a ótima canção tirada da cartola nos últimos momentos.
Em 1963 a Academia, tradicionalmente, ignorou o trabalho de Stanley Kubrick, que lançou Dr. Fantástico naquele ano. O maior diretor de todos os tempos faria melhor do que As Aventuras de Tom Jones em Barry Lyndon, apesar do clima mais carregado. Outro que viu esse filme apenas bom se consagrar na noite do Oscar foi Hitchcock, que dirigiu à época o clássico Os Pássaros. O sempre lembrado Billy Wilder apostaria todas as fichas em Irma La Douce, com os mesmos protagonistas do premiado Se Meu Apartamento Falasse. Já Cleópatra, apesar do fracasso de bilheteria, coseguiria uma indicação, mas a Academia parecia disposta a enviar a estatueta de melhor filme para o outro lado do Atlântico. Nota 7
Filmes comentados em 2009: 93 Filmes lançados em 2009: 29 Total de filmes do blog: 93
Estreia - 16/1 - Matthew Broderick, Dustin Hoffman, Emma Watson, Kevin Kline, William H. Macy, Frank Langella, Richard Jenkins, Sigourney Weaver, Christopher Lloyd, Robbie Coltrane, Stanley Tucci e Tracey Ullman. Só em três situações você encontra tantos artistas de nome: filmes de guerra, filmes-mosaico e animações. Não preciso dizer que O Corajoso Ratinho Despereaux é mais um desenho animado despejado nos cinemas em 2009 (foram cinco nos primeiros quatro meses apenas no circuito nacional).
A história começa no Dia da Sopa, onde o povo de um reino se reúne a espera da receita do ano do famoso chef do Rei. Na cerimônia, uma ratazana chamada Roscuro (Dustin Hoffman) cai no prato da Rainha, mata a senhora de susto e provoca a ira de seu marido, que proíbe que se faça sopa no reino e se ajude os ratos (?!). Tudo bem, é uma fábula, então nem vou criticar a trama. O resultado é que o reino vira um lugar triste, em que não há mais chuva mas que a luz do Sol também não dá as caras.
Tempos depois o espectador passa a conhecer a terra dos camundongos, que são mais feinhos que o Rémy de Ratatouille mas menos horríveis que as ratazanas do início do filme. Nesse momento surge o heroi do roteiro, o corajoso ratinho Despereaux (Matthew Broderick), baixinho e de orelhas de abano. O protagonista é considerado anormal por seus pares, já que não sente medo de ratoeiras, gatos e facões e não corre diante do perigo.
Quando decide passear pelo castelo e conheçe a princesa que vive trancada na torre, Despereaux é banido da sua comunidade e precisa viver com as ratazanas. Como sempre acontece em filmes infantis, o personagem central é o patinho feio do seu grupo e acaba salvando alguém de alguma coisa terrível.
Mas e o filme? Ele é agradável se se assistir, apesar de muito parado. Os primeiros dois terços do roteiro se mostram quase um drama, guardando para os trinta minutos finais o pouco de comédia e a ação. Isso deve desagradar as crianças (principalmente as que foram ao cinema). O Corajoso Ratinho Despereaux foi indicado a quatro Annies, o Oscar da animação, mas saiu de mãos vazias. Pode ser exagero considerar um longa assim puro desperdício do talento de todos aqueles atores citados no início. Mas, pensando bem, eles quase não se esforçaram para fazerem o filme. Por isso que o melhor é você quase não se esforçar pra assistir o resultado. Nota 4
Filmes comentados em 2009: 92 Filmes lançados em 2009: 29 Total de filmes do blog: 92
Estreia - 8/10/1984 - Eu me lembro que da primeira vez que assisti a Amadeus (já em DVD, pois o longa nunca frequentou a programação da TV), meu conhecimento sobre o diretor Milos Forman se resumia a Hair. Apesar do musical ter sido mais bem sucedido na Broadway do que na tela grande, me agradou muito a história sobre o grupo hippie que se opunha à Guerra do Vietnã. Agora, da segunda vez que vejo a biografia de Mozart - toda filmada em luz natural e também adaptada do teatro - já sabia desde o início que a nota seria 10, mas era necessário uma confirmação.
Apesar de ser um leigo em música clássica (o que é lamentável), tenho certeza absoluta que a trilha sonora não é menos do que magnífica, contando com as principais obras do maestro alemão. O compositor Maurice Jarre, falecido recentemente, levou o Oscar da categoria em 1985 por Passagem para Índia e chegou a brincar dizendo que foi sorte Amadeus não ter sido indicado ao prêmio (até porque nada na trilha foi composto para o filme). "Sobrou" para esse oito prêmios em onze indicações (filme, diretor, ator, roteiro adaptado, som, maquiagem, figurino e direção de arte), além de 4 Globos de Ouro, 4 BAFTAs e o César de filme estrangeiro .
F. Murray Abraham conduz o filme, que se preocupa em mostrar as duas caras de Salieri, dividido entre a inveja dos dons que não possuía (chegando a ter raiva de Deus por ter premiado outro homem com um dom que ele considerava divino) e a idolatria ao adversário. Tom Hulce é Mozart, amado por Deus (amadeus) em pessoa, que apesar da grande interpretação perdeu o Oscar para Abraham, em performance menos intensa mas igualmente perfeita. Você poderia ter visto no papel-título Kenneth Branagh (substituído por Forman que queria um elenco de atores americano), Mel Gibson e Mick Jagger (que chegaram a fazer testes) e até Walter Matthau (seria uma imposição do estúdio, desprezada por se tratar de um ator velho demais para o papel).
A primeira cena já mostra a tentativa de suicídio do velho Salieri, anos depois da morte de seu inimigo e o nome original do filme surge na tela - com o nome do roteirista Peter Shaffer - mostrando a visão um pouco indulgente, focando mais no compositor da corte austríaca do que no gênio Mozart. Porém, o próprio personagem de Abraham, nos primeiros minutos, mostra ao espectador a relevância do homem interpretado por Hulce na cultura moderna.
A vida de Salieri foi movida pela inveja já que este não se conformava que o homem mais talentoso que ele fosse menos dedicado, metido a conquistador, passando o dia enfrentando a nobreza e desacatando ordens que considerava injustas. Sem contar a risada esganiçada, resposável pelos momentos mais divertidos do filme. A ideia dessa risada foi tirada de cartas da época escritas por pessoas que conheciam o músico. Há ainda a excentricidade do homem que chegava a reger sua respeitada orquestra de peruca rosa. Entre outras características desprezíveis, Amadeus esbanjava mais dinheiro do que podia, mas era um gênio e não deixava de ser uma pessoa adorável (e, por que não?, incompreendida).
Milos Forman, que já tinha sido muito celebrado nove anos antes por Um Estranho no Ninho, só voltaria a receber aplausos doze anos depois, quando o polêmico O Povo Contra Larry Flynt venceu o Festival de Berlim. Aqui ele dá um show de direção, num filme que consegue ser ágil, apesar de ambientado no século XIX - muito por conta da curta duração das cenas de ópera. A maior, que mostra A Flauta Mágica, responsável pela popularização de Mozart, é também a mais caprichada e não dá chance para que os mais impacientes reclamem de cansaço.
Outro destaque é a maquiagem feita em F.Murray Abraham, quando Salieri conta sua história para um padre, de dentro de um hospício. O ator está irreconhecível. Mas o barato de Amadeus é conhecer mais sobre esse gênio, que morreu aos 35 anos e compunha tudo em sua cabeça, sem necessidade de rasurar nenhum trecho de partitura. Como ele desafiu os decretos imperiais e adaptou Figaro, peça teatral banida do reino. A forma como ele convencia o próprio Imperador, mostrando que o poder da arte supera qualquer tipo de censura. O próprio Mozart se considerava um homem vulgar de música sublime. E pagou um preço alto por ser autêntico e por quebrar tabus, inserindo balé nas suas óperas e compondo em alemão.
Quando o fantasma do pai começa a atormentar o artista, Salieri não poupa o inimigo e boicota as obras daquele, fazendo com que o jovem colecione fracassos. A segunda metade da produção foca nos últimos anos de Mozart, quando ele passou a ser um homem injustiçado. Sua morte já havia sido encomendada por Salieri, que pagou para que o próprio Mozart escrevesse seu réquiem. O que ainda deu uma sobrevida ao gênio foi quando ele abandonou esse serviço, já que ficou surtado com a presença do pai em seus pensamentos, passando a compor para o povo de Viena. Quando parecia que iria voltar ao topo, ele cai doente. Morre acreditando na amizade de Salieri, assim como Jesse James em Robert Ford. Ao ditar seu próprio réquiem, nos últimos momentos de vida, o espectador lamenta que Mozart tenha ido tão cedo e sem o devido conhecimento.
Sua experiência traria obras ainda mais espetaculares, mas nunca as ouviremos. Ainda foi enterrado de qualquer maneira, nos arredores do cidade. Restou a Salieri, que se auto-intitulou o campeão dos medíocres, chamar a atenção para o obra do gênio que ele matou e agradecer a Milos Forman e Peter Shaffer por hoje ser um nome conhecido, já que Mozart teve, além de tudo, uma história muito mais poderosa. A AFI em 1998 considerou este um dos cem maiores filmes do cinema americano em todos os tempos. Nota 10
Filmes comentados em 2009: 91 Filmes lançados em 2009: 28 Total de filmes do blog: 91
Navegando pela internet semana passada fiquei sabendo de uma pesquisa muito interessante de um internauta blogueiro chamado João Pereira. Morador de Blumenau e cinéfilo João utilizou parte de seu tempo livre nos últimos nove anos para chegar a uma lista daqueles que seriam os cem maiores filmes do século passado na opinião de brasileiros.
Sua pesquisa atingiu o impressionante número de 861.266 opiniões e até que provem o contrário é o que mais se aproxima do gosto popular. O resultado da apuração, com análise de todos os filmes feita de maneira objetiva pelo próprio João pode ser lida em seu blog (que você vê clicando aqui). Lá você irá descobrir os eleitos como melhor diretor, ator, atriz e comediante. Segue abaixo a lista dos cem (não deixe de ver os comentários do dono da lista no blog e os meus, sempre clicando no nome dos filmes) e abaixo o que eu penso da lista.
Meus comentários: surpreende a presença de Cidadão Kane em 4º lugar. Eu sei que parece incoerente falar de um filme que lidera várias listas como o melhor de todos os tempos. Porém, a produção de Orson Welles nunca foi popular. Duas coisas podem explicar essa boa colocação nessa lista. Uma é que ao longo dos anos foi criada uma geração que aprendeu a gostar do filme (o mesmo se aplicando para Laranja Mecânica em 3º - dois filmes além de sua época). A outra é que virou um hábito e quase uma obrigação citar Cidadão Kane em qualquer lista.
Cinema Paradiso (um dos dez filmes que mais me emocionaram - a imagem desses dez ilustra a capa do blog) na 9ª posição é fantástico! O longa conseguiu ficar à frente de Casablanca. Destaque também para Forrest Gump em 6º e a presença das três produções da série De Volta para o Futuro, Star Wars clássica (além do Episódio 1) e Indiana Jones, mostrando que o povo gosta de uma continuação.
Central do Brasil é o melhor brasileiro em 82º lugar. Seu rival no Oscar, A Vida é Bela, é o 20º. Ainda continuam defendendo a injustiça no Oscar de melhor produção estrangeira de 1998?
A lista é incrivelmente heterogênea. Tem expressionismo alemão, Fellini, Bergman, Tarantino, comédia romântica. É um bom ponto de partida para quem deseja ampliar o conhecimento sobre cinema.
A Empire fez uma imensa pesquisa com o público inglês para apontar os 500 preferidos da terra da Rainha. Essa lista foi feita nos mesmos moldes da do João (incluindo especialistas e leigos) e foi publicada em 2008. Até o fim dessa semana eu coloco aqui no blog.
Não preciso nem dizer que aos poucos vou comentando cada filme desse, assim como farei com as listas da AFI (sobre elas eu falo ainda essa semana também).
Não assisti 14 desses 100 filmes. Minha "lista da vergonha" é pra lá de vergonhosa e inclui O Silêncio dos Inocentes e Crepúsculo dos Deuses (dá pra acreditar?). Porém, aceitei o desafio proposto pela lista e fiz a minha com os cem melhores (vai além do gosto pessoal ou de serem meus favoritos) do século XX. Leia no post abaixo ou clique aqui.
Publicado acima o post com a pesquisa do blogueiro João Pereira (leia clicando aqui), separei um tempinho desse final de semana para fazer a minha lista com as cem melhores produções do século passado. Se eu tivesse participado da pesquisa do João, hoje, eu responderia assim.
Importante lembrar que há filmes do meu gosto pessoal que estão na lista, porém, além do que determinado longa representa pra mim, procurei ser justo com produções igualmente excelentes mas com uma qualidade técnica ou uma importância maior para o cinema. Além disso é imporante que se diga que não gastei mais do que trinta minutos para lembrar e fazer tal lista e é possível que grandes filmes tenham ficado de fora.
Cito no outro post e repito exemplos como O Silêncio dos Inocentes e Crepúsculo dos Deuses que eu, vergonhosamente, nunca assisti. Alguns vencedores do Oscar de melhor filme também, sem contar longas que vi há tanto tempo que não seria justo incluir na lista (já que me lembro de pouca coisa). Quem sofreu com isso foi o Hitchcock, por exemplo, pois alguns clássicos dele eu deve ter assistido quando era criança.
Sem mais delongas, vamos a minha lista sempre sujeita à alterações (clique no nome dos filmes para ler meus comentários):
Estreia - 13/3 - A primeira vez que o blogueiro escolhe um pôster nacional em vez de um do país de origem do filme poderia não ser um bom sinal. É a prova do descaso que o distribuidor teve com Jogo entre Ladrões (que tem dois títulos em inglês, The Code e Thick as Thieves). É tão claro que as pessoas deixam para ver esse tipo de produção em DVD ou na televisão que não há muito esforço para alavancar longas assim nas bilheterias.
O filme começa com Keith (Morgan Freeman) invadindo uma sauna e atirando num senhor russo. Corta para Gabriel (Antonio Banderas) seguindo dois homens no metrô - e sendo seguido, por Keith. Gabriel saca a sua arma no meio do vagão e procura algo específico para roubar. O objetivo do roteiro está alcançado: mostrar dois ladrões que irão se unir para um golpe que envolve cofres com sistema de segurança modernos, planos mirabolantes e soluções absurdas. Uma hora de clichês e cenas de ação competentes. Banderas lembra até seu personagem em Dupla Explosiva (filme abaixo da crítica que ele estrelou ao lado de Lucy Liu).
Quando Gabriel conheçe Alexandra (Radha Mitchell), filha do ex-parceiro de Keith, você também pode acrescentar mais umas cenas de sexo para descer com a pipoca. Ah, sim, há o policial veterano que segue os passos dos luxuosos bandidos, mas sempre chega um pouco atrasado e tem que conviver com o descrédito dos colegas. Jogo entre Ladrões diverte e é muito provável que você se encontre com ele um dia desses na TV. Porém, quando o segundo terço da história chega ao fim e parece que você só levará para casa a sempre divertida atuação de Freeman (misturando a classe e a ironia típica de seus personagens), as coisas mudam um pouco.
Já posso até contar que Gabriel se apaixona por quem não deveria e, por tê-la envolvido no golpe, acaba vendo a mulher ser sequestrada para pressioná-lo ainda mais. Isso faz parte do grande clichê que é um filme de ação pouco inspirado. Porém, a sensação de que a trama está indo para um caminho menos previsível prende um pouco mais o espectador. O diretor Mimi Leder não entrega as mesmas cenas de Impacto Profundo e O Pacificador, mas Jogo entre Ladrões por fim não se mostra tão dispensável quanto parecia. Nota 4
Filmes comentados em 2009: 90 Filmes lançados em 2009: 28 Total de filmes do blog: 90
Terminando a maratona do blog com as listas da American Film Institute sobre as melhores produções do cinema americano, chegamos ao ano de 2008 e dessa vez o instituto resolveu fazer algo diferente. Foram escolhidos dez gêneros para que apontassem os dez melhores filmes daqueles. Se você estranha a ausência dos musicias, que os americanos tanto gostam, saiba que em 2006 a própria AFI divulgou uma lista com os 25 melhores de todos os tempos (mas dessa - e de outras - falaremos mais adiante). Veja abaixo os longas escolhidos, clique no nome deles para ler meus comentários e espere mais algumas semanas para saber o que a AFI preparou para 2009: