segunda-feira, 27 de abril de 2009

Amadeus



Estreia - 8/10/1984 - Eu me lembro que da primeira vez que assisti a Amadeus (já em DVD, pois o longa nunca frequentou a programação da TV), meu conhecimento sobre o diretor Milos Forman se resumia a Hair. Apesar do musical ter sido mais bem sucedido na Broadway do que na tela grande, me agradou muito a história sobre o grupo hippie que se opunha à Guerra do Vietnã. Agora, da segunda vez que vejo a biografia de Mozart - toda filmada em luz natural e também adaptada do teatro - já sabia desde o início que a nota seria 10, mas era necessário uma confirmação.

Apesar de ser um leigo em música clássica (o que é lamentável), tenho certeza absoluta que a trilha sonora não é menos do que magnífica, contando com as principais obras do maestro alemão. O compositor Maurice Jarre, falecido recentemente, levou o Oscar da categoria em 1985 por Passagem para Índia e chegou a brincar dizendo que foi sorte Amadeus não ter sido indicado ao prêmio (até porque nada na trilha foi composto para o filme). "Sobrou" para esse oito prêmios em onze indicações (filme, diretor, ator, roteiro adaptado, som, maquiagem, figurino e direção de arte), além de 4 Globos de Ouro, 4 BAFTAs e o César de filme estrangeiro .

F. Murray Abraham conduz o filme, que se preocupa em mostrar as duas caras de Salieri, dividido entre a inveja dos dons que não possuía (chegando a ter raiva de Deus por ter premiado outro homem com um dom que ele considerava divino) e a idolatria ao adversário. Tom Hulce é Mozart, amado por Deus (amadeus) em pessoa, que apesar da grande interpretação perdeu o Oscar para Abraham, em performance menos intensa mas igualmente perfeita. Você poderia ter visto no papel-título Kenneth Branagh (substituído por Forman que queria um elenco de atores americano), Mel Gibson e Mick Jagger (que chegaram a fazer testes) e até Walter Matthau (seria uma imposição do estúdio, desprezada por se tratar de um ator velho demais para o papel).

A primeira cena já mostra a tentativa de suicídio do velho Salieri, anos depois da morte de seu inimigo e o nome original do filme surge na tela - com o nome do roteirista Peter Shaffer - mostrando a visão um pouco indulgente, focando mais no compositor da corte austríaca do que no gênio Mozart. Porém, o próprio personagem de Abraham, nos primeiros minutos, mostra ao espectador a relevância do homem interpretado por Hulce na cultura moderna.

A vida de Salieri foi movida pela inveja já que este não se conformava que o homem mais talentoso que ele fosse menos dedicado, metido a conquistador, passando o dia enfrentando a nobreza e desacatando ordens que considerava injustas. Sem contar a risada esganiçada, resposável pelos momentos mais divertidos do filme. A ideia dessa risada foi tirada de cartas da época escritas por pessoas que conheciam o músico. Há ainda a excentricidade do homem que chegava a reger sua respeitada orquestra de peruca rosa. Entre outras características desprezíveis, Amadeus esbanjava mais dinheiro do que podia, mas era um gênio e não deixava de ser uma pessoa adorável (e, por que não?, incompreendida).

Milos Forman, que já tinha sido muito celebrado nove anos antes por Um Estranho no Ninho, só voltaria a receber aplausos doze anos depois, quando o polêmico O Povo Contra Larry Flynt venceu o Festival de Berlim. Aqui ele dá um show de direção, num filme que consegue ser ágil, apesar de ambientado no século XIX - muito por conta da curta duração das cenas de ópera. A maior, que mostra A Flauta Mágica, responsável pela popularização de Mozart, é também a mais caprichada e não dá chance para que os mais impacientes reclamem de cansaço.

Outro destaque é a maquiagem feita em F.Murray Abraham, quando Salieri conta sua história para um padre, de dentro de um hospício. O ator está irreconhecível. Mas o barato de Amadeus é conhecer mais sobre esse gênio, que morreu aos 35 anos e compunha tudo em sua cabeça, sem necessidade de rasurar nenhum trecho de partitura. Como ele desafiu os decretos imperiais e adaptou Figaro, peça teatral banida do reino. A forma como ele convencia o próprio Imperador, mostrando que o poder da arte supera qualquer tipo de censura. O próprio Mozart se considerava um homem vulgar de música sublime. E pagou um preço alto por ser autêntico e por quebrar tabus, inserindo balé nas suas óperas e compondo em alemão.

Quando o fantasma do pai começa a atormentar o artista, Salieri não poupa o inimigo e boicota as obras daquele, fazendo com que o jovem colecione fracassos. A segunda metade da produção foca nos últimos anos de Mozart, quando ele passou a ser um homem injustiçado. Sua morte já havia sido encomendada por Salieri, que pagou para que o próprio Mozart escrevesse seu réquiem. O que ainda deu uma sobrevida ao gênio foi quando ele abandonou esse serviço, já que ficou surtado com a presença do pai em seus pensamentos, passando a compor para o povo de Viena. Quando parecia que iria voltar ao topo, ele cai doente. Morre acreditando na amizade de Salieri, assim como Jesse James em Robert Ford. Ao ditar seu próprio réquiem, nos últimos momentos de vida, o espectador lamenta que Mozart tenha ido tão cedo e sem o devido conhecimento.

Sua experiência traria obras ainda mais espetaculares, mas nunca as ouviremos. Ainda foi enterrado de qualquer maneira, nos arredores do cidade. Restou a Salieri, que se auto-intitulou o campeão dos medíocres, chamar a atenção para o obra do gênio que ele matou e agradecer a Milos Forman e Peter Shaffer por hoje ser um nome conhecido, já que Mozart teve, além de tudo, uma história muito mais poderosa. A AFI em 1998 considerou este um dos cem maiores filmes do cinema americano em todos os tempos. Nota 10



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