quarta-feira, 15 de abril de 2009

Asas



Estreia - 12/8/1927 (nos EUA) - Primeiro vencedor do Oscar de melhor filme, foi um dos três que conseguiram o feito de vencer na categoria principal e não ter sido indicado ao prêmio de melhor direção (juntam-se à Asas Grand Hotel e Conduzindo Miss Daisy). O filme foi feito em homenagem aos soldados que morreram na Primeira Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918. Os Estados Unidos enviaram tropas dez anos antes do lançamento desse longa de 1927. E pensar que depois de tudo isso o mundo ainda passaria por uma segunda Grande Guerra, que renderia grandes filmes em Hollywood.
Além disso, Asas foi o único filme mudo a vencer o Oscar de melhor filme. Ao contrário da regra daquele tempo, não temos muitas caras-e-bocas e interpretações afetadas aqui. A maioria dos atores traz uma sutileza na forma de mostrar o que seu personagem pensa e diz. A história é universal: a vizinha apaixonada por jovem é preterida por moça mais rica. Já essa outra gosta de outro homem, da mesma classe social que ela. O que era para ser algo inocente ganha contornos sombrios com a chegada da guerra. A arma que o filme mudo tem é a trilha sonora e na primeira hora de Asas o que desperta mais interesse àqueles que vivem num tempo em que o cinema é completamente diferente é justamente a forma como a música carrega o longa nas costas, sendo a responsável pela magia do cinema, com uma simbiose perfeita entre o ritmo do filme e o ritmo da música.
Não é exagero dizer que a trilha sonora é a alma do filme e no cinema mudo a alma era praticamente o único recurso para conhecermos o que se passava na tela grande. Dando nome aos bois, David e Sylvia é o casal rico, ambos vivendo um amor correspondido. Já Jack e Mary são os mais humildes, ainda em busca do reconhecimento do amado. Por conta dos dois garotos gostarem da mesma moça, cria-se uma inimizade mortal, que se transforma durante o treinamento para o combate. Como todo bom filme de guerra, é nessa parte que o longa fica mais emocionante e, por vezes, bem divertido.
Sou da opinião de que Asas poderia muito bem ser refilmado hoje e faria enorme sucesso, com todos os recursos que temos. Isso porque o roteiro é muito bom. Uma curiosidade é ver Gary Cooper em início de carreira (com 28 minutos de filme), fazendo uma ponta como Coronel White, que ensinaria os meninos a voar, mas sofre um acidente fatal antes. Esse foi apenas o quarto trabalho creditado desse grande ator, que antes disso foi figurante de quase trinta filmes. Mas a estrela do filme é Clara Bow, que tinha atingido o auge de popularidade naquele ano com o filme It. Aliás, essa atriz, nascida em 1905 se apósentou aos 26 anos, depois de casar e ter filhos, mas tem um acervo de 56 filmes! Na época em que fazia sucesso, era considerada uma mulher sexy e chegava a receber 45.000 cartas por mês. Ela é o grande destaque do filme, atuando realmente muito bem.
Numa grande sacada do roteiro, Mary também vai para guerra, dirigindo o veículo que transporta medicamentos. O primeiro destaque negativo de Asas se dá na ausência de ação nos primeiros quarenta minutos. Só depois da morte do personagem de Cooper que o filme realmente engrena. Mas ele se sustenta no início pela curiosidade de ver um longa de mais de oitenta anos. Quando foi lançado, Asas desbancou A General, hoje uma obra-prima de Buster Keaton mas à época um fracasso que deixou o comediante falido. Talvez por isso que hoje esqueçam desse bom filme de guerra e se lembrem só do derrotado Keaton, que não chegou nem a concorrer à estatueta.
As cenas aéreas são consideradas históricas e marcaram época pela perfeição técnica, ganhando até um prêmio da Academia. Hoje poucas ainda convencem, mas é nítida a qualidade das tomadas. Quando os dois amigos caem num front inglês, o filme começa a cansar um pouco e começamos a pensar porque ele precisa ser tão longo. Uma breve cena nas Champs-Elysée (com direito a um pouco da moda da época) e a volta do romance entre Jack e Mary (ele salva ela sem saber e depois ela retribui o gesto, o que lhe custa o emprego nas Forças Armadas) ainda ajudam um pouco, mas aí já estamos a espera da batalha final, com os últimos momentos da Primeira Guerra.
A espera vale a pena, já que são aproximadamente cinquenta minutos de ação, numa maneira até moderna de se mostrar um filme de guerra (nas décadas seguintes o orçamento limitado diminuiria as batalhas nas produções do gênero). Pena que se perdeu muito tempo com cenas menos interessantes. O fim trágico de David parecia ter sido desenhado quando ele é capturado pelos alemães, mas o americano rouba um avião inimigo e quando estava quase chegando na base dos Aliados, quis o destino que ele fosse abatido por Jack, agora seu grande amigo. É importante reconhecer que há filmes bons sobre a Primeira Guerra, que foi um verdadeiro massacre, por conta de duas invenções aniquiladoras: as trincheiras e os aviões, o que tornou a batalha mais sangrenta. Quanto ao filme, se ele fosse uns 45 minutos mais curto, seria um clássico. Mas, apesar de tudo, esse foi o primeiro grande filme de guerra que Hollywood nos trazia. William A. Wellman ainda dirigia grandes produções e venceria um Oscar pela direção de Nasce uma Estrela, obtendo outras três indicações. Nota 7




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