quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Anatomia de um Crime




Sinopse: No Michigan, Paul Biegler é um advogado que é auxiliado por um alcoólatra, Parnell McCarthy. Após ter recusado o caso inicialmente, ele decide aceitar a defesa de Frederick Manion, um tenente do exército acusado de assassinato. O réu alega que a vítima violentou Laura Manion, sua mulher, mas seu oponente é Claude Dancer, um conceituado promotor que afirma que a alegação do réu é falsa e que Laura, que tem uma reputação de promíscua, estava realmente tendo um caso com o bartender assassinado, sendo que durante um acesso de cíúme Frederick teria intencionalmente cometido o crime. (Fonte: Cine Players)

Motivo para assistir: Um clássico drama de tribunal

Estreia – 01/07/1959 (nos EUA) – James Stewart, um dos rostos da Era de Ouro de Hollywood, entrega mais uma atuação sóbria e admirável em mais um clássico em que simplesmente não há argumentos para críticas. Anatomia de um Crime narra a história de Paul Biegler, um advogado desmotivado que só quer saber de pescar após perder o cargo de Promotor do Distrito. Passa horas no bar com seu amigo bêbado, até que um cliente cai em seu colo. Considerado polêmico na época por usar palavras fortes ("bitch", "contraceptive", "panties", "penetration", "rape", "slut" e "sperm"), o longa foi banido de Chicago e reprovado pelo pai do protagonista, que circulava por sua cidade pedindo para que as pessoas não o assistissem. Mesmo assim, é lembrado até hoje como um dos 10 dramas de tribunal mais importantes do cinema americano.

Não é a toa que essa fita deu a Stewart um troféu no Festival de Veneza e sua quinta indicação ao Oscar (ele venceu por Núpcias de Escândalo e perdeu por A Mulher Faz o Homem, A Felicidade não se Compra e Meu Amigo Harvey). Perderia em 1960 para Charlton Heston em Ben-Hur. Aliás, o épico considerado um dos grandes filmes de todos os tempos foi a pedra no sapato de Anatomia de um Crime, que recebeu outras seis indicações (Filme, Ator e Atriz Coadjuvantes, Roteiro Adaptado, Edição e Fotografia em Preto e Branco) e não ganhou nenhum. Um dos destaques da edição é a ausência do uso de flashbacks, técnica odiada por Otto Preminger e que poderia ser usada de qualquer maneira para facilitar a compreensão do filme. Ao optar por não utilizá-la, encontra o roteiro uma proximidade com a realidade de um julgamento que atinge em cheio o espectador. Seu ritmo é tão perfeito que o diretor chegou a processar a Columbia por ter vendido os direitos de Anatomia de um Crime para a televisão, pois o filme de duas horas e quarenta minutos foi interrompido treze vezes por intervalos comerciais! Ele perdeu o processo, claro.

O longa explora seu viés jurídico ao discutir se o caso a ser julgado se encaixa numa “legítima defesa da honra de terceiro”, apesar do fato de o homem violentar a esposa não ter sido tão próximo do segundo evento (admitindo sua cogitação), e da vítima do primeiro ser uma mulher extremamente provocante. Anatomia de um Crime difere de outros dramas de tribunal no fato de o advogado de defesa realizar uma investigação prévia antes de aceitar o caso. Ele precisará construir uma boa imagem de Laura Manion como vítima, enquanto a acusação fará de tudo para ignorar esse fato. O papel estaria muito melhor em Lana Turner, mas essa recusou no auge de sua forma, após lançar A Caldeira do Diabo e Imitação da Vida. Sua negativa se deu porque Turner queria que seu figurino fosse todo desenhado por seu estilista profissional. O estúdio esteve prestes a aceitar a exigência, mas o diretor Otto Preminger vetou a solicitação. Remick, que sempre foi a primeira opção de Preminger, não compromete e três anos depois foi lembrada para vários prêmios por sua boa atuação em Vício Maldito.

A primeira hora do longa se passa fora da Corte. Mesmo assim, nas cenas de julgamento, a produção não deve nada aos melhores do gênero. A grande qualidade do filme é mostrar a busca por e a luta entre argumento, a criação e desconstrução de teses (sem perda de tempo com tramas paralelas). É a verdadeira anatomia de um crime, é Direito puro a exemplo de 12 Homens e uma Sentença e O Vento Será sua Herança. Além de tudo isso, o longa é muito bem filmado e editado. Impressiona saber que sua pós-produção foi feita apenas um mês antes do lançamento. Ou seja, um clássico absoluto. Nota 9



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