segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sem Novidades No Front


Estreia - 15/09/1930 - Sem Novidades No Front se passa nas trincheiras alemãs em meio à interminável 1ª Guerra Mundial. O objetivo do roteiro adaptado do livro de Erich Maria Remarque (que foi cogitado para o papel do protagonista ao lado de Douglas Fairbanks Jr.) já se mostra claro na introdução ao filme: mostrar o grau de destruição e estupidez de uma guerra desse tamanho, extremamente cansativa e capaz de multiplicar o número de mortos em pouco tempo.

Por poucos minutos um grupo de moradores de uma cidade alemã parece feliz com a vida que leva, sendo o carteiro do local uma das pessoas mais populares, sempre sorrindo e tratando as pessoas de maneira cordial e amiga. Porém, a promessa (que sempre se repete nas guerras) de um conflito breve, que ajudaria muito o país, fez com que a Primeira Guerra Mundial conquistasse apoio popular em seu momento inicial (outra constante em conflitos deste porte). Sendo assim, milhares de jovens se alistam para a admiração das mulheres e desespero dos pais.

O diretor Lewis Milestone, em poucos minutos, dá essa visão geral, ampla, rápida e muito eficiente da história que pretende contar. A virada acontece quando o grupo de jovens alemães no qual Sem Novidades No Front focará começa seus treinamentos para irem para as trincheiras. O carteiro assume seu cargo de Oficial de alta patente que fica revoltado ao não conseguir angariar o respeito digno desta patente que carrega, deixando para trás os anos em que tratou aqueles jovens como iguais.

Milestone já contava com quinze produções em seu currículo e havia se destacado dois anos antes do lançamento de Sem Novidades no Front com os longas Two Arabian Knights (pelo qual venceria o prêmio de Melhor Diretor no primeiro ano do Oscar) e The Garden of Eden, ambos com a mesma temática. Sua investida em filmes de guerra foi muito bem sucedida já que Sem Novidades no Front foi o grande campeão do Oscar em 1931, levando os prêmios de Melhor Filme e justamente Melhor Diretor (com indicações para Roteiro e Fotografia). No ano seguinte o diretor seria lembrado por Última Hora. Destacar-se-ia mais ao final de sua carreira as produções Caminhada Sob o Sol (1945), a primeira versão de Onze Homens e Um Segredo (1960) e a segunda de O Grande Motim (1962).

O grande mérito de Lewis Milestone foi trazer um espetáculo visual pouco visto no cinema, mesmo oitenta anos depois do lançamento de Sem Novidades no Front, somada a uma mensagem direta e bem mandada, tanto que este é considerado um dos maiores filmes pacifistas de todos os tempos. Pegue como exemplo o treinamento pesado pelo qual passam os novos soldados. Quantas releituras foram feitas daquelas cenas no contexto de qualquer outra guerra posterior? Sendo gastos mais de um milhão de dólares (superprodução na época), as filmagens começaram poucos meses após o crack da bolsa de Nova York, atitude coragem da Universal, recompensada com o título de filme do ano.

Os momentos nas trincheiras e os tiroteios, com direção e produção muito bem realizadas, impressionam o espectador de hoje. O elenco parece familiarizado com o som, que ainda engatinhava no cinema à época (uma versão muda do longa seria exibida em circuito reservado no ano de 2003). O ambiente claustrofóbico que afeta a mente daqueles Oficiais, o pesadelo e inferno que viram suas vidas inserem o drama na batalha, mostrando a linguagem moderna na qual Sem Novidades no Front dialoga com quem o assiste. A direção é ousada, com a câmera no meio da ação (como Hollywood conseguia realizar coisas assim no final da década de 1920?) e as batalhas coreografadas (em cortes longos) utilizando mais de dois mil figurantes engana quem arrisca dizer que o longa é trinta ou até quarenta anos mais novo. A ausência de trilha sonora foi proposital para que o público prestasse ainda mais atenção no que estava querendo ser passado ali.

Mesmo no momento em que o roteiro separa um pouco do tempo para tratar dos reflexos da Guerra, como as mortes lentas e dolorosas e as amputações e mutilações sofridas por milhares de jovens, o ritmo do filme cai. Para quem gosta de cinema, bolei uma tese de que Sem Novidades no Front e Os Melhores Anos de Nossas Vidas (outro vencedor do Oscar de Melhor Filme, que será trazido ao blog daqui a alguns dias) se completam. O mais antigo trata de toda a fase pré e durante a Guerra se passando na IGG e o segundo mostra a volta para a casa das verdadeiras vítimas da IIGG.

Mas a pérola do roteiro é o contraponto entra as duas cenas ocorridas numa sala de aula. A primeira mostra o professor motivando aqueles jovens a irem lutar pelo seu país. A segunda mostra o mesmo professor convidando para algumas palavras o único que retorna para a casa (e que depois retornaria ao front), recebendo em troca um discurso de revolta, criticando duramente a maneira selvagem com a qual o homem deseja solucionar os problemas entre nações.

Destaco também a reflexão de um dos soldados em frente ao amigo morto, mostrando mais uma vez o peso e a grandeza do roteiro de Sem Novidades no Front. Passando por outros ambientes (como os raros momentos de diversão das tropas com bebidas e mulheres; e os hospitais improvisados, que são verdadeiras prévias do inferno) só faltava ao longa um epílogo seco e poético. E ele está lá. Sem dúvida é um dos filmes de guerra que mais me impressionou positivamente, se revelando um dos grandes destaques do gênero.

Pena que a Humanidade não entendeu a mensagem tão pertinente há oitenta anos, mas infelizmente tão atual. O maior exemplo é que quando Sem Novidades no Front estreou na própria Alemanha, os Nazistas interrompiam a projeção para inserir propagandas de sua Doutrina. Já o ator Lew Ayres, que pegou gosto pela mensagem anti-guerra, estrelaria outros filmes sobre o assunto. Tais filmes seriam banidos dos cinemas de Chicago no momento em que os Estados Unidos se preparavam para entrar na Segunda Guerra Mundial. Além disso, Sem Novidades no Front se encontrou banido na Itália até 1956. Nota 10



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