terça-feira, 28 de abril de 2009

Aventuras de Tom Jones


Estreia - 6/10/1963 (nos EUA) - Confesso que esperava um filme mais satírico e irônico e fiquei um pouco decepcionado com As Aventuras de Tom Jones. Isso porque o currículo dessa produção de 1963 é de dar inveja. Começando com Oscar, ele tem quatro - filme, diretor, roteiro e trilha sonora, com outras seis indicações - ator, direção de arte, ator coadjuvante e três para atriz coadjuvante (sendo o único da História com esse feito - e ainda conseguiu perder). Globo de Ouro foram dois: filme de comédia ou musical e ator revelação, com mais quatro indicações. Três prêmios BAFTA: filme, filme inglês e roteiro, com duas indicações para ator e uma para atriz. Isso sem contar com um Grammy e outras dezenas de prêmios.

Curiosamente o filme só foi lançado no Brasil 27 anos depois de sua exibição nos cinemas americanos e europeus. Como notas da produção é interessante lembrar que era apenas o terceiro filme de Albert Finney, que além de sua atuação em Tom Jones receberia mais quatro indicações ao Oscar (a última em 2001 por Erin Bronkovich). Ele não achou seu papel sério o suficiente e exigiu créditos como produtor para poder fazê-lo. Despois trocou esse crédito por uma participação nos lucros. Também temos a estréia de Lynn Redgrave, na época promisora atriz que seria indicada duas vezes pela Academia. O destaque negativo é o fato do ator Hugh Griffith ter passado quase todo o tempo das filmagens bêbado. E o fato curioso é que a cena mais engraçada do filme, o "banquete sexy" consumiu três horas de filmagens e muito improviso.

Com toda essa ficha era de se esperar um filme melhor, apesar dele não ser um fiasco. O início mudo, contando o nascimento de Tom Jones já não é muito engraçado. O garoto foi criado por um aristocrata e nunca soube quem era sua mãe. A trilha da Orquestra Sinfônica de Londres é boa e o diretor Tony Richardson fez um ótmo trabalho. A diferença do roteiro, aclamado pela crítica, é que o narrador interage com o espectador, como alguns personagens algumas vezes fazendo o mesmo. Isso faz com que uma história clássica seja contada de uma maneira não-convencional, formato copiado por Hollywood nas décadas seguintes. Uma edição fora dos padrões também se destaca, mas há aquela maneira européia de se contar uma história, num ritmo bem lento. Isso faz com que o filme seja meio esquisito, algumas cenas excessivamente demoradas, como aquela em que várias pessoas saem a caça de um veado.

Há técnicas de filmagens que hoje são bem comuns, mas eram a modernidade em pessoa na década de 1960, como o congelamento de tela e a imagem em câmera rápida ou lenta. Quando conseguem expulsar o mulherengo Tom Jones da corte e o filme chega na metade, ele melhora bastante, fica menos enjoado e se torna mais leve, com brigas, confusões, reviravoltas. Finalmente estamos diante de uma comédia. A história, como um todo, é interessante e a forma como Tom Jones descobre suas origens e tem que lutar por um amor entre classes diferentes é ótima. Mas a narrativa é muito arrastada e por vezes penso que estou só esperando chegarmos aos vinte minutos finais. Quando eles chegam não decepcionam, com direito a duelo de espadas e uma condenação à forca.

Nesse ponto a mensagem do roteiro é que cultivar inimigos ao longo da vida é um risco e quando há uma oportunidade de te derrubar, todos fazem uma forcinha. A reviravolta final, com a verdade sobra a mãe do personagem-título e os esforços para salvar Tom da forca combinam muito bem com a ótima canção tirada da cartola nos últimos momentos.

Em 1963 a Academia, tradicionalmente, ignorou o trabalho de Stanley Kubrick, que lançou Dr. Fantástico naquele ano. O maior diretor de todos os tempos faria melhor do que As Aventuras de Tom Jones em Barry Lyndon, apesar do clima mais carregado. Outro que viu esse filme apenas bom se consagrar na noite do Oscar foi Hitchcock, que dirigiu à época o clássico Os Pássaros. O sempre lembrado Billy Wilder apostaria todas as fichas em Irma La Douce, com os mesmos protagonistas do premiado Se Meu Apartamento Falasse. Já Cleópatra, apesar do fracasso de bilheteria, coseguiria uma indicação, mas a Academia parecia disposta a enviar a estatueta de melhor filme para o outro lado do Atlântico. Nota 7


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