sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Dúvida



Estreia - 6/2 - Dúvida é um dos filmes mais complicados que eu já julguei em toda a minha vida. É tão difícil que tive dificuldade até em começar. A história se passa numa Igreja Católica no ano de 1964. O primeiro personagem a ganhar destaque é o Padre Flynn, interpretado por Phillip Seymour Hoffman. Seu sermão sobre a dúvida com certeza trará significados diferentes aos espectadores. Ao falar do homem perdido no mar que se guiava pelas estrelas, o Padre propõe um auto-questionamento constante em nossas vidas. Ele estaria falando do conhecimento que nos é imposto? Da normas de conduta que exigem que nós sigamos? Pode ser até mesmo das teorias rígidas que a Igreja insitia em corroborar e defender a imutabilidade através de séculos. O mais sensacional é que o Flynn toca nesses três assuntos ao longo de Dúvida.
Em seguida conhecemos a Irmã Aloysius, vivida por Meryl Streep. Há algumas semanas eu tenho falado sobre a auto-promoção da atriz na luta pelo seu terceiro Oscar. Depois de pensar que Sally Hawkins era uma injustiçada por Simplesmente Feliz, começo a crer que Streep tem motivos de sobra para o lobby que tem feito. Sua interpretação consegue superar seus últimos personagens (que alguns consideram insuperáveis). Voltando ao filme, ao repreender um aluno por ter encostado o braço na Irmã James (Amy Adams, da qual eu falo mais adiante), Meryl Streep começa a distribuir um show de expressões e mudanças de tom que torna sua interpretação irresistível. Ela questiona o sermão do Padre e não vê sentido em alterar seu comportamento de linha dura.
Já Irmã James é um freira de pouca idade, que leciona História no colégio da paróquia. O roteiro se utiliza de alguns embates entre as duas madres para mostrar a briga entre a rígida disciplina e a compreensão. As duas (uma sem falsa modéstia e a outra inconscientemente) acreditam que lidam com as mudanças do adolescente daquela época da melhor maneira possível.
Tudo isso ocorre em quinze ou vinte minutos do filme que utiliza a peça vencedora do Pulitzer escrita por John Patrick Shanley. Aliás, talvez o segredo do resultado acima da média seja o fato do próprio Shanley ter adaptado o roteiro e dirigido o longa (aliás, os enquadramentos são perfeitos, lembre-se que o filme se prende nas atuações e nas grandes falas, que se seguem de maneira espetacular).
Porém, Dúvida começa mesmo quando as suspeitas das duas madres recaem sobre a atenção exagerada que o Padre Flynn dá ao primeiro aluno negro da escola, de nome Donald. O discurso sobre a intolerância do homem que se sente injustiçado faz com que a Irmã James (Natalie Portman estava cotada antes de Amy Adams) se convencesse da inocência do Padre. Tudo no roteiro de Dúvida é feito de maneira velada, mas no mundo de hoje fica nítido logo de cara que estamos diante de um suposto caso de pedofilia e homossexualismo, se aproveitando da autoridade de Padre e diretor da escola. Repare que a Irmã James ensina a frase de Roosevelt (só devemos ter medo do próprio medo) no momento em que tudo está prestes a acontecer.
Na meia hora final a atriz Viola Davis (que junto com Streep, Hoffman e Adams foi indicada ao Oscar) aparece como a mãe de Donald. Uma participação surpreendente (e não só pela atuação). Passamos ainda por um conflito ético-moral de Irmã Aloysius, pelas versões e teses de defesa do Padre Flynn ("educação progressiva" é uma delas) e o conflito final entre Hoffman e Streep, numa cena que beira a antologia.
Eu tenho minha opinião sobre heróis e vilões em Dúvida. Eu sei o que eu faria se fosse cada uma daquelas pessoas. Eu escolhi uma versão, mesmo com medo de cometer graves injustiças. Mas não tem como bater o martelo de forma definitiva depois que Meryl Streep fala sua frase final (claro que não vou estragar o filme). Por isso que beira o impossível julgar uma história como essa. Só acho que se um filme faz você raciocinar da maneira com que Dúvida faz, é melhor considerá-lo logo algo inesquecível. Nota 10




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