segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Pra não passar em branco


Ontem rolou a festa do Oscar e como esse blog praticamente concentrou suas forças nas primeiras semanas de vida a esse evento, a segunda-feira pós-premiação não poderia deixar de ter um post sobre o momento.
A festa, como sempre, foi chata e longa. Porém, a tentativa de dar uma reformulada, dividindo os prêmios técnicos pelo momento do trabalho daqueles profissionais no filme, foi válida. O problema é que o tempo que eles ganharam com isso foi perdido em números musicais imensos (tudo bem, tinha a Beyoncé se requebrando, mas no Carnaval temos coisas melhores e com menos roupa em outros canais). Além disso, mesmo a bonita homenagem para vencedores antigos e indicados nas categorias de atuação se perdeu um pouco, já que demorava uns dez minutos para anunciar o vencedor.
Falando em vencedores, quem leu o blog nas últimas semanas já sabe que achei um exagero sem tamanho oito prêmios para Quem Quer Ser um Milionário?. Inclusive acho que ele briga com Frost/Nixon pela quinta vaga de melhor do ano. Agora que o estrago está feito, nossa missão é tentar entender o porquê da paixão por esse longa. Talvez para nós, acostumados com pobreza e com favela, a história do indiano que vive um conto de fadas no meio disso tudo não nos acrescente muita coisa. Acredito que os críticos e os cidadãos americanos tenham se apaixonado ou se deslumbrado com isso. Ele é muito parecido com Cidade de Deus, mas o filme de Fernando Meirelles é violento (nas cenas e nas palavras) e pode ter afastado um pouco aqueles responsáveis por seu reconhecimento.
Batman - O Cavaleiro das Trevas e principalmente Wall.E já nasceram clássicos e serão vistos e comentados por décadas. É uma pena que esse tenha vencido apenas na categoria animação e aquele apenas em edição de som e ator coadjuvante. Aliás, como era esperado, o momento mais emocionante de todas as doze cerimônias do Oscar que eu assisti foi a família de Heath Ledger recebendo o prêmio.
Sean Penn vencendo como melhor ator foi exagero também. Reconhecimento a ele não foi, pois o ator já levou um troféu por Sobre Meninos e Lobos. Acredito que tenham premiado a coragem de representar um dos gays mais famosos e controvesos da política americana, já que Mickey Rourke e Frank Langella (com certeza) e Brad Pitt (provavelmente) foram melhores que ele.
Kate Winslet vencendo como melhor atriz ficou com cara de reconhecimento tardio (e errado, já que ela atuou melhor em Foi Apenas um Sonho), mas só vi Meryl Streep e Angelina Jolie melhores que ela em O Leitor (e as duas já levaram Oscar).
Ator coadjuvante não preciso nem me alongar. Atriz coadjuvante, como disse na sexta-feira, era quase certo que ia para Penélope Cruz, o que foi lamentável. Uma interpretação exagerada, chata. Como Marisa Tomei já levou um (e sua atuação também não foi nada espetacular) a Academia não quis premiar as três novatas, que tem um futuro brilhante pela frente. Só espero que Amy Adams possa ser reconhecida daqui há alguns anos.
Agora, a única surpresa: Departures vencendo como melhor filme estrangeiro. Na sexta-feira eu disse que a temática vida/morte enche os olhos dos membros da Academia e fez com que essa produção japonesa roubasse a vaga de Gomorra. Talvez por esse motivo ele tenha tirado o troféu de Valsa com Bashir. A ironia é que esse era o único longa que não tinha para baixar na internet. Essa semana devem pipocar várias versões.
Milk e Quem Quer Ser um Milionário? vencendo como roteiro era óbvio, só que mais uma vez injusto. Por fim, O Curioso Caso de Benjamim Button só levou por efeitos visuais, especiais e maquiagem. A Duquesa (como é tradição em Hollywood) levou por figurino, que sempre vai para filmes de época. As categorias não citadas foram todas para Quem Quer Ser um Milionário? Sobre curtas e documentários eu falo em outra oportunidade, já comentando os vencedores que eu conseguir assistir.
Sobre Hugh Jackman, mesmo sendo uma festa chata ele se mostrou melhor que os últimos apresentadores.

Perguntas da SET
A revista SET, maior publicação sobre cinema no Brasil, levantou algumas bolas em sua edição de fevereiro, com perguntas que poderiam ser respondidas na cerimônia do Oscar. Algumas realmente alcançaram seu objetivo, enquanto outras não tem uma resposta certa e dependem do julgamento de cada um. Vamos falar um pouco delas:

* Heath Ledger será consagrado como o maior vilão do cinema?
A reportagem faz uma crítica a pessoas (e me incluo nessa lista) que afirmaram que o Coringa só foi indicado e só venceria por conta da morte de seu intérprete. Eu sempre disse que as pessoas assistiram Batman - O Cavaleiro das Trevas com um elemento emocional a mais, já sabendo que esse grande ator tinha falecido. Nunca disse que ele não merecia, apenas falei que, se Ledger estivesse vivo, provavelmente não seria indicado por um longa desse tipo.
Pois bem, a revista dá cinco opções de grandes vilões que poderiam tirar essa vaga. São eles: Hannibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes), Darth Vader (Star Wars), Norman Bates (Psicose), Amon Göth (A Lista de Schindler) e o Coringa de Jack Nicholson. Se mantendo nessas opções, ainda acho Darth Vader maior, já que não há um distanciamento histórico tal que possamos classificar Ledger como o vilão definitivo (apesar do fenômeno em torno dele nos últimos meses). Partindo da lista da AFI em 2003, têm alguns vilões bem interessantes que poderiam entrar nessa lista. Cito mais cinco: HAL 9000 (2001), Annie Wilkes (Louca Obsessão), Jack Torrence (O Iluminado), Exterminador do Futuro e Travis Bickle (Taxi Driver). Vale citar também Bonnie e Clyde, mas aí já se trata de vilões que torcemos a favor.
Resposta: Não sei.

* IMax pode ser o futuro da fotografia?
A reportagem fala dos quase trinta minutos de projeção de Batman - O Cavaleiro das Trevas rodados usando uma tecnologia específica para essas salas (a câmera pesa 35 quilos, sendo essa uma das dificuldades). A condição para a resposta afirmativa seria uma vitória desse longa na categoria. O prêmio ficou com Quem Quer Ser um Milionário?.
Resposta: Não sei, mas creio que sim (não vamos nos prender à opinião da Academia).

* O mundo finalmente está preparado para Danny Boyle?
Tudo bem que essa pergunta era apenas uma chamada para a entrevista com o diretor, mas a consagração do longa indiano dirigido por um inglês é o suficiente. O argumento a favor de Boyle é justamente o fato dele usar seu talento para fazer filmes tão diferentes, como Cova Rasa (infelizmente nunca vi), Trainspotting - Sem Limites (sensacional), Extermínio (muito bom), Caiu do Céu (infelizmente nunca vi) e Sunshine - Alerta Solar (que é bom).
Resposta: Sim (e que venham outros filmes).

* Quem Quer Ser um Milionário? é um Bollywood autêntico?
A bola levantada por essa pergunta é justamente uma que eu levantei logo nos primeiros dias do blog, ao falar pela primeira vez sobre Slumdog Millionaire. Apesar de ser a indústria de cinema que mais fatura e atrai público no mundo, não conhecemos quase nenhum (eu então não conheço nenhum) longa da Índia. A reportagem diz que a maioria das produções de lá "tem cenas de canto e dança a cada 15 minutos, três horas de duração e uma narrativa chapa-branca em que a realidade da pobreza indiana fica de fora (e mocinho e mocinha nem se beijam!)".
Resposta: Não. Não tem cenas de dança (apenas no final, talvez numa homenagem a Bollywood) e a narrativa não é tão chapa-branca. Está mais para o setor independente de Hollywood (o que parece ser bom).

* O Curioso Caso de Benjamin Button é o longa mais estranho da história do Oscar?

As outras cinco opções são Brazil - O Filme, Quero Ser John Malkovich, Amnésia, Cidade dos Sonhos e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças. Com essa lista, o longa estrelado por Brad Pitt é o menos estranho, isso sim. Não existe nada mais bizarro que a produção de David Lynch, descrita perfeitamente na reportagem como "filme noir de tons surrealistas, bem a gosto do diretor, de narrativa hipnótica, onírica e trama aberta para horas de discussões em bares que, na verdade, não chegarão a lugar algum". Meu voto vai para Cidade dos Sonhos.
Resposta: Não.

* Button e Forrest Gump são a mesma pessoa?

A reportagem aponta as cinco principais semelhanças: deficiência, amor eterno, passagem pela guerra, o fato de serem filhos pródigos e os conselhos da mãe. Eu acho forçar a barra dizer que O Curioso Caso de Benjamin Button é "semelhante" a Forrest Gump - O Contador de Histórias (que é melhor). Você pode achar até coisas parecidas nas personalidades e nas trajetórias dos dois personagens, mas os roteiros têm enfoques e propostas completamente diferentes.
Resposta: Não.

* De bebê ator a segundo Oscar?
Ron Howard mereceu uma nota especial pelo fato de estar em sets de filmagens desde o início de sua vida. Como foi dito por mim nos comentários de Frost/Nixon, Howard foi bem sucedido em filmes autorais, blockbusters e os tais "feitos para o Oscar". Entre os cinco indicados, seu longa era o melhor.
Resposta: Não, o prêmio foi para Danny Boyle.

* O Richard Nixon de Frank Langella seria o melhor Presidente das telas?

As opções seriam Presidente Palmer (Dennis Haysbert - 24 Horas), Merkin Muffler (Peter Sellers - Dr. Fantástico), Richard Nixon (Anthony Hopkins - Nixon), Josiah Barlett (Martin Sheen - West Wing) e George W. Bush (o próprio - Fahrenheit 11 de Setembro). Cada argumento é melhor que o outro. Desses cinco, não vi justamente o Nixon de Hopkins, mas acho todas as explicações da reportagem para os quatro restantes corretas. Só para registrar, Kubrick é meu diretor favorito, mas não entendo porque elevar Dr. Fantástico a obra-prima. Ele é muito bom, mas não o vejo como uma das maiores comédias de todos os tempos.
Resposta: Sim (na minha humilde opinião). Assim como no caso de Heath Ledger, seria necessário um distanciamento histórico, mas me arrisco a dizer que sim.

* Sean Penn fará a Academia sair do armário?
A chamada para uma entrevista com o ator fala sobre a personalidade difícil do mesmo e Penn fez questão de citar isso quando agradeceu pelo prêmio ontem a noite. Durante a conversa o repórter fala de O Segredo de Brokeback Mountain, que por ter temática gay nunca foi assistido por alguns membros da Academia.
Resposta: Sim, já que o fato dele interprtetar um gay não o levou à derrota. Falta saber se não foi o motivo de sua vitória.

* Como um novato salvou Milk?
Essa pergunta é a mais complexa de todas e já contei um pouco disso nos meus comentários sobre Milk - A Voz da Igualdade. A resposta é baseada exclusivamente na minha opinião.
Resposta: Acredito que o amor dedicado por Dustin Lance Black a esse filme foi maior que o habitual pelo fato dele estar escrevendo sobre um de seus ídolos, um dos seus heróis.

* Estamos diante da ressureição de Mickey Rourke?

Resposta: Sim
(Sean Penn fez questão de citar especificamente o ator e chamá-lo de amigo ao receber seu troféu).

* Estamos diante da ressureição de Robert Downey Jr.?

Resposta: Sim (depois de Homem de Ferro e Trovão Tropical, ambos sucesso de público e crítica em 2008, parece que Downey terá que fazer muita besteira para cair no ostracismo de novo).

* Estamos diante da ressureição de Marisa Tomei?

Resposta: Não se
i (depois de boas atuações em Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto em 2007 e O Lutador em 2008, Tomei provou que sabe escolher bons projetos independentes ou menores - e que continua gostosa, já que ela usa bastante o corpo nos dois filmes. Mas dos três citados pela SET, ela é quem precisa provar ainda um pouco mais).

* Chegou a vez de Penélope Cruz?

Resposta: Sim (como já foi dito acima, não daria o prêmio a ela por Vicky Cristina Barcelona - sua performance em Volver, pelo contrario, é fantástica. Mas a Academia quis assim).

* Chegou a vez de Josh Brolin?
Resposta: Não
(o ator está muito bem em Milk - A Voz da Igualdade, mas não foi o suficiente para superar a comoção mundial em cima de Heath Ledger).

* Casamentos são constrangedores para o Oscar?
Essa pergunta foi feita por uma das raras pessoas que achou O Casamento de Rachel um dos grandes longas de 2008. Para efeito de comparação foram citados alguns discursos constrangedores de padrinhos e noivas dos filmes Quatro Casamentos e um Funeral (reconhecido com uma indicação a melhor filme), Afinado no Amor e Dias Incríveis.
Resposta: Não sei (e não tem qualquer relevância isso).

* O recorde de indicações de Meryl Streep significa falta de opção em Hollywood?
Resposta: Sim (esse levantamento é muito pertinente. Acredito que as atuações femininas não têm sido no mesmo nível das masculinas nos últimos anos. Só que meu "sim" foi por anos anteriores. Em 2008 a indicação de Meryl Streep foi merecida e não "preguiçosa" como diz a reportagem. Tudo bem que Sally Hawkins de Simplesmente Feliz ficar de fora foi um absurdo - ela merecia vencer - mas a veterana atriz mandou muito bem esse ano).

* Philip Seymour Hoffman pode chegar ao patamar de Jack Nicholson?

Resposta: Acredito que sim
(justamente pelos motivos elencados na reportagem: "além da juventude e carreira relativamente curta, Hoffman costuma escolher personagens que a Academia gosta de premiar: derrotados com moral duvidosa, excêntricos com traços de redenção, e homens que guardam segredos terríveis ou têm personalidade complexa, o que gera atuações memoráveis").

* A Broadway é aqui?
Justamente por conta das adaptações de peças de teatro (uma tendência que eu comentei em post passado, ao falar de Frost/Nixon), a reportagem cita Stephen Daldry (diretor de O Leitor), Peter Morgan (roteirista de Frost/Nixon) e John Patrick Shanley (diretor de Dúvida) como crias da Broadway que conseguiram indicações para o Oscar.
Resposta: Pelo visto, não (já que nenhum levou o prêmio pra casa).

* Como O Leitor roubou o lugar de Batman - O Cavaleiro das Trevas?
Resposta: Com uma forte campanha publicitária (o que é de se lamentar, já que tanto esse filme quanto Milk - A Voz da Igualdade não chegam aos pés de obras como Wall.E e o próprio Batman).

* Kate Winslet sabe a receita do Oscar?

A brincadeira é com o fato de que Winslet, ao participar da série Extras interpretando ela mesma, fala que ela precisava de um filme sobre nazistas e Segunda Guerra (no estilo A Lista de Schindler e O Pianista) para levar um prêmio, depois de cinco indicações.
Resposta: Sim (se bem que ela agora disse que vai escolher papéis em que não apareça nua).

* Angelina Jolie é tudo isso?

A reportagem cita O Preço da Coragem, Garota Interrompida e Gia (além de A Troca) em comparação com filmes de ação no estilo de Capitão Sky e o Mundo de Amanhã, O Prourado e Lara Croft: Tomb Raider.
Resposta: Sim (o fato da atriz fazer papéis em longas de ação, praticamente no piloto automático, não tira o brilho de grandes interpretações - e elas se acumulam a cada ano).

* Pixar manda na Academia?
Resposta: Sim
(a Pixar nos últimos dez anos é a dona do gênero animação, sem dúvida).

* Batman - O Cavaleiro das Trevas foi o único esnobado?
Resposta: Não
(a própria reportagem cita cinco filmes que eu não vi: Gran Torino, W, Deixa Ela Entrar, Sinédoque Nova York e Choke; e dois que eu vi: Homem de Ferro e Foi Apenas um Sonho. Venho falando que Batman e o longa de Leonardo di Caprio foram os maiores injustiçados há muito tempo).

* Valsa com Bashir ganha ou perde com a situação da Faixa de Gaza?
Engraçado que a reportagem falava do lançamento nos cinemas mundias, contando como certa a vitória na categoria melhor filme estrangeiro.
Resposta: Pelo visto, perdeu (será que os membros da Academia não quiseram entrar em polêmica num momento tão delicado?).

* Os novatos podem estragar a festa?
A reportagem cita Richard Jenkins (Aprendendo a Viver), Melissa Leo (Rio Congelado) e Michael Shannon (Foi Apenas um Sonho).
Resposta: Não.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Resumo da maratona

Chegou o Carnaval! Sem delongas, para fechar a cobertura do Oscar, um resumo de tudo que aconteceu.

Acabou a maratona. Fico devendo os três filmes que concorrem a melhor estrangeiro e prometo comentários ao longo do ano. Além disso, faço um post com os vencedores nas quatro categorias "ignoradas" pelo blog, por conta da falta de tempo. Foram 28 produções comentadas em 45 dias. Veja as notas:

10
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Dúvida
Wall*E
9
Curioso Caso de Benjamin Button
Frost e Nixon - A Luta pela Democracia
Homem de Ferro
Quem Quer Ser um Milionário?
Valsa com Bashir
8
Foi Apenas um Sonho
Lutador
Simplesmente Feliz
Troca
Vicky Cristina Barcelona
7
Ato de Liberdade
Duquesa
Hellboy 2
Leitor
Na Mira do Chefe
Procurado
Trovão Tropical
6
Aprendendo a Viver
Bolt - O Supercão
Milk - A Voz da Igualdade
Revanche
Rio Congelado
5
Austrália
Casamento de Rachel
4
Kung Fu Panda


Não coloquei em ordem de preferência (e sim alfabética) para não estragar o post de final de ano com o ranking do blogueiro. Para ler todos os comentários clique no marcador Especial Oscar 2009 no canto esquerdo da tela.

Filmes comentados em 2009: 74
Filmes lançados em 2009: 22
Total de filmes do blog: 74

Dia 9 de Janeiro de 2009, fiz um post chamado "Não Vi e Gostei" com os longas que tinham vagas quase garantidas na festa desse domingo. Num exercício de auto-crítica vamos comparar minhas impressões antes e depois de vê-los:

Casamento de Rachel - "Só espero que não seja um drama muito pesado, pois além da atuação, o filme também deve ser bom para atingir um maior número de pessoas. Tem potencial para ser o 'independente do ano'." Aconteceu justamente o que não queria. O Casamento de Rachel possui uma boa atuação de Anne Hathaway (que nem é mais a favorita), mas não é um longa dos melhores, sendo realmente um drama muito pesado.
Curioso Caso de Benjamin Button - "Esse pode não pode ser o favorito, mas é o mais aguardado pelo blogueiro. David Fincher é sem dúvida um dos grandes diretores da atualidade." Fincher se firmou como um grande diretor (talvez até sobre um prêmio de consolação para ele) e Benjamin Button valeu cada segundo e centavo investido. Não é o melhor do ano (nem o melhor de sua carreira), mas faz jus às treze indicações. É o grande destaque tecnicamente ao lado de Batman - O Cavaleiro das Trevas.
Dúvida - "A ideia que passa é algo bem parado, que não atrairá grande público, mas deve ser de grande qualidade." Não tem nada de parado, o filme é de grande qualidade e merecia ser lembrado na lista de melhor filme. Um dos melhores para mim.
Foi Apenas um Sonho - "Forte candidato a injustiçado do ano." Infelizemente eu estava certo e a Academia preferiu lembrar da atuação de Kate Winslet em O Leitor e ignorar esse drama que se destaca na lista dos indicados. Daqui há alguns anos filmes como Milk e Casamento de Rachel vão ser apenas citados, enquanto Foi Apenas um Sonho continuará sendo visto.
Frost/Nixon - "Mais um filme com toda a pinta de ser parado, divertir pouco e exigir muita atenção." Esqueça isso tudo, foi a impressão mais errada que já tive de um filme em toda a minha vida. Frost/Nixon é especial e merece ser descoberto. Não tem nada de parado, diverte sim e não exige, mas prende (e muito) sua atenção.
Gran Torino - Não foi indicado a nada, mas arrebentou nas bilheterias e se tornou uma sombra para muito filme lembrado. Aguardo ansioso a estreia dele.
Last Chance Harvey - O filme foi pouco falado e acabou sem indicações.
Leitor - "Kate Winslet tem grandes chances de finalmente ganhar um Oscar, pena que na categoria coadjuvante." Nesse meio tempo, ela foi lembrada pela Academia na categoria atriz principal e tem um ligeiro favoritismo, para que possam reparar as injustiças do passado. O grande apelo do estúdio deu certo e O Leitor roubou a vaga de Batman - O Cavaleiro das Trevas entre os cinco melhores do ano.
Lutador - "Mickey Rourke tenta a redenção mais uma vez (...) O jovem diretor Darren Aronofsky vem crescendo na carreira e passou a ser ainda mais respeitado após vencer o Leão de Ouro de melhor diretor no Festival de Veneza." Outra boa surpresa do ano foi O Lutador. Rourke alcançou a tão esperada redenção e divide os holofotes com Sean Penn na noite de domingo. Aronofsky não foi indicado, mas tem um futuro brilhante pela frente.
Milk - "James Franco venceu o NBOR de ator coadjuvante, o que talvez garanta a ele uma indicação e se torne um concorrente de peso para Heath Ledger. Já Sean Penn lidera a corrida na categoria de ator." Franco foi lembrado, mas a vitória de Ledger é quase garantida. Já Penn era barbada até O Lutador ganhar destaque e colocar Rourke à sua sombra. Como disse na quarta-feira, achei exagero as oito indicações para Milk.
Quem Quer Ser um Milionário? - "Não daria esse filme como favorito porque talvez seja um longa que agrade a crítica (está perto da unanimidade), mas não os membros da Academia." Não só a crítica, mas toda a comunidade de cinema dos Estados Unidos adotou Quem Quer Ser um Milionário? e ele está com uma mão na taça.
Simplesmente Feliz - "Quem já viu o longa diz que ela (Sally Hawkins) é a dona do filme". Realmente o show é dela e foi um absurdo sua não-indicação. Simplesmente Feliz só foi lembrado por seu grande roteiro.
Troca - "É um drama com cara de suspense e cara de indicação para Angelina Jolie. Não deve ir mais longe que isso." Na verdade, foram três indicações para o filme e a produção caprichada foi o destaque. É um excelente filme e merece um troféu de recordação (talvez em Direção de Arte).
Valsa com Bashir - "Se for mesmo uma mistura de Identidade Bourne com Persépolis, vai ser um dos meus favoritos." Valsa com Bashir não foi tão longe como eu previa, mas o suficiente para ser um dos melhores do ano.
Wendy e Lucy - sem indicações.

Já dia 22 de Janeiro, no post "30 Dias para a Glória", falei um pouco dos indicados, anunciados nesse dia. Vamos rever as oito categorias principais, citando o favorito, o meu voto entre os cinco e os ignorados.

Melhor Filme
Curioso Caso de Benjamin Button
Frost e Nixon - A Luta pela Democracia
Leitor
Milk - A Voz da Igualdade
Quem Quer Ser um Milionário?
O favorito: Quem Quer Ser um Milionário?
Meu voto: Curioso Caso de Benjamin Button
Quem poderia estar: cito três filmes. Se a Academia fosse ousada, indicaria Wall*E que chega à cerimônia como o melhor filme de 2008. Se fosse para fazer justiça, indicava Batman - O Cavaleiro das Trevas. Se for para citar o ignorado dentro da tradição do Oscar, cito Dúvida. Esses três longas no lugar de Leitor, Milk e Frost/Nixon (infelizmente) faria a lista dos cinco melhores de 2008 ser impecável.


Melhor Diretor
Curioso Caso de Benjamin Button - David Fincher
Frost e Nixon - A Luta pela Democracia - Ron Howard
Leitor - Stephen Daldry
Milk - A Voz da Igualdade - Gus Van Sant
Quem Quer Ser um Milionário? - Danny Boyle
O favorito: Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?)
Meu voto: David Fincher (Curioso Caso de Benjamin Button)
Quem poderia estar: Christopher Nolan (Batman - O Cavaleiro das Trevas)


Melhor Ator
Aprendendo a Viver - Richard Jenkins
Curioso Caso de Benjamin Button - Brad Pitt
Frost e Nixon - A Luta pela Democracia - Frank Langella
Lutador - Mickey Rourke
Milk - A Voz da Igualdade - Sean Penn
Os favoritos: Mickey Rourke (Lutador) e Sean Penn (Milk)
Meu voto: Frank Langella (Frost e Nixon)
Quem poderia estar: Leonardo di Caprio (Foi Apenas um Sonho)


Melhor Atriz
Casamento de Rachel - Anne Hathaway

Dúvida - Meryl Streep

Leitor - Kate Winslet

Rio Congelado - Melissa Leo

Troca - Angelina Jolie

A favorita: Kate Winslet (Leitor), mesmo estando melhor em Foi Apenas um Sonho
Meu voto: Meryl Streep (Dúvida)
Quem poderia estar: Sally Hawkins (Simplesmente Feliz) - Maior injustiça de 2008


Melhor Ator Coadjuvante
Batman - O Cavaleiro das Trevas - Heath Ledger
Dúvida - Philip Seymour Hoffman

Foi Apenas um Sonho - Michael Shannon

Milk - A Voz da Igualdade - Josh Brolin

Trovão Tropical - Robert Downey Jr.

O favorito: Heath Ledger (Batman - O Cavaleiro das Trevas)
Meu voto: Heath Ledger (Batman - O Cavaleiro das Trevas), com menção honrosa a Michael Shannon (Foi Apenas um Sonho).
Quem poderia estar: David Kross (Leitor), ator com grande futuro pela frente. Para quem entende que ele aparece demais e não se enquadra como coadjuvante, cito Haaz Sleiman (Aprendendo a Viver). Isso forçando um pouco, já que a lista está excelente nessa categoria.


Melhor Atriz Coadjuvante
Curioso Caso de Benjamin Button - Taraji P. Henson

Dúvida - Amy Adams

Dúvida - Viola Davis
Lutador - Marisa Tomei

Vicky Cristina Barcelona - Penélope Cruz
A favorita: Não sei. Dizem que é a Penelope Cruz (Vicky Cristina Barcelona), mas deve sobrar para Viola Davis (Dúvida).
Meu voto: Amy Adams (Dúvida)
Quem poderia estar: não tem nenhuma atuação melhor que essas cinco na categoria.

Melhor Roteiro Original
Milk - A Voz da Igualdade

Na Mira do Chefe

Rio Congelado

Simplesmente Feliz

Wall*E

O favorito: Milk - A Voz da Igualdade
Meu voto: Wall*E (infelizmente tiraria a única chance de Simplesmente Feliz levar alguma coisa)
Quem poderia estar: Valsa com Bashir

Melhor Roteiro Adaptado
Curioso Caso de Benjamin Button

Dúvida
Frost e Nixon - A Luta pela Democracia

Leitor

Quem Quer Ser um Milionário?

O favorito: Quem Quer Ser um Milionário?
Meu voto: Curioso Caso de Benjamin Button (é o melhor roteiro, apesar do de Dúvida ter permitido um filme melhor).
Quem poderia estar: Foi Apenas um Sonho e Batman - O Cavaleiro das Trevas

O ideal seria falar de melhor filme estrangeiro (mas não vi três dos indicados) e animação (que só tem Wall*E esse ano). Mas, deixa pra lá.

Veja os outros indicados e os comentários no post 30 Dias para a Glória. O Oscar acontece domingo, às 23:00 com transmissão apenas da TNT (a Globo deve exibir alguns flashes entre um desfile e outro). A partir de 14:00 a E! começa sua programação especial.

Quem Quer Ser um Milionário?



Estreia - 6/3 - Hollywood é um lugar muito engraçado. Ano passado a lista dos indicados ao Oscar ficou marcado pelo excesso de sangue e violência, faltando um filme mais "leve" para tentar um equilíbrio. Esse ano a indústria produz Wall*E e Batman - O Cavaleiro das Trevas (que fecham a lista dos grandes lançamentos ainda imbatíveis) e a Academia indica cinco dramas para o prêmio de melhor filme. A explicação para Quem Quer Ser um Milionário? vir com tudo para a vitória nas categorias principais não é fácil. Na minha opinião ele ganhou pontos por ser o longa menos sissudo e talvez o que divirta mais entre os cinco indicados.

O roteiro conta a história de Jamal, um chaiwalla (vendedor de chá) "cheio de verdade", morador de uma favela de uma grande cidade da Índia que participa de programa no estilo Show do Milhão e cria controvérsia ao mesmo tempo que comove o país ao acertar pergunta atrás de pergunta. Não existia trapaça. Na verdade, Jamal buscava em experiências vividas por ele as respostas corretas. Apesar de não ser arrebatadora, a história é muito bem construída, tem boas atuações (os três atores que interpretam o protagonista são carismáticos e defendem bem o papel) e se destaca a trilha sonora pop-indiana, liderada pela canção da cantora M.I.A.

O longa entretém mais do que os dramas habituais desse ano, mas está longe de ser o filme mais completo. Sua comparação com Cidade de Deus é muito pertinente, já que foco é a estética da pobreza e da violência, utilizando o mesmo roteiro-estilingue do filme dirigido por Fernando Meirelles. A favela indiana talvez seja ainda pior que a nossa e a cena inicial das crianças correndo da polícia lembra muito o longa brasileiro. Até a M.I.A., que levou o funk carioca lá pra fora está na trilha. Talvez a Academia queira reparar o misto de injustiça e azar por Cidade de Deus ter recebido quatro indicações justo no ano em que Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei levou tudo.

Bollywood, a indústria cinematográfica indiana tem muito mais força que nosso pobre cinema nacional e Quem Quer Ser um Milionário? ainda teve a sorte de contar com um Danny Boyle inspirado na direção (há cenas muito bonitas, mesmo se passando num lugar tão feio). O ambiente cheio de maldade e pessoas ruins não é o suficiente para que Jamal se corrompa e deixe de escrever uma bonita trajetória, que vamos descobrindo aos poucos. Por fim, ele merece a recompensa por não se deixar levar por um sistema falido. Mesmo tendo uma história triste, não devemos embarcar no ceticismo com que parte da crítica fora dos Estados Unidos têm tratado o longa. A maneira na qual retrata o povo indiano dá de banho na pasteurizada novela das oito da Globo e a mensagem universal de integridade e honestidade é válida.

Além disso, dá para conhecer bastante a cultura do país e ainda sobra espaço para surpresas. Não é injustiça se Quem Quer Ser um Milionário? vença como melhor roteiro superando a história fantástica de O Curioso Caso de Bejmamim Button. Entendo que o Oscar é um prêmio político, por isso que mesmo não concordando que esse seja o melhor filme do ano, não tiro a credibilidade do prêmio. Se daqui há uma década ele será mais lembrado que Cidade de Deus (não adianta, está nítida a inspiração) ou qualquer outro filme de 2008, eu não sei. Creio que não. Mas o slumdog se mostrou uma grande pedra no sapato de muito gigante. Nota 9



Oscar 2009
Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 28
Filmes para comentar: 3

Filmes comentados em 2009: 74
Filmes lançados em 2009: 21
Total de filmes do blog: 74

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Os Outros

Sabe aquele momento da festa do Oscar que você muda de canal, levanta pra tomar um café ou pegar um biscoito pra não dormir na cadeira? Então, provavelmente é o momento que estão anunciando os vencedores dos prêmios menores. Minha intenção era assistir a todos os 51 indicados em todas as categorias, mas a maldita prova da OAB não me permitiu. Sendo assim, comento dois longas lembrados para melhor filme estrangeiro (incluindo o grande favorito, Valsa com Bashir) e falo brevemente das outras 23 produções.

Melhor Filme Estrangeiro
Valsa com Bashir
(leia comentário aqui)

Revanche
(leia comentário aqui)

Entre Os Muros da Escola
A estreia no Brasil está marcada para o dia 13 de Março. Ao lado de Valsa com Bashir, Entre Os Muros da Escola é o filme com mais chance de levar o Oscar. Venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2008 e conseguiu cinco indicações ao César, o Oscar da França. A história lembra um pouco Ao Mestre com Carinho e esses filmes de relação professor-aluno em lugares conturbados. Também foi lembrado no Independent Spirit Awards, na categoria filme estrangeiro. O que deve pesar contra ele é que não é um roteiro muito diferente, ao contrário da produção de Israel.

Der Baader Meinhof Komplex
Esse filme tem data de estreia programada para o dia 3 de Julho e conta a história do surgimento da RAF, organização terrotista alemã que surgiu na década de 1970. A Alemanha conseguiu um Oscar recente pelo excelente A Vida dos Outros (atualmente passando na HBO) e tenta repetir a dose. Der Baader Meihof Komplex foi lembrando no Bafta e no Globo de Ouro, mas chega ao Oscar sem nenhum prêmio importante. Parece ser um bom filme, orçado em 20 milhões de guerra (e com algumas cenas de sexo pra variar, senão não seria filme europeu).

Okuribito
Talvez a grande surpresa entre os cinco indicados, esse filme japonês (sem previsão de estreia no Brasil) tirou o lugar de Gomorra da Itália. Esse drama conta a história de um músico que ao ser demitido de seu trabalho numa orquestra, volta para sua cidade-natal para ser coveiro. Fala de vida e morte (algo que a crítica adora) e mesmo tendo passado por festivais menos importantes em 2008 achou uma vaga entre os cinco melhores do ano para a Academia.

Como prometido, as outras quatro categorias (sem comentários devido a falta de tempo. Dizem que é barbada as vitórias de Man on Wire e Presto - curta de animação da Pixar que passou junto com Wall*E nos cinemas):

Melhor Documentário
  • The Betrayal
  • Encounters at the End of the World
  • The Garden
  • Man on Wire
  • Trouble the Water

Melhor Documentário-Curta
  • The Conscience of Nhem En
  • The Final Inch
  • Smile Pinki
  • The Witness

Melhor Curta-Metragem
  • Auf der Strecke
  • Manon on the Asphlat
  • New Boy
  • The Pig
  • Spielzeuglan

Melhor Animação-Curta
  • La Maison en Petits Cubes
  • Lavatory - Lovestory
  • Oktapodi
  • Presto
  • This Way Up

Valsa com Bashir



Estreia - 3/4 - Como pode um filme ser ao mesmo tempo uma animação, um longa de guerra e um documentário? Valsa com Bashir usa uma tática parecida com Persépolis e consegue sair de Israel para virar cult instantaneamente. O filme começa com o personagem principal encontrando um ex-soldado israelense. Esse conta sobre seus sonhos esquisitos e traumas de guerra e aquele percebe que se lembra muito pouco do que aconteceu na invasão do Líbano de vinte anos atrás.
Depois disso ele sai a procura de informações sobre o período, colhendo relatos de outros soldados, fotógrafos e de pessoas que cobriram o conflito para jornais. A forma alternativa de se contar uma história e o dinamismo com que é realizado hipnotiza o espectador da mesma forma que a história da iraniana que vai para a Europa fez ano passado. São cenas de batalhas, matança nos campos de refugiados e momentos de lazer dos soldados, sempre acompanhados de uma trilha sonora fantástica, toda em ritmo de rock e com letras que lembram passagens do conflito. A arte do filme e a reconstituição daqueles momentos são simplesmente perfeitos, mas por ser um drama de guerra não espere um roteiro fácil (o de Persépolis entretém mais).
Destaque para a cena que dá nome ao filme, na época em que o cristão Bashir, líder libanês, foi assasinado enquanto costurava uma aliança com os judeus. Valsa com Bashir retrata a espécie de "Dia D" daquele país e é necessáiro para quem quer entender um pouco mais sobre o Oriente Médio. O choque de realidade no final é pertinente e só dá um complemento ainda melhor a esse longa maravilhoso, que diverte menos e é menos completo que Persépolis. Nota 9




Oscar 2009
Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 27
Filmes para comentar: 4


Filmes comentados em 2009: 73
Filmes lançados em 2009: 20
Total de filmes do blog: 73

Revanche



Sem previsão de estreia -
A maioria das sinopses de Revanche se resume a uma frase: "homem assalta banco para conseguir dinheiro e fugir com sua namorada, que deseja largar a prostituição". É um argumento simplista, que esconde um pouco as qualidades desse filme da Áustria, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Primeiro é bom que se diga que o casal é formado por dois imigrantes ilegais (ela veio da Ucrânia e ele provavelmente da Rússia ou Polônia). Depois, que se trata de um longa com poucas mas pesadas cenas de sexo, sendo a primeira hora um resumo da vida num bordel clandestino. Por fim, poucos citam a história paralela de um policial que passa por crise em seu casamento já que não consegue ter filhos.
Dito isso, segue Revanche com suas características típicas de filmes europeus: ritmo desequilibrado, um meio um pouco desinteressante e lento com uma conclusão, na maioria das vezes, aberta. O assalto que tanto falam na história acontece logo no início. Ele dá errado e a prostituta acaba tomando um tiro do policial e morre. Depois disso, o foco do roteiro muda um pouco para a vida desse homem, que vê crescer um sentimento de culpa que vai matando sua vontade de trabalhar e até de viver. Por outro lado, o assaltante Alex se refugia no sítio de seu avô e passa a morar perto do casal. Há culpa na fisionomia dele, mas há desejo de se vingar do homem que matou o amor da sua vida.
Filmes assim às vezes se prendem em reviravoltas, que quase sempre não acontecem. Não é o caso de Revanche. É interessante ver dois homens unidos pelo sentimento de culpa (e outras coisas também), que se sentem perseguidos e vão se tornando cada vez mais agressivos. Johannes Krisch vai muito bem como o protagonista (só o seu bigode estilo Jason Lee em My Name is Earl que é esquisito), mas não espere muitas lições do filme. Apesar de ser de um país sem tradição no cinema, você pode assistir sem medo. Nota 6



Oscar 2009
Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 26
Filmes para comentar: 5


Filmes comentados em 2009: 72
Filmes lançados em 2009: 20
Total de filmes do blog: 72

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A que vem

Acabou a graça do post. O lançamento de Frost e Nixon - A Luta pela Democracia foi adiado para 6 de Março e o título do post não tem mais razão de existir. Porém, como só descobri isso hoje de manhã, não tinha como voltar atrás. Vamos falar de Milk e Frost/Nixon mesmo assim. Com aconteceu ontem, dois longas parecidos (ambientados no turbulento momento político dos Estados Unidos do final da década de 1970) com resultados diferentes. Amanhã tem os indicados nas categorias menores e os dois filmes que concorrem na categoria de estrangeiro que consegui ver (não encontrei legenda para os outros três). Tudo isso para que você leia o comentáiro de Quem Quer Ser um Milionário? na sexta e pule carnaval tranquilo, sabendo tudo o que vai acontecer no domingo.

Frost e Nixon - A Luta pela Democracia



Estreia - 6/3 - A maior surpresa entre os indicados ao Oscar esse ano, sem dúvida é Frost/Nixon. O que parecia ser algo chato, parado e com diálogos complicados, se mostrou um dos melhores filmes do ano e até bem-humorado. Aliás, em 2009 a premiação da Academia ficará conhecida como o ano das adaptações de peças teatrais. Depois de Dúvida ser adaptado pelo próprio John Patrick Shanley, Frost/Nixon foi escrito originalmente e adaptado por Peter Morgan, o mesmo de O Último Rei da Escócia, A Rainha e A Outra - pela primeira vez adaptando seu próprio material vindo do teatro.
O longa começa de forma semelhante a JFK - A Pergunta que Não Quer Calar, num estilo semi-documental, apresentando os personagens (excelente elenco de apoio), resumindo muito bem o que foi o escândalo Watergate, responsável pela renúncia do Presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon no dia 8 de Agosto de 1974. A biografia completa de Nixon já foi objeto de um filme de Oliver Stone, produzido em 1995. Anthony Hopkins receberia uma das quatro indicações desse filme ao Oscar. Frost/Nixon foi mais longe: indicou seu protagonista, Frank Langella (que acaba de completar 71 anos), além de quatro outras nomeações (filme, diretor, roteiro adaptado e edição).
Talvez um dos segredos da qualidade do filme é que, além da adaptação ser feita pelo próprio autor, o elenco é o mesmo da bem-sucedida peça de teatro. Langella está perfeito no papel de um Nixon que tenta passar serenidade e auto-controle enquando o mundo amassa a sua cabeça. Já Michael Sheen (que fez Tony Blair em A Rainha) interpreta David Frost, apresentador de talk-show britânico simpático, metido a engraçado que não se conforma em não fazer sucesso nos Estados Unidos. Ao assistir à renúncia de Nixon e o perdão do novo Presidente Gerald Ford, ele vê uma chance de aparecer para o mundo entrevistando o republicano.
Feita a introdução, o que se vê depois é uma mistura de drama político dos bons (esqueça coisas muita paradas como Boa Noite e Boa Sorte) com um enfoque jornalístico sensacional. Nixon trata a entrevista como um duelo, já prevendo que Frost, da maneira mais cínica possível, representará a opinião pública. Já o entrevistador vai deixando de lado a auto-promoção ao se dar conta da importância do fato para o povo americano, tratando a entrevista como o julgamento que Nixon nunca teria (por conta da anistia dada por Ford).
A luta de Frost para conseguir patrocínio e vender para emissoras americanas a entrevista, o extenso trabalho de pesquisa dos colaboradores (dos dois lados), os bastidores de um evento que já nascia histórico, está tudo da maneira mais direta possível. A atuação de Langella só vai crescendo e Frost/Nixon se tornando em cinema de primeira. Talvez o diretor Ron Howard tenha achado seu filme definitivo, aos 54 anos de idade. Ele possui dos Oscars, como diretor e produtor de Uma Mente Brilhante. Tem grandes sucessos de bilheteria, como O Código da Vinci, O Grinch, Coccon, Splash. Dirigiu coisas divertidas como Willow, Apollo 13, O Preço de um Resgate e EdTv. Além disso, produziu A Troca, outra filmaço de 2008. Mas no futuro, quando quiserem o longa mais completo, que deixe claro as qualidades de Howard como diretor, esse filme será Frost/Nixon (por enquanto, torço para que ele se supere daqui pra frente).
Na entrevista em si, tudo parece uma luta de boxe. Adversários se estudando, provocações para que o outro lado baixe a guarda e instruções dos "treinadores" nos intervalos. Nixon se defendeu em seu livro lançado logo depois, mas essa série de encontros (iniciados em 23 de Março de 1977 - quase três anos depois da renúncia) permitiu ao povo dos Estados Unidos a declaração de culpa que eles tanto esperavam. Frost não começaria bem, mas foi se transformando de mero entrevistador, que pagou 600 mil dólares para uma entrevista chapa branca, num homem que luta para tirar as respostas do entrevistado - cada um usando suas armas.
Os últimos 40 minutos não deixam você piscar. E o que dizer dos últimos dez? Sem contar que aquela velha máxima de "conhecer o passado para entender o presente" está aqui. Quer um exemplo? Que tal colocar os Estados Unidos em conflitos armados baseado em fatos que se mostraram mentiras? Por fim, a conclusão de que Nixon era um homem que não gostava de gente e sua motivação está bem definida ao longo do filme, concorde ou não. Se eu fosse americano, guardaria Frost/Nixon na estante. Nota 9




Oscar 2009
Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 25
Filmes para comentar: 6

Filmes comentados em 2009: 71
Filmes lançados em 2009: 19
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Milk - A Voz da Igualdade



Estreia - 20/2 - A vida começa aos 40, já ouviu essa frase? Pois bem, Milk é um homossexual na San Francisco do início da década de 1970. Apesar da explosão da contracultura ter nessa cidade uma de suas capitais, os tempos eram de intolerância e ser gay era um crime a ser punido. Perto de completar 40 anos e apaixonado por Scott, ele decide mudar pelo menos o bairro onde mora e criar ali um centro de comércio para homossexuais. Gus Van Sant faz uma boa reconstituição da década de 1970 e utiliza seu estilo característico em prol da história. Milk é interpretado por um Sean Penn muito inspirado numa interpretação muito intensa (não conheço o verdadeiro Harvey Milk).
A luta pela integração e pela tolerância é pautada por cenas fortes de amor entre pessoas do mesmo sexo (há pessoas que ficam chocadas ou constrangidas com isso) e é uma pena que o filme em si seja um pouco panfletário ou lento em algumas partes. Quando a empreitada de Milk vai ganhando força econômica entra em cena a luta política pelos direitos civis dos gays, os confrontos com a polícia local e a chegada de pessoas que vão aderindo à causa. Scott está muito bem defendido por um James Franco, que pela primeira vez em sua carreira ganha destaque. Emile Hirsch faz um michê afetado que se torna um dos ativistas mais apaixonados. A trajetória de Milk tem o fim trágico entregue desde o início (ele mesmo grava uma fita já no receio de ser assassinado) e a parte que se concetra no drama político do homem que precisou de quatro eleições para se tornar supervisor da cidade de San Francisco é interessante. As alianças políticas, a oposição de Dan White (mais um grande reforço no elenco com Josh Brolin) e a série de referendos pelo país são alguns destaques.
Há discussões que são pertinentes até hoje, mas a preocupação em se manter neutro e evitar a polêmica não deixa espaço para os embates no roteiro. A trilha sonora de Danny Elfman, utilizando a ópera como fundo de todo o filme, irrita um pouco, mas a Academia gostou e a indicou para o Oscar. Aliás, houve um pouco de exagero nas oito indicações para Milk (as outras sete são: filme, diretor, ator, roteiro original, ator coadjuvante - Josh Brolin, edição e figurino). Van Sant, Penn e o roteirista Dustin Lance Black (de apenas 34 anos e que escreve também a série Big Love) mereciam ser lembrados, mas as outras cinco indicações foram um pouco a mais. O longa utiliza como base o documentário The Times of Harvey Milk, que venceu em sua categoria o Oscar em 1985. Claro que o que fica é a atuação de Sean Penn, num ano de grandes interpretações para filmes apenas corretos, como esse. Nota 6




Oscar 2009
Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 24
Filmes para comentar: 7

Filmes comentados em 2009: 70
Filmes lançados em 2009: 18
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A passada

Como prometido na semana passada, começa hoje a série de quatro posts comentando mais alguns indicados ao Oscar. No final das contas só devo ficar devendo os documentários e curtas e três dos cinco indicados a melhor filme estrangeiro (que comentarei ao longo do ano). Sem perder tempo, hoje o blog fala dos dois longas que estrearam na sexta-feira passada. Pra variar, dois dramas, mas com características e resultados bem diferentes. Enquanto O Casamento de Rachel se arrasta na sua frente, O Lutador é dinâmico, diverte mais e prende sua atenção até o fim. Para terminar tem a bilheteria, já que esse é o primeiro post de cinema na semana.

Casamento de Rachel



Estreia - 13/2 - O filme conta a histórica de uma Kym (Anne Hathaway - indicada ao Oscar de melhor atriz pelo filme) que sai da clínica de reabilitação para viciados em drogas para ir ao casamento de sua irmã. De cara você percebe como a atriz se esforça para entregar uma atuação acima da média (mas ela só consegue mesmo do meio pra frente). Kym é uma garota expansiva, dramática, que tem uma necessidade constante de ser o centro das atenções, algo muito parecido com a personagem de Poppy de Simplesmente Feliz. Só que as duas agem de maneira bem diferente em relação a vida, talvez porque Kym tenha passado por uma experiência horrível que foi ser a responsável pela morte do irmão mais novo.
O restante da família não fica atrás. A irmã Rachel parece ser a mais normal (e isso é dito pela personagem de Hathaway em determinado momento). A mãe (Debra Winger, irreconhecível) é desnaturada e praticamente abandonou as filhas depois da morte do filho. O pai, também por culpa desse evento, se tornou excessivamente protetor.
O longa em si é uma espécie de "big brother" do casamento de Rachel. Todos os preparativos, os jantares com aqueles discursos (os americanos adoram isso), a cerimônia (num estilo indiano, mas meio esquisito) e por aí vai. O estilo câmera na mão, sempre em cenários fechados, com cortes bruscos de edição aproximam o clima do filme ao de um documentário. Entre uma festa e outra, Kym continua seu tratamento numa espécie de Narcóticos Anônimos e algumas brigas acontecem em reuniões de família.
A síntese do filme está na cena em que ela faz o discurso sobre a necessidade constante que ela tem de se desculpar (como eu disse, ela faz muito drama). O problema é que O Casamento de Rachel é apenas mais um drama familiar muito carregado, que não acha o equilíbrio necessário para facilitar o trabalho de quem assiste. É uma sequência de discursos e diálogos um pouco chatos (tudo dá errado pra Kym também) e ao final ainda tem dez minutos da festa de casamento só com dança, abrindo para aquele final "do nada a lugar algum". É o primeiro roteiro de Jenny Lumet, filha de Sidney Lumet, o que pode explicar a história pouco atrativa. Nota 5



Oscar 2009
Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 23
Filmes para comentar: 8

Filmes comentados em 2009: 69
Filmes lançados em 2009: 17
Total de filmes do blog: 69

Lutador



Estreia - 13/2 - Há algo de especial no filme O Lutador. A história é um pouco semelhante a de Rocky Balboa, lançado há dois anos e fala de um homem que só se sente vivo dentro de um ringue. Mickey Rourke (indicado ao Oscar de melhor ator e vencedor do prêmio no Festival de Veneza) foi taxado de "freak" por conta de sua caracterização, mas sua performance é fantástica e há uma explicação para isso. O ex-galã, que foi destaque no cinema na década de 1980 estrela um filme semi-biográfico. No início dos anos 1990, Rourke abandonou a carreira de ator para se dedicar ao boxe e tal escolha trouxe sérios danos à sua pessoa (e a sua carreira).
Dessa forma, tudo o que o personagem Randy (The Ram, ou O Carneiro) fala está muito bem defendido, percebendo nitidamente a sinceridade da atuação de Rourke. O lutador gente boa que se exibe para poucos espectadores no final de semana divide espaço com um operário comum, trabalhador de um supermercado. Quando ele exagera em uma luta (que envolve grampeadores e uma perna mecânica - aliás, há cenas bem violentas), Ram para no hospital e precisa operar o coração. O médico informa que é impossível fazer o mesmo esforço que ele fazia antes e o lutador precisa se aposentar.
Descoberto isso, o homem precisa recuperar o amor de sua filha e levar adiante sua paixão por uma stripper (Marisa Tomei, indicada ao Oscar de coadjuvante, por conta de suas poles e taps dances sensacionais). A vida mais saudável fora dos ringues não comporta mais aquele homem solitário, que mora num trailer improvisado e precisa de pouco para passar o dia. Só que nesse ponto da vida, o mundo já deu as costas a Rourke (o ator e o personagem).
O papel melancólico é digno de prêmio da Academia sim, já que o ator encontrou a medida ideal para que Ram não fosse um amargurado ao extremo e para que O Lutador se transformasse num grande filme. Já a stripper interpretada por Tomei é praticamente ignorada em seu ambiente de trabalho e tem medo de se arriscar num romance com um cara que visita bar de strippers, claro.
A direção de Darren Aronofsky (em seu quarto filme elogiado na sequência, mas infelizmente esse é o primeiro que assisto) ajuda bastante. Minha cena preferida é quando Ram, começando na função de cortador de frios no supermercado, imagina estar escutando a multidão gritar seu nome. A canção de Bruce Springsteen é boa, mas O Lutador possui outras pérolas do rock na sua trilha sonora (o que só ajuda). Para quem viveu os anos 1980, o longa deve ser ainda melhor. Os vinte minutos finais fizeram O Lutador subir mais um ponto. Nota 8





Oscar 2009

Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 22
Filmes para comentar: 9

Filmes comentados em 2009: 68
Filmes lançados em 2009: 16
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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Filmes de gente grande

Dia 6 de Fevereiro estreou dois postulantes ao Oscar com algo em comum: retraram uma época de mudanças na sociedade (décadas de 1950 e 1960) e se apoiam em dramas com roteiros densos e boas atuações. As semelhanças param por aí. Enquanto Dúvida tem grandes cenas e é como uma porrada no estômago, O Leitor (apesar de muito bom) não justifica estar na lista dos cinco melhores filmes do ano para a Academia.

Dúvida



Estreia - 6/2 - Dúvida é um dos filmes mais complicados que eu já julguei em toda a minha vida. É tão difícil que tive dificuldade até em começar. A história se passa numa Igreja Católica no ano de 1964. O primeiro personagem a ganhar destaque é o Padre Flynn, interpretado por Phillip Seymour Hoffman. Seu sermão sobre a dúvida com certeza trará significados diferentes aos espectadores. Ao falar do homem perdido no mar que se guiava pelas estrelas, o Padre propõe um auto-questionamento constante em nossas vidas. Ele estaria falando do conhecimento que nos é imposto? Da normas de conduta que exigem que nós sigamos? Pode ser até mesmo das teorias rígidas que a Igreja insitia em corroborar e defender a imutabilidade através de séculos. O mais sensacional é que o Flynn toca nesses três assuntos ao longo de Dúvida.
Em seguida conhecemos a Irmã Aloysius, vivida por Meryl Streep. Há algumas semanas eu tenho falado sobre a auto-promoção da atriz na luta pelo seu terceiro Oscar. Depois de pensar que Sally Hawkins era uma injustiçada por Simplesmente Feliz, começo a crer que Streep tem motivos de sobra para o lobby que tem feito. Sua interpretação consegue superar seus últimos personagens (que alguns consideram insuperáveis). Voltando ao filme, ao repreender um aluno por ter encostado o braço na Irmã James (Amy Adams, da qual eu falo mais adiante), Meryl Streep começa a distribuir um show de expressões e mudanças de tom que torna sua interpretação irresistível. Ela questiona o sermão do Padre e não vê sentido em alterar seu comportamento de linha dura.
Já Irmã James é um freira de pouca idade, que leciona História no colégio da paróquia. O roteiro se utiliza de alguns embates entre as duas madres para mostrar a briga entre a rígida disciplina e a compreensão. As duas (uma sem falsa modéstia e a outra inconscientemente) acreditam que lidam com as mudanças do adolescente daquela época da melhor maneira possível.
Tudo isso ocorre em quinze ou vinte minutos do filme que utiliza a peça vencedora do Pulitzer escrita por John Patrick Shanley. Aliás, talvez o segredo do resultado acima da média seja o fato do próprio Shanley ter adaptado o roteiro e dirigido o longa (aliás, os enquadramentos são perfeitos, lembre-se que o filme se prende nas atuações e nas grandes falas, que se seguem de maneira espetacular).
Porém, Dúvida começa mesmo quando as suspeitas das duas madres recaem sobre a atenção exagerada que o Padre Flynn dá ao primeiro aluno negro da escola, de nome Donald. O discurso sobre a intolerância do homem que se sente injustiçado faz com que a Irmã James (Natalie Portman estava cotada antes de Amy Adams) se convencesse da inocência do Padre. Tudo no roteiro de Dúvida é feito de maneira velada, mas no mundo de hoje fica nítido logo de cara que estamos diante de um suposto caso de pedofilia e homossexualismo, se aproveitando da autoridade de Padre e diretor da escola. Repare que a Irmã James ensina a frase de Roosevelt (só devemos ter medo do próprio medo) no momento em que tudo está prestes a acontecer.
Na meia hora final a atriz Viola Davis (que junto com Streep, Hoffman e Adams foi indicada ao Oscar) aparece como a mãe de Donald. Uma participação surpreendente (e não só pela atuação). Passamos ainda por um conflito ético-moral de Irmã Aloysius, pelas versões e teses de defesa do Padre Flynn ("educação progressiva" é uma delas) e o conflito final entre Hoffman e Streep, numa cena que beira a antologia.
Eu tenho minha opinião sobre heróis e vilões em Dúvida. Eu sei o que eu faria se fosse cada uma daquelas pessoas. Eu escolhi uma versão, mesmo com medo de cometer graves injustiças. Mas não tem como bater o martelo de forma definitiva depois que Meryl Streep fala sua frase final (claro que não vou estragar o filme). Por isso que beira o impossível julgar uma história como essa. Só acho que se um filme faz você raciocinar da maneira com que Dúvida faz, é melhor considerá-lo logo algo inesquecível. Nota 10




Oscar 2009
Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 21
Filmes para comentar: 10

Filmes comentados em 2009: 67
Filmes lançados em 2009: 15 (4 para estrear)
Total de filmes do blog: 67

Leitor



Estreia - 6/2 - O Leitor é dirigido por Stephen Baldry (Billy Elliot e As Horas) e estrelado por Kate Winslet. Aliás, não sei porque ela foi indicada a alguns prêmios como coadjuvante, já que o longa é todo dela. Em Berlim na década de 1950 um adolescente, Michael, passa mal na rua e é socorrido por Hanna (Winslet). A partir daí eles criam um vínculo que mistura desejo e gratidão de ambas as partes. Ele passa a tarde lendo obras clássicas para ela e ao final do dia eles fazem amor.
A primeira meia hora é um bombardeio de cenas de sexo (aliás, por isso que "vazou" fotos de Winslet nua, já que não faria falta, dada a quantidade de momentos em que ela passa sem roupa). O jovem ator David Kross se sai bem e parece a vontade nas cenas mais difíceis. O romance fora dos padrões vivido pelo casal muda um pouco de figura quando Hanna desaparece e a história dá um salto no tempo. Já como estudante de Direito, Michael presencia o julgamento de sua ex-amante por assassinatos contra judeus na Segunda Guerra Mundial. A gratidão vira decepção e o aspirante a juiz vê a dificuldade de se manter imparcial num julgamento movido por emoção (questão ética que passa desapercebida para a maioria e poderia ser mais explorada). Hanna na verdade nunca abriu sua vida para o jovem Michael.
Permeando as cenas do passado, vamos conhecendo o Michel já adulto e importante jurista, agora vivido por Ralph Fiennes (fechando com chave de ouro o ano de Na Mira do Chefe e A Duquesa), o ritmo de O Leitor não é dos mais animadores, mas trata-se de um grande filme. Aquele tipo que a Academia gosta, com tudo no lugar (a trilha certinha, as atuações dignas). Há mistério, surpresa, uma narrativa que passeia pelo tempo. O Leitor faz o estilo de Desejo e Reparação, que conseguiu um lugar entre os finalistas do Oscar do ano passado (a cronologia e anti-clímax são idênticos). Com o desenrolar da história, o bonito romance vai se concretizando e pode ser que muitos se emocionem com a meia hora final. Não há julgamento de valores e entendemos por completo o que se passa. Eu achei Kate Winslet melhor em Foi Apenas um Sonho. Na minha opinião, O Leitor é um longa com coisas boas e ruins e achei exagerado e injusto que essa produção tenha roubado a vaga de Batman - O Cavaleiro das Trevas nas categorias filme e direção (ele ainda foi indicado a roteiro, atriz e fotografia). Nota 7



Oscar 2009
Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 20
Filmes para comentar: 11

Filmes comentados em 2009: 66
Filmes lançados em 2009: 14
Total de filmes do blog: 66

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Até quando?

Todo ano as distribuidoras brasileiras (que devem ser composta por amadores) comem mosca e alguns filmes indicados só estreiam (quando estreiam) na telona quado a cerimônia já passou. Esse ano, afora os cinco longas indicados como melhor filme estrangeiro (que serão objetos de um post na semana que vem) e o grande favorito Quem Quer Ser um Milionário? (ainda não acredito que isso irá acontecer), quatro produções estão nessa situação. Para que o blogueiro possa cumprir sua meta de assistir os 31 longas de ficção que tem chance de levar uma estatueta pra casa daqui a onze dias, tive que me utilizar de meios pouco ortodoxos para ter como falar dos quatro filmes que você lê abaixo. Todos eles entram na lista de 2009, mesmo Aprendendo a Viver, que ninguém sabe (se) quando chega por aqui.


Visitante



Estreia - 13/3 - O Visitante (também chamado de Aprendendo a Viver) conta a história de Walter, um professor universitário viúvo que opta por levar dias de solidão, enquanto tenta aprender a tocar piano, ofício de sua falecida esposa. A falta de paciência e vontade de superar a perda fica clara quando, numa determinada cena, o protagonista mostra que nem as provas que ele aplica para sua turma são refeitas, ele apenas repete as perguntas do período passado. Sem contar a história do livro que ele finge que escreve.
A vida de Walter começa a mudar quando ele aceita participar de um congresso no Estado de Nova York. Chegando em seu velho apartamento ele dá de cara com um casal de imigrantes (um homem da Síria e uma mulher do Senegal). Aos poucos o personagem recupera um pouco do gosto pela vida, em mais um drama pouco inovador no estilo que a Academia gosta. Richard Jenkins foi indicado ao Oscar na categoria melhor ator numa interpretação boa, daquele jeito contido dos longas do gênero. Aliás, como sempre as atuações são acima da média.
A grande virada mesmo acontece quando o imigrante Tarek (muito bem interpretado por Haaz Sleiman) é preso, momento no qual o roteiro se transforma em algo mais crítico, mais global e mais interessante. A repressão do governo dos Estados Unidos ao imigrantes depois do 11 de Setembro não é algo novo, mas a forma com que O Visitante trata o tema vale e pena assistir. As aulas de música que Walter e Tarek compartilham e a mensagem a favor de um recomeço, independente da idade (o que na prática é algo muito difícil), transforma o longa em algo agradável de ser visto. Nota 6




Oscar 2009
Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 19
Filmes para comentar: 12

Filmes comentados em 2009: 65
Filmes lançados em 2009: 13
Total de filmes do blog: 65

Ato de Liberdade



Estreia - 24/4 - O título original pode significar desafio, provocação, ousadia ou rebeldia. Todas essas palavras se encaixam nessa história real de um grupo de irmãos judeus, residentes na Bielorússia em meio a Segunda Guerra. Ao ver os pais e boa parte de sua comunidade ser assassinada, a única saída que eles têm é fugir para a floresta, já que os alemães contavam com apoio de parte da população local para exterminar os judeus.
Aos poucos outros fugitivos pedem socorro aos irmãos e Tuvia, o mais velho deles, vai se tornando um líder de uma nova comunidade judaica montada às pressas. Daniel Craig faz o papel do homem que rapidamente consegue alimentar sua sede de vingança ao buscar o assassino dos pais. Com o passar do tempo, os judeus vão formando uma espécie de exército movidos pelo mesmo ódio que os anti-semitas despejavam sobre eles.
Apesar de ser um tema batido, raramente vemos uma produção que trata da resistência do povo perseguido por Hitler. No meio do conflito os judeus devem manter um pacto de não agressão com o Exército Vermelho, superar a escassez de comida e o inverno rigoroso. Há espaço para o romance e ação (que se não é constante, tem momentos pontuais e grandiosos) e Um Ato de Liberdade vai se revelando um filme completo. Craig monta muito bem o papel do homem que vai se transformando tomado pela frieza e explode quando vê sua liderança questionada. Ele e Liev Schreiber (rosto conhecido dos cinéfilos) mandam bem nos diálogos em russo.
O diretor Edward Zwick dirige seu quarto filme bom em dez anos (Nova York Sitiada, O Último Samurai e Diamante de Sangue) e ainda produz e escreve. As boas cenas de guerra, principalmente em meio ao inverno rigoroso da época (lembrando Tempo de Glória, outro bom filme de Zwick) me fez lamentar a única indicação do longa ao Oscar de melhor trilha sonora (além da fraca bilheteria nos Estados Unidos). Mas, como Tuvia diz no filme: "nossa vingança é sobreviver". Será descoberto aos poucos pelo público. Nota 7




Oscar 2009

Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 18
Filmes para comentar: 13

Filmes comentados em 2009: 64
Filmes lançados em 2009: 12
Total de filmes do blog: 64

Rio Congelado



Estreia - 20/2 - Rio Congelado se passa na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá, mais precisamente no extremo leste. Lá somos apresentados a uma mãe de família que é abandonada pelo marido e precisa se dobrar num trabalho que rende pouco e cuidar de dois filhos, um de cinco e outro de quinze anos. Quando ela descobre que um dos seus carros está nas mãos de uma índia da tribo Mohawk (que tem imunidade de jurisdição para os dois lados da fronteira), ela se envolve numa trapaça que transporta imigrantes ilegais do Canadá aos Estados Unidos de carro, passando por cima de um rio, que fica congelado no inverno.
A indicada ao Oscar de melhor atriz Melissa Leo faz um papel difícil, carregado, de mulher sofrida e o faz de maneira contida e brilhante, lembrando muito Fernanda Montenegro em Central do Brasil. Rio Congelado possui um roteiro pertinente, falando sobre a pobreza que vai tomando conta de parte da população americana. Ao mesmo tempo que a vida nos Estados Unidos ainda é um sonho para muito estrangeiros (no filme temos chineses e paquistaneses).
É um drama familiar, com ritmo cadenciado em que as coisas vão se desenhando lentamente e de forma previsível. Histórias paralelas como o filho mais velho da protagonista (que aplica pequenos golpes por telefone) e da própria índia que não pode criar seu filho mestiço ajudam a enriquecer a trama. Não é completo, mas se revela um bom filme. Nota 6




Oscar 2009

Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 17
Filmes para comentar: 14

Filmes comentados em 2009: 63
Filmes lançados em 2009: 11
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Simplesmente Feliz



Estreia - 27/3 - Mike Leigh sabe fazer comédia. Pena que ele demorou mais de 60 anos para descobrir isso. Tudo o que você precisa saber ou utilizar como argumento a favor ou contra a persoagem principal (Poppy, com uma grande atuação de Sally Hawkins) está na primeira cena do filme: ela entra numa livraria e pega na estante um livro chamado "Rua para a realidade", ao passo em que ela diz "não quero nunca ir para lá".
Depois disso o roteiro passa a contar a vida de Poppy, uma solteirona de 30 anos de idade que gosta de levar a vida da maneira mais leve possível. Ela puxa assunto com as pessoas na rua, faz piada de tudo, tenta ser adorável com todos e não se preocupa com nenhuma problema que possa aparecer, rindo sempre. Alguns dirão que ela veio ao mundo ao passeio, outros reclamarão de sua falta de responsabilidade, mas Poppy quer apenas se divertir. Sua profissão não é das mais fáceis (professora de jardim de infância), mas ela vai levando.
Simplesmente Feliz se passa em quatro ambientes-base, onde a protagonista transita: o trabalho, a casa que ela divide com uma amiga, as aulas de dança flamenca que ela insiste aprender (rendendo momentos hilários) e as aulas de direção com Scott. Esse, interpretado por Eddie Marsan, é o oposto de Poppy. É um solitário ranzinza, negativista, que insiste em reclamar de tudo (um ser humano mais "adaptado" às cidades grandes, principalmente da Inglaterra.) É legal ver como a mulher vai usando sua experiência num lugar em outro (enrahah).
No meio do filme há uma cena de uns dez minutos com um mendigo que serve como interlúdio. Depois disso Poppy vai percebendo que não conseguirá levar a vida toda na flauta, a importância de coisas que ela vem desprezando (alguém falou em homem aí?) e a necessidade de manter-se em equilíbrio. O roteiro mereceu a indicação ao Oscar (pena que Hawkins e Leigh foram desprezados) e mesmo perdendo força no final, as conclusões que são tiradas (não falo para não estragar) fazem Simplesmente Feliz valer a pena. Mais inteligente, impossível. Nota 8


Oscar 2009
Filmes indicados: 31 (exceto curtas e documentários)
Filmes comentados: 16
Filmes para comentar: 15

Filmes comentados em 2009: 62
Filmes lançados em 2009: 10
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