Ontem rolou a festa do Oscar e como esse blog praticamente concentrou suas forças nas primeiras semanas de vida a esse evento, a segunda-feira pós-premiação não poderia deixar de ter um post sobre o momento.
A festa, como sempre, foi chata e longa. Porém, a tentativa de dar uma reformulada, dividindo os prêmios técnicos pelo momento do trabalho daqueles profissionais no filme, foi válida. O problema é que o tempo que eles ganharam com isso foi perdido em números musicais imensos (tudo bem, tinha a Beyoncé se requebrando, mas no Carnaval temos coisas melhores e com menos roupa em outros canais). Além disso, mesmo a bonita homenagem para vencedores antigos e indicados nas categorias de atuação se perdeu um pouco, já que demorava uns dez minutos para anunciar o vencedor.
Falando em vencedores, quem leu o blog nas últimas semanas já sabe que achei um exagero sem tamanho oito prêmios para Quem Quer Ser um Milionário?. Inclusive acho que ele briga com Frost/Nixon pela quinta vaga de melhor do ano. Agora que o estrago está feito, nossa missão é tentar entender o porquê da paixão por esse longa. Talvez para nós, acostumados com pobreza e com favela, a história do indiano que vive um conto de fadas no meio disso tudo não nos acrescente muita coisa. Acredito que os críticos e os cidadãos americanos tenham se apaixonado ou se deslumbrado com isso. Ele é muito parecido com Cidade de Deus, mas o filme de Fernando Meirelles é violento (nas cenas e nas palavras) e pode ter afastado um pouco aqueles responsáveis por seu reconhecimento.
Batman - O Cavaleiro das Trevas e principalmente Wall.E já nasceram clássicos e serão vistos e comentados por décadas. É uma pena que esse tenha vencido apenas na categoria animação e aquele apenas em edição de som e ator coadjuvante. Aliás, como era esperado, o momento mais emocionante de todas as doze cerimônias do Oscar que eu assisti foi a família de Heath Ledger recebendo o prêmio.
Sean Penn vencendo como melhor ator foi exagero também. Reconhecimento a ele não foi, pois o ator já levou um troféu por Sobre Meninos e Lobos. Acredito que tenham premiado a coragem de representar um dos gays mais famosos e controvesos da política americana, já que Mickey Rourke e Frank Langella (com certeza) e Brad Pitt (provavelmente) foram melhores que ele.
Kate Winslet vencendo como melhor atriz ficou com cara de reconhecimento tardio (e errado, já que ela atuou melhor em Foi Apenas um Sonho), mas só vi Meryl Streep e Angelina Jolie melhores que ela em O Leitor (e as duas já levaram Oscar).
Ator coadjuvante não preciso nem me alongar. Atriz coadjuvante, como disse na sexta-feira, era quase certo que ia para Penélope Cruz, o que foi lamentável. Uma interpretação exagerada, chata. Como Marisa Tomei já levou um (e sua atuação também não foi nada espetacular) a Academia não quis premiar as três novatas, que tem um futuro brilhante pela frente. Só espero que Amy Adams possa ser reconhecida daqui há alguns anos.
Agora, a única surpresa: Departures vencendo como melhor filme estrangeiro. Na sexta-feira eu disse que a temática vida/morte enche os olhos dos membros da Academia e fez com que essa produção japonesa roubasse a vaga de Gomorra. Talvez por esse motivo ele tenha tirado o troféu de Valsa com Bashir. A ironia é que esse era o único longa que não tinha para baixar na internet. Essa semana devem pipocar várias versões.
Milk e Quem Quer Ser um Milionário? vencendo como roteiro era óbvio, só que mais uma vez injusto. Por fim, O Curioso Caso de Benjamim Button só levou por efeitos visuais, especiais e maquiagem. A Duquesa (como é tradição em Hollywood) levou por figurino, que sempre vai para filmes de época. As categorias não citadas foram todas para Quem Quer Ser um Milionário? Sobre curtas e documentários eu falo em outra oportunidade, já comentando os vencedores que eu conseguir assistir.
Sobre Hugh Jackman, mesmo sendo uma festa chata ele se mostrou melhor que os últimos apresentadores.
Pois bem, a revista dá cinco opções de grandes vilões que poderiam tirar essa vaga. São eles: Hannibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes), Darth Vader (Star Wars), Norman Bates (Psicose), Amon Göth (A Lista de Schindler) e o Coringa de Jack Nicholson. Se mantendo nessas opções, ainda acho Darth Vader maior, já que não há um distanciamento histórico tal que possamos classificar Ledger como o vilão definitivo (apesar do fenômeno em torno dele nos últimos meses). Partindo da lista da AFI em 2003, têm alguns vilões bem interessantes que poderiam entrar nessa lista. Cito mais cinco: HAL 9000 (2001), Annie Wilkes (Louca Obsessão), Jack Torrence (O Iluminado), Exterminador do Futuro e Travis Bickle (Taxi Driver). Vale citar também Bonnie e Clyde, mas aí já se trata de vilões que torcemos a favor.
Resposta: Não sei.
* IMax pode ser o futuro da fotografia?
A reportagem fala dos quase trinta minutos de projeção de Batman - O Cavaleiro das Trevas rodados usando uma tecnologia específica para essas salas (a câmera pesa 35 quilos, sendo essa uma das dificuldades). A condição para a resposta afirmativa seria uma vitória desse longa na categoria. O prêmio ficou com Quem Quer Ser um Milionário?.
Resposta: Não sei, mas creio que sim (não vamos nos prender à opinião da Academia).
* O mundo finalmente está preparado para Danny Boyle?
Tudo bem que essa pergunta era apenas uma chamada para a entrevista com o diretor, mas a consagração do longa indiano dirigido por um inglês é o suficiente. O argumento a favor de Boyle é justamente o fato dele usar seu talento para fazer filmes tão diferentes, como Cova Rasa (infelizmente nunca vi), Trainspotting - Sem Limites (sensacional), Extermínio (muito bom), Caiu do Céu (infelizmente nunca vi) e Sunshine - Alerta Solar (que é bom).
Resposta: Sim (e que venham outros filmes).
* Quem Quer Ser um Milionário? é um Bollywood autêntico?
A bola levantada por essa pergunta é justamente uma que eu levantei logo nos primeiros dias do blog, ao falar pela primeira vez sobre Slumdog Millionaire. Apesar de ser a indústria de cinema que mais fatura e atrai público no mundo, não conhecemos quase nenhum (eu então não conheço nenhum) longa da Índia. A reportagem diz que a maioria das produções de lá "tem cenas de canto e dança a cada 15 minutos, três horas de duração e uma narrativa chapa-branca em que a realidade da pobreza indiana fica de fora (e mocinho e mocinha nem se beijam!)".
Resposta: Não. Não tem cenas de dança (apenas no final, talvez numa homenagem a Bollywood) e a narrativa não é tão chapa-branca. Está mais para o setor independente de Hollywood (o que parece ser bom).
* O Curioso Caso de Benjamin Button é o longa mais estranho da história do Oscar?
As outras cinco opções são Brazil - O Filme, Quero Ser John Malkovich, Amnésia, Cidade dos Sonhos e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças. Com essa lista, o longa estrelado por Brad Pitt é o menos estranho, isso sim. Não existe nada mais bizarro que a produção de David Lynch, descrita perfeitamente na reportagem como "filme noir de tons surrealistas, bem a gosto do diretor, de narrativa hipnótica, onírica e trama aberta para horas de discussões em bares que, na verdade, não chegarão a lugar algum". Meu voto vai para Cidade dos Sonhos.
Resposta: Não.
* Button e Forrest Gump são a mesma pessoa?
A reportagem aponta as cinco principais semelhanças: deficiência, amor eterno, passagem pela guerra, o fato de serem filhos pródigos e os conselhos da mãe. Eu acho forçar a barra dizer que O Curioso Caso de Benjamin Button é "semelhante" a Forrest Gump - O Contador de Histórias (que é melhor). Você pode achar até coisas parecidas nas personalidades e nas trajetórias dos dois personagens, mas os roteiros têm enfoques e propostas completamente diferentes.
Resposta: Não.
* De bebê ator a segundo Oscar?
Ron Howard mereceu uma nota especial pelo fato de estar em sets de filmagens desde o início de sua vida. Como foi dito por mim nos comentários de Frost/Nixon, Howard foi bem sucedido em filmes autorais, blockbusters e os tais "feitos para o Oscar". Entre os cinco indicados, seu longa era o melhor.
Resposta: Não, o prêmio foi para Danny Boyle.
* O Richard Nixon de Frank Langella seria o melhor Presidente das telas?
As opções seriam Presidente Palmer (Dennis Haysbert - 24 Horas), Merkin Muffler (Peter Sellers - Dr. Fantástico), Richard Nixon (Anthony Hopkins - Nixon), Josiah Barlett (Martin Sheen - West Wing) e George W. Bush (o próprio - Fahrenheit 11 de Setembro). Cada argumento é melhor que o outro. Desses cinco, não vi justamente o Nixon de Hopkins, mas acho todas as explicações da reportagem para os quatro restantes corretas. Só para registrar, Kubrick é meu diretor favorito, mas não entendo porque elevar Dr. Fantástico a obra-prima. Ele é muito bom, mas não o vejo como uma das maiores comédias de todos os tempos.
Resposta: Sim (na minha humilde opinião). Assim como no caso de Heath Ledger, seria necessário um distanciamento histórico, mas me arrisco a dizer que sim.
* Sean Penn fará a Academia sair do armário?
A chamada para uma entrevista com o ator fala sobre a personalidade difícil do mesmo e Penn fez questão de citar isso quando agradeceu pelo prêmio ontem a noite. Durante a conversa o repórter fala de O Segredo de Brokeback Mountain, que por ter temática gay nunca foi assistido por alguns membros da Academia.
Resposta: Sim, já que o fato dele interprtetar um gay não o levou à derrota. Falta saber se não foi o motivo de sua vitória.
* Como um novato salvou Milk?
Essa pergunta é a mais complexa de todas e já contei um pouco disso nos meus comentários sobre Milk - A Voz da Igualdade. A resposta é baseada exclusivamente na minha opinião.
Resposta: Acredito que o amor dedicado por Dustin Lance Black a esse filme foi maior que o habitual pelo fato dele estar escrevendo sobre um de seus ídolos, um dos seus heróis.
* Estamos diante da ressureição de Mickey Rourke?
Resposta: Sim (Sean Penn fez questão de citar especificamente o ator e chamá-lo de amigo ao receber seu troféu).
* Estamos diante da ressureição de Robert Downey Jr.?
Resposta: Sim (depois de Homem de Ferro e Trovão Tropical, ambos sucesso de público e crítica em 2008, parece que Downey terá que fazer muita besteira para cair no ostracismo de novo).
* Estamos diante da ressureição de Marisa Tomei?
Resposta: Não sei (depois de boas atuações em Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto em 2007 e O Lutador em 2008, Tomei provou que sabe escolher bons projetos independentes ou menores - e que continua gostosa, já que ela usa bastante o corpo nos dois filmes. Mas dos três citados pela SET, ela é quem precisa provar ainda um pouco mais).
* Chegou a vez de Penélope Cruz?
Resposta: Sim (como já foi dito acima, não daria o prêmio a ela por Vicky Cristina Barcelona - sua performance em Volver, pelo contrario, é fantástica. Mas a Academia quis assim).
* Chegou a vez de Josh Brolin?
Resposta: Não (o ator está muito bem em Milk - A Voz da Igualdade, mas não foi o suficiente para superar a comoção mundial em cima de Heath Ledger).
* Casamentos são constrangedores para o Oscar?
Essa pergunta foi feita por uma das raras pessoas que achou O Casamento de Rachel um dos grandes longas de 2008. Para efeito de comparação foram citados alguns discursos constrangedores de padrinhos e noivas dos filmes Quatro Casamentos e um Funeral (reconhecido com uma indicação a melhor filme), Afinado no Amor e Dias Incríveis.
Resposta: Não sei (e não tem qualquer relevância isso).
* O recorde de indicações de Meryl Streep significa falta de opção em Hollywood?
Resposta: Sim (esse levantamento é muito pertinente. Acredito que as atuações femininas não têm sido no mesmo nível das masculinas nos últimos anos. Só que meu "sim" foi por anos anteriores. Em 2008 a indicação de Meryl Streep foi merecida e não "preguiçosa" como diz a reportagem. Tudo bem que Sally Hawkins de Simplesmente Feliz ficar de fora foi um absurdo - ela merecia vencer - mas a veterana atriz mandou muito bem esse ano).
* Philip Seymour Hoffman pode chegar ao patamar de Jack Nicholson?
Resposta: Acredito que sim (justamente pelos motivos elencados na reportagem: "além da juventude e carreira relativamente curta, Hoffman costuma escolher personagens que a Academia gosta de premiar: derrotados com moral duvidosa, excêntricos com traços de redenção, e homens que guardam segredos terríveis ou têm personalidade complexa, o que gera atuações memoráveis").
* A Broadway é aqui?
Justamente por conta das adaptações de peças de teatro (uma tendência que eu comentei em post passado, ao falar de Frost/Nixon), a reportagem cita Stephen Daldry (diretor de O Leitor), Peter Morgan (roteirista de Frost/Nixon) e John Patrick Shanley (diretor de Dúvida) como crias da Broadway que conseguiram indicações para o Oscar.
Resposta: Pelo visto, não (já que nenhum levou o prêmio pra casa).
* Como O Leitor roubou o lugar de Batman - O Cavaleiro das Trevas?
Resposta: Com uma forte campanha publicitária (o que é de se lamentar, já que tanto esse filme quanto Milk - A Voz da Igualdade não chegam aos pés de obras como Wall.E e o próprio Batman).
* Kate Winslet sabe a receita do Oscar?
A brincadeira é com o fato de que Winslet, ao participar da série Extras interpretando ela mesma, fala que ela precisava de um filme sobre nazistas e Segunda Guerra (no estilo A Lista de Schindler e O Pianista) para levar um prêmio, depois de cinco indicações.
Resposta: Sim (se bem que ela agora disse que vai escolher papéis em que não apareça nua).
* Angelina Jolie é tudo isso?
A reportagem cita O Preço da Coragem, Garota Interrompida e Gia (além de A Troca) em comparação com filmes de ação no estilo de Capitão Sky e o Mundo de Amanhã, O Prourado e Lara Croft: Tomb Raider.
Resposta: Sim (o fato da atriz fazer papéis em longas de ação, praticamente no piloto automático, não tira o brilho de grandes interpretações - e elas se acumulam a cada ano).
* Pixar manda na Academia?
Resposta: Sim (a Pixar nos últimos dez anos é a dona do gênero animação, sem dúvida).
* Batman - O Cavaleiro das Trevas foi o único esnobado?
Resposta: Não (a própria reportagem cita cinco filmes que eu não vi: Gran Torino, W, Deixa Ela Entrar, Sinédoque Nova York e Choke; e dois que eu vi: Homem de Ferro e Foi Apenas um Sonho. Venho falando que Batman e o longa de Leonardo di Caprio foram os maiores injustiçados há muito tempo).
* Valsa com Bashir ganha ou perde com a situação da Faixa de Gaza?
Engraçado que a reportagem falava do lançamento nos cinemas mundias, contando como certa a vitória na categoria melhor filme estrangeiro.
Resposta: Pelo visto, perdeu (será que os membros da Academia não quiseram entrar em polêmica num momento tão delicado?).
* Os novatos podem estragar a festa?
A reportagem cita Richard Jenkins (Aprendendo a Viver), Melissa Leo (Rio Congelado) e Michael Shannon (Foi Apenas um Sonho).
Resposta: Não.
A festa, como sempre, foi chata e longa. Porém, a tentativa de dar uma reformulada, dividindo os prêmios técnicos pelo momento do trabalho daqueles profissionais no filme, foi válida. O problema é que o tempo que eles ganharam com isso foi perdido em números musicais imensos (tudo bem, tinha a Beyoncé se requebrando, mas no Carnaval temos coisas melhores e com menos roupa em outros canais). Além disso, mesmo a bonita homenagem para vencedores antigos e indicados nas categorias de atuação se perdeu um pouco, já que demorava uns dez minutos para anunciar o vencedor.
Falando em vencedores, quem leu o blog nas últimas semanas já sabe que achei um exagero sem tamanho oito prêmios para Quem Quer Ser um Milionário?. Inclusive acho que ele briga com Frost/Nixon pela quinta vaga de melhor do ano. Agora que o estrago está feito, nossa missão é tentar entender o porquê da paixão por esse longa. Talvez para nós, acostumados com pobreza e com favela, a história do indiano que vive um conto de fadas no meio disso tudo não nos acrescente muita coisa. Acredito que os críticos e os cidadãos americanos tenham se apaixonado ou se deslumbrado com isso. Ele é muito parecido com Cidade de Deus, mas o filme de Fernando Meirelles é violento (nas cenas e nas palavras) e pode ter afastado um pouco aqueles responsáveis por seu reconhecimento.
Batman - O Cavaleiro das Trevas e principalmente Wall.E já nasceram clássicos e serão vistos e comentados por décadas. É uma pena que esse tenha vencido apenas na categoria animação e aquele apenas em edição de som e ator coadjuvante. Aliás, como era esperado, o momento mais emocionante de todas as doze cerimônias do Oscar que eu assisti foi a família de Heath Ledger recebendo o prêmio.
Sean Penn vencendo como melhor ator foi exagero também. Reconhecimento a ele não foi, pois o ator já levou um troféu por Sobre Meninos e Lobos. Acredito que tenham premiado a coragem de representar um dos gays mais famosos e controvesos da política americana, já que Mickey Rourke e Frank Langella (com certeza) e Brad Pitt (provavelmente) foram melhores que ele.
Kate Winslet vencendo como melhor atriz ficou com cara de reconhecimento tardio (e errado, já que ela atuou melhor em Foi Apenas um Sonho), mas só vi Meryl Streep e Angelina Jolie melhores que ela em O Leitor (e as duas já levaram Oscar).
Ator coadjuvante não preciso nem me alongar. Atriz coadjuvante, como disse na sexta-feira, era quase certo que ia para Penélope Cruz, o que foi lamentável. Uma interpretação exagerada, chata. Como Marisa Tomei já levou um (e sua atuação também não foi nada espetacular) a Academia não quis premiar as três novatas, que tem um futuro brilhante pela frente. Só espero que Amy Adams possa ser reconhecida daqui há alguns anos.
Agora, a única surpresa: Departures vencendo como melhor filme estrangeiro. Na sexta-feira eu disse que a temática vida/morte enche os olhos dos membros da Academia e fez com que essa produção japonesa roubasse a vaga de Gomorra. Talvez por esse motivo ele tenha tirado o troféu de Valsa com Bashir. A ironia é que esse era o único longa que não tinha para baixar na internet. Essa semana devem pipocar várias versões.
Milk e Quem Quer Ser um Milionário? vencendo como roteiro era óbvio, só que mais uma vez injusto. Por fim, O Curioso Caso de Benjamim Button só levou por efeitos visuais, especiais e maquiagem. A Duquesa (como é tradição em Hollywood) levou por figurino, que sempre vai para filmes de época. As categorias não citadas foram todas para Quem Quer Ser um Milionário? Sobre curtas e documentários eu falo em outra oportunidade, já comentando os vencedores que eu conseguir assistir.
Sobre Hugh Jackman, mesmo sendo uma festa chata ele se mostrou melhor que os últimos apresentadores.
Perguntas da SET
A revista SET, maior publicação sobre cinema no Brasil, levantou algumas bolas em sua edição de fevereiro, com perguntas que poderiam ser respondidas na cerimônia do Oscar. Algumas realmente alcançaram seu objetivo, enquanto outras não tem uma resposta certa e dependem do julgamento de cada um. Vamos falar um pouco delas:* Heath Ledger será consagrado como o maior vilão do cinema?
A reportagem faz uma crítica a pessoas (e me incluo nessa lista) que afirmaram que o Coringa só foi indicado e só venceria por conta da morte de seu intérprete. Eu sempre disse que as pessoas assistiram Batman - O Cavaleiro das Trevas com um elemento emocional a mais, já sabendo que esse grande ator tinha falecido. Nunca disse que ele não merecia, apenas falei que, se Ledger estivesse vivo, provavelmente não seria indicado por um longa desse tipo.Pois bem, a revista dá cinco opções de grandes vilões que poderiam tirar essa vaga. São eles: Hannibal Lecter (O Silêncio dos Inocentes), Darth Vader (Star Wars), Norman Bates (Psicose), Amon Göth (A Lista de Schindler) e o Coringa de Jack Nicholson. Se mantendo nessas opções, ainda acho Darth Vader maior, já que não há um distanciamento histórico tal que possamos classificar Ledger como o vilão definitivo (apesar do fenômeno em torno dele nos últimos meses). Partindo da lista da AFI em 2003, têm alguns vilões bem interessantes que poderiam entrar nessa lista. Cito mais cinco: HAL 9000 (2001), Annie Wilkes (Louca Obsessão), Jack Torrence (O Iluminado), Exterminador do Futuro e Travis Bickle (Taxi Driver). Vale citar também Bonnie e Clyde, mas aí já se trata de vilões que torcemos a favor.
Resposta: Não sei.
* IMax pode ser o futuro da fotografia?
A reportagem fala dos quase trinta minutos de projeção de Batman - O Cavaleiro das Trevas rodados usando uma tecnologia específica para essas salas (a câmera pesa 35 quilos, sendo essa uma das dificuldades). A condição para a resposta afirmativa seria uma vitória desse longa na categoria. O prêmio ficou com Quem Quer Ser um Milionário?.
Resposta: Não sei, mas creio que sim (não vamos nos prender à opinião da Academia).
* O mundo finalmente está preparado para Danny Boyle?
Tudo bem que essa pergunta era apenas uma chamada para a entrevista com o diretor, mas a consagração do longa indiano dirigido por um inglês é o suficiente. O argumento a favor de Boyle é justamente o fato dele usar seu talento para fazer filmes tão diferentes, como Cova Rasa (infelizmente nunca vi), Trainspotting - Sem Limites (sensacional), Extermínio (muito bom), Caiu do Céu (infelizmente nunca vi) e Sunshine - Alerta Solar (que é bom).
Resposta: Sim (e que venham outros filmes).
* Quem Quer Ser um Milionário? é um Bollywood autêntico?
A bola levantada por essa pergunta é justamente uma que eu levantei logo nos primeiros dias do blog, ao falar pela primeira vez sobre Slumdog Millionaire. Apesar de ser a indústria de cinema que mais fatura e atrai público no mundo, não conhecemos quase nenhum (eu então não conheço nenhum) longa da Índia. A reportagem diz que a maioria das produções de lá "tem cenas de canto e dança a cada 15 minutos, três horas de duração e uma narrativa chapa-branca em que a realidade da pobreza indiana fica de fora (e mocinho e mocinha nem se beijam!)".
Resposta: Não. Não tem cenas de dança (apenas no final, talvez numa homenagem a Bollywood) e a narrativa não é tão chapa-branca. Está mais para o setor independente de Hollywood (o que parece ser bom).
* O Curioso Caso de Benjamin Button é o longa mais estranho da história do Oscar?
As outras cinco opções são Brazil - O Filme, Quero Ser John Malkovich, Amnésia, Cidade dos Sonhos e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças. Com essa lista, o longa estrelado por Brad Pitt é o menos estranho, isso sim. Não existe nada mais bizarro que a produção de David Lynch, descrita perfeitamente na reportagem como "filme noir de tons surrealistas, bem a gosto do diretor, de narrativa hipnótica, onírica e trama aberta para horas de discussões em bares que, na verdade, não chegarão a lugar algum". Meu voto vai para Cidade dos Sonhos.
Resposta: Não.
* Button e Forrest Gump são a mesma pessoa?
A reportagem aponta as cinco principais semelhanças: deficiência, amor eterno, passagem pela guerra, o fato de serem filhos pródigos e os conselhos da mãe. Eu acho forçar a barra dizer que O Curioso Caso de Benjamin Button é "semelhante" a Forrest Gump - O Contador de Histórias (que é melhor). Você pode achar até coisas parecidas nas personalidades e nas trajetórias dos dois personagens, mas os roteiros têm enfoques e propostas completamente diferentes.
Resposta: Não.
* De bebê ator a segundo Oscar?
Ron Howard mereceu uma nota especial pelo fato de estar em sets de filmagens desde o início de sua vida. Como foi dito por mim nos comentários de Frost/Nixon, Howard foi bem sucedido em filmes autorais, blockbusters e os tais "feitos para o Oscar". Entre os cinco indicados, seu longa era o melhor.
Resposta: Não, o prêmio foi para Danny Boyle.
* O Richard Nixon de Frank Langella seria o melhor Presidente das telas?
As opções seriam Presidente Palmer (Dennis Haysbert - 24 Horas), Merkin Muffler (Peter Sellers - Dr. Fantástico), Richard Nixon (Anthony Hopkins - Nixon), Josiah Barlett (Martin Sheen - West Wing) e George W. Bush (o próprio - Fahrenheit 11 de Setembro). Cada argumento é melhor que o outro. Desses cinco, não vi justamente o Nixon de Hopkins, mas acho todas as explicações da reportagem para os quatro restantes corretas. Só para registrar, Kubrick é meu diretor favorito, mas não entendo porque elevar Dr. Fantástico a obra-prima. Ele é muito bom, mas não o vejo como uma das maiores comédias de todos os tempos.
Resposta: Sim (na minha humilde opinião). Assim como no caso de Heath Ledger, seria necessário um distanciamento histórico, mas me arrisco a dizer que sim.
* Sean Penn fará a Academia sair do armário?
A chamada para uma entrevista com o ator fala sobre a personalidade difícil do mesmo e Penn fez questão de citar isso quando agradeceu pelo prêmio ontem a noite. Durante a conversa o repórter fala de O Segredo de Brokeback Mountain, que por ter temática gay nunca foi assistido por alguns membros da Academia.
Resposta: Sim, já que o fato dele interprtetar um gay não o levou à derrota. Falta saber se não foi o motivo de sua vitória.
* Como um novato salvou Milk?
Essa pergunta é a mais complexa de todas e já contei um pouco disso nos meus comentários sobre Milk - A Voz da Igualdade. A resposta é baseada exclusivamente na minha opinião.
Resposta: Acredito que o amor dedicado por Dustin Lance Black a esse filme foi maior que o habitual pelo fato dele estar escrevendo sobre um de seus ídolos, um dos seus heróis.
* Estamos diante da ressureição de Mickey Rourke?
Resposta: Sim (Sean Penn fez questão de citar especificamente o ator e chamá-lo de amigo ao receber seu troféu).
* Estamos diante da ressureição de Robert Downey Jr.?
Resposta: Sim (depois de Homem de Ferro e Trovão Tropical, ambos sucesso de público e crítica em 2008, parece que Downey terá que fazer muita besteira para cair no ostracismo de novo).
* Estamos diante da ressureição de Marisa Tomei?
Resposta: Não sei (depois de boas atuações em Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto em 2007 e O Lutador em 2008, Tomei provou que sabe escolher bons projetos independentes ou menores - e que continua gostosa, já que ela usa bastante o corpo nos dois filmes. Mas dos três citados pela SET, ela é quem precisa provar ainda um pouco mais).
* Chegou a vez de Penélope Cruz?
Resposta: Sim (como já foi dito acima, não daria o prêmio a ela por Vicky Cristina Barcelona - sua performance em Volver, pelo contrario, é fantástica. Mas a Academia quis assim).
* Chegou a vez de Josh Brolin?
Resposta: Não (o ator está muito bem em Milk - A Voz da Igualdade, mas não foi o suficiente para superar a comoção mundial em cima de Heath Ledger).
* Casamentos são constrangedores para o Oscar?
Essa pergunta foi feita por uma das raras pessoas que achou O Casamento de Rachel um dos grandes longas de 2008. Para efeito de comparação foram citados alguns discursos constrangedores de padrinhos e noivas dos filmes Quatro Casamentos e um Funeral (reconhecido com uma indicação a melhor filme), Afinado no Amor e Dias Incríveis.
Resposta: Não sei (e não tem qualquer relevância isso).
* O recorde de indicações de Meryl Streep significa falta de opção em Hollywood?
Resposta: Sim (esse levantamento é muito pertinente. Acredito que as atuações femininas não têm sido no mesmo nível das masculinas nos últimos anos. Só que meu "sim" foi por anos anteriores. Em 2008 a indicação de Meryl Streep foi merecida e não "preguiçosa" como diz a reportagem. Tudo bem que Sally Hawkins de Simplesmente Feliz ficar de fora foi um absurdo - ela merecia vencer - mas a veterana atriz mandou muito bem esse ano).
* Philip Seymour Hoffman pode chegar ao patamar de Jack Nicholson?
Resposta: Acredito que sim (justamente pelos motivos elencados na reportagem: "além da juventude e carreira relativamente curta, Hoffman costuma escolher personagens que a Academia gosta de premiar: derrotados com moral duvidosa, excêntricos com traços de redenção, e homens que guardam segredos terríveis ou têm personalidade complexa, o que gera atuações memoráveis").
* A Broadway é aqui?
Justamente por conta das adaptações de peças de teatro (uma tendência que eu comentei em post passado, ao falar de Frost/Nixon), a reportagem cita Stephen Daldry (diretor de O Leitor), Peter Morgan (roteirista de Frost/Nixon) e John Patrick Shanley (diretor de Dúvida) como crias da Broadway que conseguiram indicações para o Oscar.
Resposta: Pelo visto, não (já que nenhum levou o prêmio pra casa).
* Como O Leitor roubou o lugar de Batman - O Cavaleiro das Trevas?
Resposta: Com uma forte campanha publicitária (o que é de se lamentar, já que tanto esse filme quanto Milk - A Voz da Igualdade não chegam aos pés de obras como Wall.E e o próprio Batman).
* Kate Winslet sabe a receita do Oscar?
A brincadeira é com o fato de que Winslet, ao participar da série Extras interpretando ela mesma, fala que ela precisava de um filme sobre nazistas e Segunda Guerra (no estilo A Lista de Schindler e O Pianista) para levar um prêmio, depois de cinco indicações.
Resposta: Sim (se bem que ela agora disse que vai escolher papéis em que não apareça nua).
* Angelina Jolie é tudo isso?
A reportagem cita O Preço da Coragem, Garota Interrompida e Gia (além de A Troca) em comparação com filmes de ação no estilo de Capitão Sky e o Mundo de Amanhã, O Prourado e Lara Croft: Tomb Raider.
Resposta: Sim (o fato da atriz fazer papéis em longas de ação, praticamente no piloto automático, não tira o brilho de grandes interpretações - e elas se acumulam a cada ano).
* Pixar manda na Academia?
Resposta: Sim (a Pixar nos últimos dez anos é a dona do gênero animação, sem dúvida).
* Batman - O Cavaleiro das Trevas foi o único esnobado?
Resposta: Não (a própria reportagem cita cinco filmes que eu não vi: Gran Torino, W, Deixa Ela Entrar, Sinédoque Nova York e Choke; e dois que eu vi: Homem de Ferro e Foi Apenas um Sonho. Venho falando que Batman e o longa de Leonardo di Caprio foram os maiores injustiçados há muito tempo).
* Valsa com Bashir ganha ou perde com a situação da Faixa de Gaza?
Engraçado que a reportagem falava do lançamento nos cinemas mundias, contando como certa a vitória na categoria melhor filme estrangeiro.
Resposta: Pelo visto, perdeu (será que os membros da Academia não quiseram entrar em polêmica num momento tão delicado?).
* Os novatos podem estragar a festa?
A reportagem cita Richard Jenkins (Aprendendo a Viver), Melissa Leo (Rio Congelado) e Michael Shannon (Foi Apenas um Sonho).
Resposta: Não.