sábado, 14 de novembro de 2009

Grand Hotel



Estreia - 11/09/1932 (nos EUA) Os créditos de Grand Hotel já revelam um elenco estelar (há relatos de tensões e quase conflitos entre tantos egos gigantes), naquele que talvez seja a primeira produção nesse sentido, juntando atores consagrados. Porém, o primeiro destaque dado pelo roteiro é ao porteiro que aguarda que sua mulher dê a luz. Depois, em rápida sequência dentro de cabines telefônicas, somos apresentados a alguns dos principais personagens da trama. Em seguida, a célebre frase "Grand Hotel... As pessoas vêm e vão e nunca acontece nada", proferida pelo Doutor interpretado por Lewis Stone.

O roteiro é uma adaptação de peça da Broadway de William A.Drake, que gerou quase 500 performances. A adaptação para os teatros da Alemanha, realizada por Vicki Baum também fez muito sucesso. Quase um esboço dos tão comentados e controversos filmes-mosaico, a gama de personagens apresentadas não se compara a longas como Magnólia e Short Cuts – Cenas da Vida. Porém, com roteiro centrado nos diálogos e interpretações cuidadosas, o filme se sustenta muito bem.

A fórmula seria muito utilizada (principalmente em comédias, sempre em um hotel) e aperfeiçoada, mas isso não diminui Grand Hotel, que foi produzido (apesar de ausente o devido crédito) pelo gênio Irving Thalberg, da primeira versão de Ben-Hur, A Divorciada, Tarzan - O Homem Macaco e que levaria os Irmãos Marx à sua melhor época com Uma Noite na Ópera e Um Dia nas Corridas. Além de Grand Hotel ele já havia produzido Melodia na Broadway e produziria outro vencedor do Oscar de melhor filme, O Grande Motim. Morreria com apenas 37 anos.

O destaque fica por conta de Otto Kringelein, magistralmente interpretado por Lionel Barrymore (Buster Keaton foi cogitado para o papel). O homem que descobre ter poucos dias de vida e decide torrar seu dinheiro no luxuoso hotel é sincero desde o início e responsável pelas melhores cenas. Claro que quando se tem Greta Garbo no elenco é difícil não destacá-la. Porém, sua Grusinskaya brilha sozinha, quase sempre em monólogos, interagindo pouco com os outros personagens. Com vinte minutos acontece sua primeira aparição, onde Garbo, em close, revela que "nunca esteve tão cansada na vida". A atriz, então com 26 anos, havia se destacado nos anos anteriores, sendo inclusive indicado ao Oscar em 1930 por dois filmes diferentes na mesma categoria. Ela só se cansaria mesmo uma década depois, quando abandonaria a carreira no auge. Outra frase dela iria para a lista das 100 maiores do cinema americano: "eu quero ficar sozinha", que achei menos “impactante”.

Com toques de ironia e boas tiradas (exemplo? "Não entendo nada de mulheres, estou casado a trinta anos”), a parte dramática de Grand Hotel fica em grande parte nas mãos de Greta Garbo. Um exemplo é quando a dançarina (uma maluca beleza, daquelas que todos conhecem), se nega a fazer seu número porque na noite anterior ela não havia sido aplaudida o suficiente. Nesses momentos o ar teatral pode cansar alguns espectadores. A coisa ganha corpo quando o Barão, vivido por John Barrymore (o único dos cinco a nunca ter sido indicado ao Oscar), tenta furtar as joias da dançarina. A prova do magnetismo que Greta Garbo (a única entre os indicados que nunca venceu o prêmio da Academia) exerce até hoje acontece nessa cena, em que a doida descobre o homem que queria roubar seus bens e vira amante e confidente.

O reflexo da crise de 1929 é mostrado nas negociações de uma fusão entre empresas do ramo têxtil. Wallace Berry é o diretor Preysing e Joan Crawford a bela estenografa. A atriz não dividiu qualquer cena com Greta Garbo, algo proposital para que uma grande estrela não ofuscasse outra. Talvez a parte menos interessante seja essa passagem da história. Apenas quando todo mundo se encontra em um baile no final do dia, é que a inserção da história de Preysing faz sentido. Ele é o chefe de Otto, que parecia estar saudável enquanto dançava com a estenografa - após árdua competição entre pretendentes. Só que ao ver o patrão e entender que sua exploração que o deixou doente abre-se a porta para umas das melhores cenas do filme.

Mesmo que a pessoa não goste de cinema antigo (um preconceito bobo, mas que infelizmente existe) ninguém pode alegar que Grand Hotel não seja simples de assistir, possuindo fluidez. Há excelentes cenas dramáticas, uma discussão sobre a moral de um ladrão (já que o Barão demonstra presença de escrúpulos quando desiste de mais um roubo) e a formação de uma interessante teia. Pode ser que o longa não se destaque em meio a tantos grandes filmes do mesmo gênero, bem como em meio a outros vencedores do Oscar de Melhor Filme (e a produção só foi indicada e venceu nessa categoria), mas tem seu valor. Tanto que no epílogo do filme, quando o porteiro reaparece falando do nascimento de seu filho, é que nos damos conta de que só se passaram dois dias de história.

Cinéfilos do mundo todo lamentam o fato do trailer original do longa ter se perdido. Porém, o grande destaque de uma sessão de Grand Hotel é a conclusão do personagem em "estado terminal", vivido por Lionel Barrymore (que não conto para não estragar). Coisas que ficam mais na memória. Coisas que fazem filmes como Grand Hotel, com o passar do tempo, virarem verdadeiros clássicos. Nota 7



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