quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Morte em Veneza




Estreia – 17/06/1971 – Para os radicais, os simplistas e os impacientes, Morte em Veneza será descrito como o filme de um homem que, após a perda da mulher e da filha, vaga pela Europa até descobrir sua homossexualidade ao se apaixonar por um adolescente. Ou seja, a temática gay de maneira mais velada do que o cinema atual e o toque de sensualidade juvenil típico de Lolita, outro filme baseado em outro livro essencial do século passado.

O livro de Thomas Mann, publicado em 1912 é (dizem) extremamente complexo e de difícil leitura. A produção de 1971, dirigida por Luchino Visconti, também requer total atenção do espectador, que na maioria das vezes opta por viajar por outros caminhos ao longo das duas horas e dez minutos, deixando Visconti e Mann falando sozinhos na sala.

O primeiro era, à época, diretor com quase 30 anos de carreira (indicado ao Oscar dois anos antes pelo roteiro de Os Deuses Malditos) e já tinha realizado suas obras mais conhecidas, como Rocco e Seus Irmãos, O Leopardo e Noites Brancas. Finalizaria apenas três outros filmes após Morte em Veneza, falecendo cinco anos depois. O segundo, que morreu quinze anos antes do início da produção, venceu o Nobel de Literatura em 1929 e, dizem, teve sua homossexualidade reprimida desde os quinze anos de idade, utilizando a escrita para exorcizar seus demônios.

Depois de encher você de três parágrafos de informações que nada dizem sobre o que achei sobre Morte em Veneza o caro leitor se pergunta: mas ele gostou ou não gostou do filme? Olha... Eu... Não gostei muito não. Há belas imagens, interpretação incrível de Dirk Bogarde (em papel que marcou sua carreira e quase foi de Burt Lancaster) e um ar contemplativo, intrigante e sensual que prende a atenção de quem não busca apenas entretenimento ao assistir um filme. Porém, uma produção desse tipo, com tudo para ser inesquecível, precisa ser arrebatadora.

Aliás, abro espaço para duas curiosas notas de produção. A primeira aconteceu na premiére do filme, quando Tom Couternay disse que Alec Guinness deveria ter interpretado Gustav, informando que com ele o público acreditaria que o protagonista era um grande compositor, imagem que ele não conseguia enxergar em Dirk Bogarde. Creio que Tom estava apenas puxando sardinha para aquele que deve ter virado seu amigo nas filmagens de Doutor Jivago, lá pelos idos de 1964. A outra nota fica por conta de uma declaração do ator Mark Burns que interpreta Alfred e, anos depois, contou que nunca entendeu o significado dos seus diálogos – que ironicamente achei os mais interessantes.

Quando Morte em Veneza merece aplausos apenas por ser correto e diante do fato de não divertir, mas também não despertar qualquer sentimento de forma mais latente, é sinal que a algo ali deixou a desejar. Porém, destaco a maneira como o protagonista Gustav é pintado logo nos primeiros dez minutos por Visconti, sem a necessidade de qualquer diálogo. O viajante profundamente abalado vai passeando por cenários (navio, gôndola, hotel, praia) enquanto poucos flashbacks abrem o leque e explicam o porquê da aflição daquele homem. Destaco também a incrível trilha sonora utilizada de forma brilhante durante todo o tempo.

Minha idéia era tratar do roteiro mais detalhadamente, até desmistificando um pouco Morte em Veneza e incentivando os poucos que se arriscam a ler meus textos a assistir. Creio que não é necessário alongar tanto assim o texto. Qualquer resenha ou sinopse do livro e do filme já conta que Gustav era um homem extremamente introspectivo, que criou um ideal de beleza e perfeição que só encontra na figura do garoto Tadzio, que além de bonito é afeminado e gosta de se insinuar para o coroa.

O tema difícil somado à temática polêmica fez com que Morte em Veneza fosse lembrado apenas na categoria Figurino do Oscar. Ironicamente o filme da “bicha velha” não emocionou tanto assim as “bichas velhas”. Porém, no Velho Continente a produção foi mais bem reconhecida com quatro BAFTAs (em categorias técnicas) e outras três indicações (filme, diretor e ator); indicação à Palma de Ouro em Cannes e um prêmio especial à Visconti dado pelos 25 anos deste Festival.

Eu sei que tenho que quase pedir desculpas por dar uma nota que muitos consideram baixa (eu considero nota de filme bom-muito bom) para filme tão badalado. Mas, minha opinião não é dada só para agradar, mas para retratar minhas impressões. Acho que Morte em Veneza poderia sim render mais, principalmente com uma atuação melhor de Björn Andrésen, que faz Tadzio e foi dublado (mesmo sendo característica do personagem o ar andrógino). Espero ter me expressado de maneira menos complexa que Mann e Visconti – mesmo sem ser nem um pouco brilhante. Nota 5


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