segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Cavalgada



Estreia – 15/04/1933 (nos EUA) – Os créditos iniciais entregam que o roteiro de Cavalgada conta a história de infelicidade e infortúnio de uma família sob os olhos de mães e filhas na Inglaterra do início do século XX (passagem de tempo que lembra Cimarron, transferindo a ação do Velho Oeste Americano para a terra da Rainha).

Na virada de 1899 para o ano 1900 os ingleses se preparavam para enviar um novo lote de soldados para a longínqua África do Sul em uma fase muito particular dessa nação. Aquele povo estava prestes a assistir os ex-colonizados do Novo Continente superar a ex-metrópole e se tornar a maior potência mundial. Todavia, naquele final de 1899, a maioria estava preocupada com os filhos, pais e maridos que caminhavam para mais uma guerra inútil.

Cavalgada é mais um dos vencedores do Oscar de Melhor Filme a pregar uma mensagem antibélica, criticando a falsa promessa do conflito breve para obter adesão popular, lição que foi muito bem passada em Sem Novidades no Front (que se utiliza o povo alemão). O sofrimento daqueles soldados que viajavam mais de quinze dias pelo mar só para chegarem ao local do conflito não é muito explorada, já que o roteiro cobre mais de trinta anos de História. Isso criou um corte interessante em Cavalgada: da bela e imponente cena de despedida dos soldados para o desespero das mulheres procurando nome de familiares na lista dos mortos, constantemente atualizadas.

O longa é mais uma adaptação de uma peça (que custou US$ 100 mil para o estúdio), com o diferencial de que boa parte da trilha utilizada foi trazida do teatro. E justamente um dos destaques de Cavalgada são as canções e melodias – muitas que qualquer espectador reconhece nos primeiros acordes. Pena que o filme foi pouco visto (a “Meca” dos portais de cinema, IMDB, não conseguiu juntar mil votos de internautas e You Tube não tem nenhum vídeo do filme), já que se trata de um dos primeiros exemplares do “cinemão” de Hollywood: takes grandiosos com trilha marcante, momentos de música e dança muito bem realizados e por aí vai.

Talvez o principal responsável por esse excelente resultado seja o diretor Frank Lloyd, que já estava ambientado com aquilo que o público americano queria ver no cinema, sendo Cavalgada seu 115º trabalho como diretor. Ele venceria seu segundo Oscar na carreira por este filme (o primeiro foi conquistado em 1930 por A Divina Dama) e seria lembrado mais uma vez dois anos depois por O Grande Motim (que venceria na categoria principal). Cavalgada ainda venceria Oscar de Direção de Arte e renderia uma indicação para a atriz Dyana Wynyard (Jane Marryot) – que é o centro dos acontecimentos e outro destaque da história. Quem também merece ser citado é o ator Clive Brook, já veterano à época, com 80 trabalhos no cinema.

A guerra com a África do Sul, como sempre, se arrasta. O retorno dos soldados puxa o drama para a roda e algumas cenas menores fazem o ritmo de Cavalgada cair um pouco. O corte para 1908 mostra o veterano de guerra alcoólatra naquele que seria o primeiro de muitas vítimas indiretas dos tempos de violência pela qual passava a Europa. Já em 1912 o casal em lua-de-mel inicia uma interessante discussão questionando a eternidade do amor e do casamento (moderno para a época, não?). Porém, uma revelação quando os dois saem de cena deve ter arrancado suspiros dos espectadores no cimema.

Claro que o miolo do filme serve apenas para ligar a batalha inicial entre a Inglaterra e África do Sul com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Aos poucos Cavalgada vai crescendo de novo, mostrando o desenvolvimento bélico revolucionário (da espada para o revólver) e passando a limpo anos de importantes transformações que levariam, no final da década de 1930, a outra leva de mudanças permeada por sangrentas batalhas.

Há, porém, uma cena que se destaca das demais. A mãe recebendo a notícia da morte do filho e do fim da guerra, caminhando no meio da rua em um misto de emoções é inesquecível. A chegada da crise econômica abre espaço para uma linda canção, interpretada pela atriz Ursula Jeans no papel de Fanny Bridges. A música, em tom pessimista e forte, questiona o porquê do século XX se mostrar tão sombrio e triste nas duas primeiras décadas.

Outro ponto positivo é a utilização da maquiagem de envelhecimento dos atores, técnica que Hollywood sempre gostou de utilizar. Porém, a cereja do bolo (e sempre tem a cereja do bolo nos clássicos) acontece na virada de 1932 para 1933, quando a protagonista Jane Marryot faz um brinde ao futuro e ao passado de glórias e tristezas da Inglaterra. A fala final, voltada para o público, olhando fixamente a câmera, é linda e levanta a auto-estima de qualquer um que duvide de seu país. É quase uma demonstração de gratidão dos Estados Unidos ao povo que ajudou a molda-lo.

O roteiro de Cavalgada poderia ter um tom mais otimista. Todavia, as imagens do progresso (carros, aviões) podem ser interpretadas como uma boa forma de utilizar a constante evolução do mundo de forma positiva. A frase final, quase uma atualização da Igualdade, Liberdade e Fraternidade da Revolução Francesa, nunca foi seguida: dignidade, grandeza e paz. Mais uma vez ninguém aprenderia a lição. Pelo menos ganhamos outro grande filme. Nota 8

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