segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cimarron (1931)



Estreia - 9/2/1931 (nos EUA) - Realmente o cinema americano estava engatinhando em 1931, mas já dava para perceber que eles nasceram com o dom de criar grandes espetáculos. A primeira versão de Cimarron é um reflexo da sociedade da época (pós-crack da Bolsa de Valores) e você percebe que os estereótipos de negros escravos e índios burros ou ladrões ainda estão lá, ainda sem uma preocupação com o politicamente correto. Dizem que a refilmagem de 1960 estrelada por Glenn Ford é superior. Ambos são adaptações de livro de Edna Ferber, autora de outras obras que se tornariam clássicos do cinema americano como O Barco do Amor, Assim Caminha da Humanidade e Jantar às Oito.

Em 1930 o estúdio desembolsou US$ 125 mil para comprar os diretos de Cimarron, um recorde absoluto na época. O longa foi o primeiro faroeste a vencer o Oscar na categoria Melhor Filme e divide essa honra com Os Imperdoáveis, já que a Academia passou ao largo do auge do gênero nos anos 1940 e 1950. Além dessa, o filme venceu nas categorias Roteiro Adaptado e Direção de Arte, sendo indicado em mais quatro categorias (Diretor – Wesley Ruggles, Ator – Richard Dix, Atriz – Irene Dunne e Fotografia). O problema é que eu não consigo gostar muito de filmes de faroeste, sendo raras as produções que me agradem por completo (exemplos óbvios: Butch Cassidy e Sundance Kid, Três Homens em Conflito, Rastros de Ódio e o não-tão-óbvio Onde Começa o Inferno). A primeira versão de Cimarron, porém, não me enche os olhos.

Não sei se é porque retrata uma sociedade altamente improdutiva, que só queria beber, andar de cavalo e sair dando tiro por aí. Eles não tinham teatro, biblioteca, nada. Não sei se a inserção de dramas no meio da ação deixa alguns filmes arrastados demais. Tudo bem que Cimarron mostra o poder de organização que aquelas pessoas tiveram. Sem ajuda do Governo nem nada, eles conseguiram montar suas cidades, definir suas leis e evoluírem (mas também eram bárbaros ao extremo, em alguns momentos). Só que eu acho essa coisa de Velho Oeste faroeste muito chata.

Algumas imperfeições são claras no filme, já que eles ainda estavam se acostumando com a chegada do som no cinema. Nas cenas em que tem trilha sonora esta é interrompida (não tem seqüência) entre um take e outro. Os atores fazem caras e bocas terríveis (não sei como o protagonista Richard Dix conseguiu ser indicado ao Oscar de Melhor Ator, em alguns momentos dramáticos parece que estou diante de uma comédia). O diretor Wesley Ruggles (que não sei porque não foi creditado) possuía larga experiência no cinema mudo com mais de oitenta trabalhos. Dez anos depois ele realizaria outro famoso faroeste, Arizona, com William Holden e Jean Arthur, já mais ambientado ao cinema falado.

O elenco é liderado por uma Irene Dunne no início de sua prestigiosa carreira – Cimarron é seu segundo longa e a primeira das cinco indicações que recebeu (todas como atriz principal, incluindo uma pelo clássico Cupido é Moleque Teimoso). Já Richard Dix naquele momento começava sua fase de estrela maior do estúdio RKO. Porém, com exatos cem trabalhos como ator em breves trinta anos de carreira, pouco se lembra hoje do astro.

Quando um período da narração sofre um salto sempre vem acompanhado de um “texto explicativo”, como se procedia com os filmes mudos. Os roteiristas deviam ser os mesmos, portanto, desacostumados com um texto só de falas. Todavia, as cenas de ação do início do filme são realmente impressionantes para a época. Demorou uma semana para ser filmada e contou com 5.000 figurantes e 28 câmeras, mostrando a mania de grandeza que Hollywood começava a desenvolver. Tem um “quê” de valor histórico, até meio documental, muito interessante, pois a história vai dos últimos vinte anos do século XIX até 1930 (um ano antes do lançamento do filme). Porém, algumas cenas são longas demais (externas eram luxo naquela época), o que faz o filme parecer uma peça de teatro em alguns momentos.

As mulheres têm papéis importantes. A prostituição é tratada diretamente, mas não é citada, por incrível que pareça. Tem que ter uma boa percepção, principalmente a geração de hoje que está acostumada com tudo mastigado. Porém, a presença feminina na política já é motivada por essa fita, de quase oitenta anos atrás – algo interessante, pois só em 2008 os EUA tiveram uma chance real de ver uma mulher como Presidente da República.

Mesmo com tanta pompa e vencendo o prêmio máximo do cinema, Cimarron gerou um prejuízo ao estúdio R.K.O. de US$ 5,5 milhões (o que pela atualização inflacionária equivaleria hoje a US$ 58 milhões). Até hoje é a única produção vencedora do Oscar de Melhor Filme a ter trazido prejuízo a seus realizadores, mesmo com excelentes críticas na época. Um reflexo da Grande Depressão, que detonou com o bolso do público norte-americano. Também foi o primeiro a ter alcançado o feito de obter indicações nas cinco categorias principais (Filme, Diretor, Ator, Atriz e Roteiro). Aliás, o único da R.K.O. a ter o prêmio máximo, já que o estúdio apenas distribuiu Os Melhores Anos de Nossas Vidas em 1946 (produção de Samuel Goldwyn).

Se julgasse o longa na sua época creio que este ganharia de 7 para cima. Mas, como eu tenho que tratar todos os filmes igualmente, minha nota é 5. Não consigo achar esse faroeste tão interessante. A nota pode parecer baixa para um vencedor do Oscar, mas é justa. Nota 5



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Um comentário:

Doug disse...

Jorge, parabéns pela percepção acurada quanto aos fatos. Cimarron pode até ter feito história a sua época, mas hoje é o tipo de filme que você não recomendaria nem ao pior inimigo. Os erros são tão grosseiros (o ator Richard Dix é simplesmente péssimo!) que a qualidade de algumas cenas não reforça uma valorização do filme. Não dá para recomendar um filme assim o que é uma pena... mas sempre existirá aqueles aventureiros como nós que sempre encaram qualquer filme sem medo do que virá.
Parabéns pelo blog... e até mais.