Estreia – 30/06/1989 – Faça a Coisa Certa, inspirado em um evento real e com título inspirado em frase de Malcom X, é um filme que dialoga pouco com o público brasileiro. Aliás, o longa que revelou ao mundo Spike Lee (indicado ao Oscar de Melhor Roteiro) é puro cinema americano para os americanos – apesar de Cannes ter listado a produção entre as indicados à Palma de Ouro. Há pontas de início de carreira de Samuel L. Jackson, Rosie Perez (em sua única cena de nudez, já que a mesma se negou a repetir a experiência na carreira) e Martin Lawrence.
O roteiro situa o espectador na pobre região do Brooklyn, na Nova Iorque do final da década de 1980 no dia mais quente do ano. Negros, hispânicos, asiáticos e italianos vivem em constante tensão enquanto racionam água e luz. Spike Lee, mesclando a história com o som do hip-hop, pinta a rotina de diversos personagens nos primeiros minutos de Faça a Coisa Certa, tornando o filme pouco interessante para aqueles que nada sabem sobre ele, desconhecendo sua importância. Mesmo assim é inegável a excelente direção do ora novato, incluindo cenas com diálogos inteiros improvisados (os maiores exemplos são as cenas do trio de negros de meia-idade que conversam na calçada, trazendo um toque de humor a Faça a Cosia Certa).
Porém, quando a história se foca na Pizzaria do Sal (Dannny Aiello, indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em papel que não foi aceito por Robert de Niro) por volta dos quinze minutos, é possível traçar de maneira mais objetiva o que pretende o diretor e roteirista. Quando um dos clientes da pizzaria de propriedade de italianos, mas freqüentada exclusivamente pelos negros questiona a “parede da fama” do local, abre-se a porta da discussão racial.
Sal se orgulha dos descendentes de italianos que venceram na América, como Al Pacino, Robert de Niro e John Travolta, mas uma voz da comunidade local começa a questionar o porquê de limitar a homenagem a apenas um dos grupos de imigrantes, já que na região diversas etnias convivem harmoniosamente sendo os negros, inclusive, maioria.
Os dois filhos de Sal se dividem: enquanto o mais velho deseja se mudar do Brooklyn e não se envolver mais com negros, o mais novo se mostra mais compreensivo, fazendo amizade com Mookie, o entregador de pizzas negro, interpretado pelo próprio Spike Lee e responsável por ligar as pontas da história (para ao final rompê-las de maneira abrupta).
O grande mérito de Lee foi levar os problemas de seus pares à tela grande de maneira atraente. É o típico “filme-símbolo”, com personagens e trilha que não sairá fácil da memória de quem assiste (principalmente Fight The Power, do Public Enemy). O reflexo se encontra na cultura pop atual, que investe grande parte de suas energias em artistas negros, principalmente na música. Faça a Coisa Certa possui roteiro dinâmico, é simpático, mas talvez tenha envelhecido para o grande público, que talvez não o considere tão atraente.
Destaco Ossie Davis no papel de Prefeito e os fortes argumentos a favor dos negros embutidos no roteiro, como no momento em que Mookie convence o filho mais velho de Sal, Pino (John Turturro, em papel que Lee queria que fosse de Matt Dillon), de que grandes referências modernas – não só culturais – são de pessoas de cor, como Nelson Mandela, Michael Jordan, Eddie Murphy e Michael Jackson.
Mas não espere uma história que retrate negros apenas como segregados e injustiçados. Spike Lee se preocupa em apontar alguns defeitos, cutucando a própria ferida. O principal deles é a falta de mobilização, como uma espécie de acomodação com o preconceito que neles recai. Percebe-se isso no boicote proposto por Buggin’ Out (Giancarlo Espósito, que ironicamente descende de italianos) que só consegue a adesão de duas pessoas. É deste personagem o famoso bordão “continue preto”. Mesmo sem qualquer perspectiva, a maioria dos abastados ali não procura uma mudança efetiva.
Porém, a ausência daquele diálogo que seria aberto com o tal boicote gera uma conclusão surpreendente do roteiro. A princípio, Spike Lee pode parecer instigar o ódio, mas sua mensagem ao fim entrega a interpretação que o diretor busca: mostrar um extremo para provocar uma reflexão. Vinte anos após o lançamento, observa-se facilmente como a cultura hip-hop e os anseios do povo que a criou restam-se totalmente descaracterizados. Como disse no início, Faça a Coisa Certa não dialoga com o público a qual me insiro, mas é perfeitamente possível admirar tal filme. Nota 7
O roteiro situa o espectador na pobre região do Brooklyn, na Nova Iorque do final da década de 1980 no dia mais quente do ano. Negros, hispânicos, asiáticos e italianos vivem em constante tensão enquanto racionam água e luz. Spike Lee, mesclando a história com o som do hip-hop, pinta a rotina de diversos personagens nos primeiros minutos de Faça a Coisa Certa, tornando o filme pouco interessante para aqueles que nada sabem sobre ele, desconhecendo sua importância. Mesmo assim é inegável a excelente direção do ora novato, incluindo cenas com diálogos inteiros improvisados (os maiores exemplos são as cenas do trio de negros de meia-idade que conversam na calçada, trazendo um toque de humor a Faça a Cosia Certa).
Porém, quando a história se foca na Pizzaria do Sal (Dannny Aiello, indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em papel que não foi aceito por Robert de Niro) por volta dos quinze minutos, é possível traçar de maneira mais objetiva o que pretende o diretor e roteirista. Quando um dos clientes da pizzaria de propriedade de italianos, mas freqüentada exclusivamente pelos negros questiona a “parede da fama” do local, abre-se a porta da discussão racial.
Sal se orgulha dos descendentes de italianos que venceram na América, como Al Pacino, Robert de Niro e John Travolta, mas uma voz da comunidade local começa a questionar o porquê de limitar a homenagem a apenas um dos grupos de imigrantes, já que na região diversas etnias convivem harmoniosamente sendo os negros, inclusive, maioria.
Os dois filhos de Sal se dividem: enquanto o mais velho deseja se mudar do Brooklyn e não se envolver mais com negros, o mais novo se mostra mais compreensivo, fazendo amizade com Mookie, o entregador de pizzas negro, interpretado pelo próprio Spike Lee e responsável por ligar as pontas da história (para ao final rompê-las de maneira abrupta).
O grande mérito de Lee foi levar os problemas de seus pares à tela grande de maneira atraente. É o típico “filme-símbolo”, com personagens e trilha que não sairá fácil da memória de quem assiste (principalmente Fight The Power, do Public Enemy). O reflexo se encontra na cultura pop atual, que investe grande parte de suas energias em artistas negros, principalmente na música. Faça a Coisa Certa possui roteiro dinâmico, é simpático, mas talvez tenha envelhecido para o grande público, que talvez não o considere tão atraente.
Destaco Ossie Davis no papel de Prefeito e os fortes argumentos a favor dos negros embutidos no roteiro, como no momento em que Mookie convence o filho mais velho de Sal, Pino (John Turturro, em papel que Lee queria que fosse de Matt Dillon), de que grandes referências modernas – não só culturais – são de pessoas de cor, como Nelson Mandela, Michael Jordan, Eddie Murphy e Michael Jackson.
Mas não espere uma história que retrate negros apenas como segregados e injustiçados. Spike Lee se preocupa em apontar alguns defeitos, cutucando a própria ferida. O principal deles é a falta de mobilização, como uma espécie de acomodação com o preconceito que neles recai. Percebe-se isso no boicote proposto por Buggin’ Out (Giancarlo Espósito, que ironicamente descende de italianos) que só consegue a adesão de duas pessoas. É deste personagem o famoso bordão “continue preto”. Mesmo sem qualquer perspectiva, a maioria dos abastados ali não procura uma mudança efetiva.
Porém, a ausência daquele diálogo que seria aberto com o tal boicote gera uma conclusão surpreendente do roteiro. A princípio, Spike Lee pode parecer instigar o ódio, mas sua mensagem ao fim entrega a interpretação que o diretor busca: mostrar um extremo para provocar uma reflexão. Vinte anos após o lançamento, observa-se facilmente como a cultura hip-hop e os anseios do povo que a criou restam-se totalmente descaracterizados. Como disse no início, Faça a Coisa Certa não dialoga com o público a qual me insiro, mas é perfeitamente possível admirar tal filme. Nota 7
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Total de filmes do blog: 124
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