A maratona começou! Com a proximidade da lista final do Oscar, os cinéfilos do mundo todo se voltam aos filmes que provavelmente garantirão algumas indicações. Isso ocorre com O Curioso Caso de Benjamim Button, produção que tem feito frente ao favoritismo de Slumdog Millionaire. Ontem eu conferi e reservo o post de hoje para o longo longa de David Fincher, mais uma para a lista de 2009.
Estreia - 16/1 - Chegou o grande dia, aquele em que finalmente assistiria o filme orçado em 150 milhões de dólares que é a menina-dos-olhos de Davind Fincher, um dos grandes diretores da atualidade. A premissa do roteiro se espalhou pelo mundo como a fantástica ideia de um homem que nasce velho e ao longo da vida vai rejuvenescendo (F. Scott Fitzgerald, que escreveu o conto, se inspirou numa frase de Mark Twain). Muita coisa rolou para que a trajetória de Benjamim Button pudesse virar uma realidade nos cinemas. No início da década de 1990 quase vimos Steven Spielberg dirigindo Tom Cruise no papel principal. Em 1998 chegaram a anunciar que Ron Howard seria o diretor e John Travolta o protagonista (e são duas coisas das quais eu voltarei depois). Spike Jonze também quis levar o conto para a telona e Rachel Weisz só não fez o papel de Cate Blanchett por conflitos de agenda. E foi com esse espírito que eu entrei no cinema.
Apesar de longo, pouca coisa precisa ser falada sobre O Curioso Caso de Benjamim Button. Tudo está ali, muito bem construído. O início de sua vida, com a rejeição do pai e sua criação por uma mãe adotiva negra que morava numa casa de repouso tem o claro propósito de contar a história num ritmo particularmente lento. Ao mesmo tempo em que entendo a intenção dos realizadores de filmes densos, que brigam sempre pelos prêmios mais importantes, eu me preocupo que longas com essa proposta afaste público. Eu já ouvi gente dizendo que O Curioso Caso de Benjamim Button é ruim e sei que uma pessoa não pode estar falando isso baseado em coisas que realmente fazem um filme ser ruim. Ele é tecnicamente perfeito, as interpretações são extraordinárias, o roteiro é diferente de tudo o que já passou pelos cinemas. Ele só tem o porém de ser lento apesar de, menos mal, não se prolongar nas cenas e ter um certo bom humor. Fico feliz com a boa aceitação das pessoas mais próximas e com a bilheteria alta para o tipo de filme (se bem que David Fincher atrai muita gente - não atraiu em Zodíaco).
Voltando à história em si, é interessante a forma como Button tenta viver sua vida nos primeiros dez, quinze anos. Para quem pensa que é fantástico nascer velho e morrer novo, perceba que o personagem está com o corpo debilitado e a mente de uma criança e não tem coisa pior do que isso. É uma pessoa em formação com deficiências da idade. Talvez por isso que Button trate a morte com uma naturalidade assustadora (ele recebe notícias de que amigos dele acabam de morrer o tempo todo). O roteiro se prende à primeira metade da vida dele com uma força de alguém que diz que Button não pode ser feliz por completo já que ele simplesmente não é normal e vai morrer de uma forma absurda. A depressão dele é de quem leva a vida sabendo a hora exata da morte.
Mas o sensacional mesmo é a fase em que ele está com a mente de uma pessoa de vinte anos e o corpo de um cinquentão (tudo bem, admito que é um Brad Pitt cinquentão). Ao expandir seu horizontes para além do asilo, Button vai conhecendo pessoas que o tratam como alguém experiente, mal sabendo que são coisas que ele ainda tem que descobrir (o trabalho, o sexo, o trato com o dinheiro, a amizade com gente que não está velho esperando a morte). Essa é uma fase dura mas fundamental para ele, que entenderá como um homem mais jovem deve se comportar. E é nessa hora que o amor dele por Daisy, menina que conheceu quando era considerado um velho, vai se tornando possível. Sobre Cate Blanchett, sem comentários: ela é perfeita em qualquer papel e é mais um para sua lista de personagens inesquecíveis. Geralmente eu não gosto dos atores fazendo papel de pessoas muito velhas, mas o que Cate faz, permeando o filme todo no seu leito de morte, é sensacional.
Sobre Brad Pitt, devo me alongar. Juro que enquanto assistia O Curioso Caso de Benjamim Button eu pensava estar vendo o papel da vida dele (e ele fez muito bem em exigir sua interpretação em todas as fases do protagonista). Mas o que ele já fez na carreira me permite duvidar dessa afirmação. Não adianta negar que ele é um grande ator. É o mesmo cara que fez, na ordem, Lendas da Paixão, Se7en, Os Doze Macacos, Sleepers, Sete Anos no Tibet, Clube da Luta, Tróia e O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford e em todas essas vezes a gente pensava que aquele era o papel da carreira de Brad Pitt (ano passado exigiam uma indicação para ele por Jesse James). Está na hora de um merecido reconhecimento. Mickey Rourke e Sean Penn podem ter saído na frente, mas tem sim chance dele vencer o prêmio máximo do cinema. O ator poderia entregar uma atuação piegas, ou então melancólica ao extremo para que nos provocasse pena. Porém, Pitt atua na medida certa.
Aí você vai me perguntar: o filme é perfeito? Sim e não. Não dá pra falar mal do roteiro, dos efeitos, das atuações, do diretor. Ninguém consegue. Mas falta emoção um pouco. A tristeza dos primeiros anos não se refletiu lá na frente (e não entro em detalhes para não estragar o filme). A história vai muito bem, mas há momentos em que não se vê a grandiosidade de um longa inesquecível, arrebatador, que provoca em você um turbilhão de sentimentos. Eu sei que são poucos filmes assim, mas esperava que O Curioso Caso de Benjamim Button fosse um deles. A preocupação de entregar um longa sem erros não deu ao espectador a proximidade que grandes filmes geralmente trazem. Ele não tem aquele brilho dos recentes Na Natureza Selvagem ou Sangue Negro.
Quando lá no início me interessei pelo fato de que Spielberg quis dirigir a história no início da década de 1990, é porque ele é o mestre em criar esse tipo de coisa. Talvez exagere algumas vezes, mas pense em A Lista de Schindler. Aliás, pense no que Robert Zemeckis fez em Forrest Gump (que muitos gostam de comparar com Benjamim Button porque vai contextualizando historicamente: 1ª Guerra, 2ª Guerra, anos 60). Não preciso dizer mais nada. Já Ron Howard faria parecido com Fincher, mas talvez sem a mesma qualidade técnica. Os filmes dele raramente emocionam (a óbvia exceção é Uma Mente Brihante), mas gostaria de ter visto Travolta de Benjamim Button. Pensar em Spielberg como procutor e o próprio Fincher dirigindo não me sai da cabeça.
A nota engraçada é que Danny Boyle, diretor de Slumdog Millionaire, adiou seu projeto chamado Solomon Grundy, que dizem ser muito parecido com esse aqui. E pode ser justamente Boyle a tirar o Oscar de filme e de diretor das mãos de Fincher.
Eu saí do cinema satisfeito (e dizendo isso agora acrescento mais um ponto na nota. Acordei rígido demais hoje, mas melhorei). Mas é importante que se diga que O Curioso Caso de Benjamim Button é um filme preocupado em falar da morte (e tem gente que não gosta disso). Veja o que acontece com as pessoas, os objetos e as lembranças ao final. Só que também é importante reconhecer que a insistência dos grandes diretores e dos grande filmes em falar sobre a morte é a melhor maneira de se celebrar a vida de verdade que existe do lado de fora da tela. Nota 9
2 comentários:
Ja vi a troca.. nao é tao bom quanto o curioso caso...mas é iguamente bem feito!!!
ps: adorei nosso dia ontem
bjs
Cara...
Eu fiquei curioso com o "Curioso..." mas tipo... num tenho saco pra filme lento não. Quer dizer, a não ser que a história te prenda, eu vou acabar perdendo a paciência com o filme. E vem cá o filme pe longo também? Acho que vou esperar sair em DVD.
Ps: Post sobre lost? Acredita que até hoje eu não vi nenhum episódio de nenhuma temporada? hehehe
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